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Lena Jesus Ponte



3. Outros percursos

 

 

Além da poesia, da crônica, do conto e da literatura infantil, Wanderlino Teixeira Leite Netto incursionou por outras áreas: a biografia, a pesquisa histórica e o ensaio.

3.1. Em 1993, trouxe a público Ambição do pingo d´água – viagem ao redor de Jacy Pacheco – mais que uma biografia, um passeio de afeto pela vida e pela obra desse escritor fluminense, natural de Monerá, distrito de Duas Barras. Nessa obra, entre outros dados biográficos, Wanderlino relata a infância e a adolescência de Jacy, o noivado epistolar, a luta pela sobrevivência, as dificuldades da primeira publicação. Acima de tudo, revela o poeta eclético e criativo, que soube transitar competente e sensivelmente tanto pelas formas fixas quanto pelo verso livre e ousou brincar com a métrica num gênero tão convencional como o soneto, no qual demonstrou mestria não só nas rupturas ao cânone como também na elaboração de uma complexa coroa de sonetos.

Wanderlino mostra a importância desse poeta na vida literária de Niterói, a atuação dele na Academia Niteroiense de Letras (ANL), o reconhecimento de sua obra por parte de seus pares. No perfil de Jacy, avulta o homem sério mas não sisudo, que cultuou o lirismo e a paródia, a reflexão e a crítica, a prosa e a poesia. De certa forma, aproximou-se da “geração de mimeógrafo” (década de 1970), no sentido de haver publicado artesanalmente alguns de seus livros pela sua “Edições Brinquedo”.

Livro rico de informações, documentos e material iconográfico, é homenagem merecida que Wanderlino presta ao seu padrinho na ANL: “Chego ao final da jornada com a doce sensação do dever cumprido, de haver prestado o meu tributo a uma pessoa que exerceu em plenitude a condição de ser pensante.” – p. 271.

3.2. Pelo seu valor como poeta e prosador, Wanderlino foi eleito membro da ANL. Já pelos seus trabalhos de pesquisa historiográfica – Dança das cadeiras e Passeio das letras na taba de Araribóia – passou a integrar os quadros do Instituto Histórico e Geográfico de Niterói. Ambos os livros são de inestimável valor para a preservação da memória da cidade que escolheu para viver.

Em Dança das cadeiras, o pesquisador traça a história de 57 anos da ANL, desde sua fundação, passando por um período de recesso, até sua restauração como instituição atuante nas décadas de 1970, 80 e 90 e parte do ano 2000. Na obra, o leitor pode encontrar resumos biográficos dos patronos e ocupantes de cada uma das 50 cadeiras, informações sobre eleições e posses no referido período e a cronologia de eventos significativos, entre outros assuntos.

Tendo pesquisado em várias fontes (livros, jornais, entrevistas, além de arquivos da própria ANL), Wanderlino empreendeu um trabalho de fôlego que, espera-se, virá a ter desdobramento posterior, considerando que ele continua no registro de fatos e eventos daquela Academia após a publicação dessa obra.

3.3. Com base no prólogo de Dança das cadeiras, Wanderlino ampliou seu percurso pela vida literária niteroiense com Passeio das letras na taba de Araribóia, obra primorosa pela pesquisa profunda, pela riqueza iconográfica, pela amplitude da abordagem. Basta ler o sumário para perceber que nada (ou quase nada) escapou ao seu olhar atento: a Roda do Café Paris, as academias e outras instituições congêneres, os espaços culturais, as coletâneas, os grêmios e os concursos literários, os jornais e as revistas, as livrarias, o Grupo Mônaco de Cultura, as caravanas literárias, o Movimento da Poesia-Cartaz, as editoras, os grupos de declamação, as oficinas de texto, as pendengas literárias, entre outros assuntos. Da concessão do título de Intelectual do Ano à literatura de cordel, da Imprensa Oficial às editoras particulares, das posses solenes às reuniões informais no Calçadão da Cultura, Wanderlino acompanha o passeio das letras em Niterói durante o século XX, com erudição, mas sem pernosticismo, com gosto de contação de histórias, com linguagem clara, concisa, e toques de humor aqui e ali.

No texto introdutório do livro, o secretário de Cultura de Niterói à época da publicação, Marcos Gomes, declara: “A Secretaria Municipal de Cultura, junto à Fundação de Arte de Niterói, redefine e reafirma, através desta publicação, seu papel na construção de uma cidade mais consciente de sua identidade e relevância cultural”. Já o livreiro Carlos Mônaco, na quarta capa, afirma: “ Estou certo de que será agradável leitura, pelo estilo fluente do autor, bem como relevante fonte de consulta (...)”.

Principalmente por conta da importância dessa publicação, o Grupo Mônaco de Cultura outorgou a Wanderlino o título de Intelectual do Ano em 2005. Em vez de um discurso convencional, o escritor ousou apresentar, no dia do recebimento da comenda, um texto de cordel – De quando as letras saíram do Café Paris e chegaram ao Calçadão da Cultura – em que resume a obra Passeio das letras na taba de Araribóia. Dessa forma, retribuiu a todos aqueles que atuam no movimento literário em Niterói a homenagem recebida, sem fazer distinção entre cultura erudita e popular.

3.4. Em 1998, Contos recontados surge como ligeiro ensaio sobre as histórias da carochinha. Nele Wanderlino questiona os valores e comportamentos que elas veiculam. No prólogo, o ensaísta já apresenta o caráter polêmico do assunto, confrontando dois pontos de vista radicalmente opostos – o de Johannes Richter, de contestação, e o de Bruno Bettelhein, de valorização desses contos. Posiciona-se ao lado do primeiro: “(...) deles pincei a essência de minha tese: Pelo que hoje penso, são refutáveis os contos infantis clássicos!” – p. 12.

A obra ficaria fechada, limitada, num posicionamento unilateral, não fosse o epílogo, em que o autor se dirige ao leitor em estilo muito parecido com o de suas crônicas e o instiga a repensar esse gênero literário. Termina, enfim, o livro perguntando, deixa a obra aberta a outros questionamentos, inclusive a refutações. Enriquecem o trabalho cinco depoimentos de homens e mulheres escritores, de diferentes faixas etárias, que estabelecem um diálogo com o autor sobre o tema tratado.

  

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04.01.2008