Marília Gonçalves
Biografia:
Nasci em Lisboa 1947,
na avenida da República.
Menina comecei a dizer
poesia fui notada na escola, pela directora, senhora de tendência
republicana (assim se dizia na época, o que era dizer muito já)
convidada a festas locais, declamava igualmente em todos os
aniversários ; um dos primeiros poemas que disse foi «A Balada da
Neve» de Augusto Gil,( mas as crianças Senhor, porque lhes dais
tanta dor, porque padecem assim) do mesmo poeta e quase na mesma
época disse também «O Fiozinho da Fonte» e ainda hoje a minha grande
dúvida sobre a existência de Deus vem do sofrimento das crianças.
Com cerca de doze anos
era muito menina quando certa tarde ao voltar do liceu deparei em
vendedor fortuito, numa bancada de livros usados com livro de banda
desenhada de edição brasileira, sobre Castro Alves, sua obra
poética, sua vida, sua obra humana . Na primeira adolescência,
nascida em família antifascista, em pleno salazarismo, e guerra
colonial, como ficar alheia ao todo generoso de Castro Alves. Com
ele aprendi a força da palavra, eu que dizia poesia desde muito
menina, seleccionando sempre poemas com sentido de fraternidade e
libertação, compreendi, melhor que nunca, a força da poesia. Hoje
mulher, poeta, não esqueço minha veemente paixão pelo menino poeta
libertador de escravos. Castro Alves não foi apenas grande poeta,
embora menino foi um grande homem. E ainda hoje ao visitar os sites
que lhe fazem referência os meus olhos marejam-se, e a mesma voz que
ouvi menina balbucia: meu amor.
Vim para França em 62,
para preparar a vinda de meu pai, eis preso político perseguido pela
pide, aqui comecei a trabalhar aos14 anos.
Mais tarde na
Associação dos Originários de Portugal disse poesia, Nesse mesmo
palco onde Luís Cília empunhando guitarra, denunciava a guerra
colonial
Fui militante
anti-Salazar no Bidonville De St Denis, (amarga escola, o sofrimento
de irmãos, e das crianças, acima de tudo, o delas)
Com 19 anos casei e
voltei a Portugal . Aos vinte anos morreu o meu primeiro filho logo
após o nascimento.
Em 73 Fiz parte da
direcção do Círculo Cultural do Algarve
Em 1977 por razões de
saúde de um filho, viemos para Paris e por aqui ficámos. Vim a Fazer
parte do Rádio Clube Português de Villejuif, Voltei ao palco em
espectáculos onde eram actuantes principais Paco Bandeira, Carlos do
Carmo, Arlindo de Carvalho, compositor para quem escrevo
poemas-letra de canções. Tenho 3 filhas e um filho, que adoro.
Tento saborear a vida
no que vai dando de bom e mau, para avançar em mim, mas contemplação
de paisagem de alta beleza, pode transformar meu estado de espírito
e levar-me a verdadeiro júbilo.
Em 1985 faleceu meu
pai, esse extraordinário filtro de humanidade, que sempre o mundo me
parecia mais belo e são, enquanto existiu.
De temperamento
anarquista, o meu amor pelo próximo é meu autocontrole e acima de
tudo esta esperança-herança, a mais valiosa que meu pai me
transmitiu, de que o ser humano, leve o tempo que levar, acabará por
encontrar a sua via. E será finalmente fraterno e bom.
Marília Gonçalves
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