Luís da Silva Araújo
Revolução
Dentro do ninho já balança o (o)vo
que dentro, crescido, o germe se exalta
como no mar o veleiro do nauta,
como nas ruas a fila de povo...
E a casca se rompe e surge o mistério
que a vida escondeu, por tempos, da luz;
e rompe-se a casca e, agora, cinéreo
o tempo é penumbra e os homens são nus...
E a casca levada ao vento que soa
como um gemido em noites de frio
é como a gente que foge, sem brio,
é como a gente que sofre e perdoa.
Porque de túmulos a vida é feita
- tristes buracos de rasa noção,
para envolver essa raça imperfeita
como ao canário o cruel alçapão.
Ou como a arma que abate o cativo
- membro do povo, que apenas é massa;
ou como a raça do povo sem raça
que não é nada, nem bom, nem nocivo...
Antes um ovo gorado ele fosse
e fosse esse povo um ovo sem vida;
fosse esse povo sem par menos doce
e não tivesse a esperança vencida...
Dentro do ninho já balança o (o)vo
e dentro do (o)vo balança a vida;
e em cima da terra a trama sem brida
há tempos balança a vida do povo.
Mas é fermento o que mora no (o)vo
e, dentro, crescendo, é germe o que exalta
como no mar o veleiro do nauta,
como na rua a semente do povo...
C. Grande-MS, 16/01/95
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