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Manoel Hygino dos Santos


 

As luzes acesas

 

Aproveito o tempo e o espaço para falar de dois excelentes autores: um que faz versos e acaba de publicar um livro de crônicas e um médico que faz poesia. Este, nascido em Fortaleza, em 1975, tornou-se profissional da Medicina para seguir Hipócrates e São Lucas pela Universidade Federal do Ceará e especializar-se em hematologia na Universidade de São Paulo. O título não constitui novidade: 'Fim de Tarde' e o livro é da Fundec-Editora, de Ribeirão Preto. Sua produção literária, ora publicada, é de 1993 a 2003, década em que sua produção ficou no mais absoluto desconhecimento.

Daniel Mazza Matos estuda técnicas de versificação, mas já sabe o ofício. E a própria capa do seu livro já é poesia: 'Chega um tempo na vida/ Em que,/ Diante do espelho,/ Olhamos profundamente/ Dentro dos nossos olhos/ E chegamos à conclusão/ De que não há mais nada/ Que possa ser feito.
Chegamos à conclusão/ de que nenhum de nós pode fazer mais nada/ Ninguém pode fazer absolutamente mais nada.

(As mãos sucumbem/ E o corpo anoitece...) É o tempo/ Das folhas caírem,/ Das flores murcharem,/ De o tronco partir.'
Mazza Matos fala da velhice, da morte, da dor, de angústias, da saudade, de lágrimas, de exaustão, de trevas, de cegueira, de Lázaro, da carpideira, de remorso, arrebol e suicídio, lembrando talvez Bandeira, Augusto dos Anjos, Álvaro de Campos, Nava, embora o poeta seja ele próprio, em originalidade e autenticidade. Sombrio às vezes, pessimista, descrente de homens e políticos, das promessas estagnadas nos palanques.

Nos posfácios, explica o critério adotado para dividir o trabalho em: O começo da tarde (sonetos); O meio da tarde (odes e outros poemas) o fim da tarde (haicais). Sem embargo, ao longo de todo o crepúsculo, se identifica o bom poeta, o que é fundamental.
Pois o segundo autor, como vos disse, é o poeta Joanyr de Oliveira, que depois de percorrer os caminhos da prosa e do verso, da melhor qualidade, apresenta 'Arquitetura dos Dias', a edição de 2004, com contos. Não é a primeira vez que assim procede. Em verdade, depois de 'Minha Lira', de poesia, foi com Anderson Braga Horta, que apareceu em Brasília com 'O horizonte e as setas', dez anos depois, na prosa.

Não sendo marinheiro de primeira viagem no gênero (em 1985, publicou 'Caminhos do Amor', também de contos, no Rio; 'Entre os vivos e os mortos', no mesmo ano, romance), para finalmente surgir com 'Arquitetura', em que confirma seu talento como contista.

Anderson Braga Horta, também poeta, prosador e crítico, diz que Joanyr revela acentos bíblicos apocalípticos. Mas no novo livro trazido pela Thesaurus, o autor de Aimorés nos oferece 32 contos, primorosos no estilo, fáceis na leitura, atraentes no enredo, como a demonstrar que quem é bom de verso também pode sê-lo na prosa.

Nas suas criações recém-publicadas, Joanyr está muito distante dos 'acentos bíblicos e apocalípticos'. Narra episódios vários, alguns irônicos, como 'Profissão de Mulher, Menino ou Menina?', 'Housencleaner com muita honra' e 'Saudade do descaminho'.

Quem se acostumou a vê-lo, lê-lo e admirá-lo em versos inesquecíveis, irá deparar no novo livro um prosador agradável, compromissado em outro gênero, com o mister de escrever. As histórias curtas podem perfeitamente inscrevê-lo entre os bons deste nosso tempo. Há muito pela frente. E eu sempre me perguntei as razões que levam as pessoas a escrever, se em outras profissões, mais definidas, práticas e lucrativas, se formaram e nelas se dão bem, como no caso de Mazza e Joanyr. É que, escrevendo, eles se realizam, porque têm algo a dizer e a transmitir. São uma chama e luz íntimas sempre acesas.


*Jornalista e escritor. E-mail: colunaMH@hojeemdia.com.br
 

 

Daniel Mazza

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09/03/2005