Jorge Lúcio de Campos
7 + 1, de Guilherme Zarvos e outros
A coletânea 7 + 1 - que assim se chama
por confluir os trabalhos de sete poetas (Fernando Santoro, Michel
Melamed, Guilherme Zarvos - que é também o seu organizador - Alberto
Pucheu, Viviane Mosé, Pedro Amaral e Guilherme Levi) e de uma tríade
composta por um designer de capa (Marcus Moraes), um fotógrafo
(Daniel Mattar) e um cartunista (André Brito) - revela-se preciosa
sobretudo por nos ensejar uma boa amostra de como tem sido
pensado e praticado o ofício poético fora do circuito acadêmico e,
portanto, ainda longe de um ranço institucional propriamente dito.
Cinco de seus participantes possuem
menos de trinta anos, sendo quase todos (a exceção é Pucheu)
oriundos do CEP20.000 - "evento performático (e esteticamente
filiado à poesia marginal setentista) que há sete anos lota o espaço
cultural Sergio Porto, no Humaitá, reunindo atores, escritores,
poetas e músicos" - como bem divulga a editora Francisco Alves.
Trata-se, por conseguinte, de uma dicção ainda in progress, mas que,
nem por isso, se furta a momentos de grande maturidade como os
proporcionados pelos instigantes 'Rebecca' de Melamed ("Há um barco
no mar/e só/ha um barco no mar/porque há/mar/Senão/seria apenas um
barco no ar/Há um barco no ar/Porque se não houvesse ar/seria
só um barco/só um homem num barco/só um homem sufocando num barco");
'Azul' de Zarvos ("Cores mudam gente/Cores mudam casa/Mudam até a
cor da cor da caneta/Se eu tivesse que nascer de novo/Seria uma
cor:/Talvez verde...azul...não sei/Acho que até vermelho, amarelo/Ou
cinza para sempre. A idéia de/Ser azul ou verde na próxima encar-/nação
não me parece má"); e 'Apreciação' de Amaral ("O biquini
convida/A brincar de esconder -/Ele chama, ele instiga/A gente a
percorrer//No rasto da malícia,/A ligeira divisa/Entre o casto e a
delícia,/Entre ver e não ver.//Lúdico, elucida/Ao menino que o
vê/Desde onde a vida -/Desde onde, e por quê"). Isso contar com a
prosa crua de Mosé ('Ana', 'Carta'), os perturbadores insights
citadinos de Pucheu ('Na cidade aberta', 'A fronteira
desguarnecida'), etc. etc.
Apesar da constatação de alguns
percalços - mais do que previsíveis em se tratando, como foi dito,
de poetas ainda muito jovens - fica a impressão de que o grupo
funciona bem como uma antena de nosso momento contemporâneo
(marcado, ao que tudo indica, por um flerte, cada vez mais
recorrente, com o 'entre' e a indefinição discursiva).
Aparentemente, a nossa poesia volta a] querer se comunicar (sem
abrir mão agora, é claro, do apuro formal e da cultura do
imaginário). Nada mais saudável para uma prática que, após um
hercúleo esforço construtivo (antes necessariamente
transgressivo) e participativo - e que em muito a fortaleceu, de
Oswald a Ana Cristina Cesar, sem, no entanto, conseguir livrá-la do
anátema da indiferença! - ora se vê às voltas com uma espécie de
índole repertorial que, se por um lado (em seus momentos mais
'altos') ajuda a rejuvenecê-la através do culto às interfaces, pelo
outro (em seus momentos mais 'baixos') leva-a a derrapar amiúde em
soluções comprometedoras (como a do citacionismo fácil, por
exemplo), o que talvez justificaria, mesmo que parcialmente, a sua
condenável, mas compreensível, tendência ao solipsismo.
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