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Luís da Silva Araújo
Femina, de
Soares Feitosa
Meu amigo, li os Poemetos. Não posso falar
deles com a leveza que você fala por dois motivos: primeiro, porque
me falta o jeito; segundo, porque, depois que aqueles figurões
falaram... eu vou dizer o quê? Eu não ousaria porque não sou besta e
de bobo só tenho o jeito de falar e de andar, ainda assim porque sou
mineiro...
Mas tem um problema, meu amigo, eu não
posso resistir e,
assim, como quem não quer nada... Rapaz... que maravilha essa
negação de FEMINA. Essa negação a que chamo falsa, mentirosa, porque
você disse não quando dizia sim. E o sim não foi porque o dissesse,
que na verdade, ele não está explícito, mas pela idéia positiva que
você arrancou a cada "não", quando foi capaz de materializar toda a
sua ânsia, todo o seu desejo e toda essa agonia por essa mulher que
parece fugir, talvez queira fugir, ou esteja deveras fugindo, e que
você a conserva na essência daquela abstração que, agora, se tornam
toda a matéria para a sua vida.
E o "modo mulher" - a meu ver - não é
outra coisa senão uma armadilha, como o néctar, como o pólen e como
o doce de que se revestem as plantas carnívoras, só para agarrar as
carnes que elas precisam comer... E finalmente, quando o poeta diz
que lavou a alma, aí é que ele não lavou nada... porque se aqueceu
em todos os calores, se envolveu com todos os sons, se perdeu em
todos os rastros e se benzeu na profanação duns olhos. Aí é que ele
não lavou nada, meu poeta amigo, que perdido estava no túnel dos
espelhos, na miríade das imagens que se encaixam, infinitamente, uma
dentro da outra na superfície do vidro como fora uma areia movediça
que engole um corpo para não devolvê-lo nunca mais... e não podia
lavar nada... Pra mim, meu amigo, uma jóia, e não sei dizer mais que
isto.
Mas eu vou ler mais vezes. Preciso
encontrar umas coisas ali. E eu sabia, meu caro amigo, que aqueles
livros eram só um excerto... afinal, eu não vi a numeração das
páginas?
Vai um abraço.
Luís
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