Maria do Socorro Cardoso Xavier*
O
Vôo Inverso do poeta Paulo Nunes Batista
Paulo Nunes Batista é hoje uma
legenda. Cumpriu a missão de vate inspirado pelos deuses do Olimpo.
Quase tudo e todos, foram objeto de criação tão fértil, instantânea
e original, que só raros gênios da poesia soem ser.
Paraibano, descendente dos vates
de Teixeira, em cuja árvore genealógica brotou uma plêiade de poetas
inspirados, em vários gêneros: - no cordel, na viola, no repente.
Radicou se em Anápolis-Go há quarenta anos, após tantos percalços e
caminhadas. tempos em tempos,retorna a sua terra natal, João Pessoa,
para rever as inigualáveis praias.
Seus versos, seus poemas
polissêmicos, cujos cantos ecoam em ritmo de autêntico nordestino,
que peregrinou sonhos tão estrelados e hoje é uma estrela maior da
constelação poética. É popular e erudito, brilha em ambas as
modalidades.
Poesia existencial,
espiritualista, filosófico-ética. Paulo Nunes Batista é um
predestinado. Brilha neste firmamento espargindo luz em forma de
poesia variada: soneto, poemas livres, poesia rimada popular, sem
contar que é também bom escritor, onde cultiva vários gêneros
literários.Tudo é amor e doação em forma de poesia. Coração
magnânimo, sempre pronto a ajudar e apoiar aqueles que lhe buscam.
PNB é reconhecido nacionalmente,
após tantos meandros existenciais- deixa suas pegadas indeléveis em
todos os recantos que passa. A poesia para ele, é como o ar que
respira.Uma vida dedicada à poesia, tanto erudita (grande sonetista)
quanto popular (o cordel); este, sobrevivência no passado, hoje é
lazer.É também modernista.É lírico e realista. Bom prosador:
contista e ensaísta. Uma vasta e significativa obra, é seu
patrimônio maior.
É um poeta de ilimitados e
surpreendentes recursos de imaginação, com ritmo harmônico; exímio
improvisador com as coisas do momento.Circunstancial. Nele
encontramos a aliança do tradicional com o moderno; espírito aberto
e acolhedor.É um extrovertido- introspectivo, aqui, na busca do
verdadeiro eu. Um Sócrates moderno.
Em todas as composições poéticas
de "O Vôo Inverso", há versos de profundidade existencial e
ética.Ora realista, ora místico, de uma espiritualidade profunda; há
poemas seus- verdadeiras orações ao infinito. A solidão de "Só" não
é uma solidão vazia, é o ato reflexivo de amor, dor e Deus.Este
livro, composto de sonetos e poemas livres, em todos, sua
versatilidade, seu engenho poético, a palavra certa, que cai com
ritmo, ou com métrica, rima, e muito mais, com um sentido
humano-existencial profundo.
E ainda diz que é "poema
inacabado"?
Neste livro, Paulo Nunes Batista é
um verdadeiro filósofo-poeta. Crítico e auto reflexivo com os
dilemas da vida e pós-vida. "Em Lugar Nenhum": - se a Dor da Vida é
como Deus/ sem começo e sem fim? Em "Aquele Homem": Nas solidões
enfermas/ seres sem esperança vegetam/ Sinto a Dor de ser um
deles...
O poeta sente agudamente as dores
do mundo, com as quais se identifica, também em "Nênia fria na
tarde": A chuva que rola fora/ no seu chuar sem fim/ é menos fria
que a que mora/ e dói dentro de mim... Lembra o ceticismo e o
simbolismo de Augusto dos Anjos, nesta e noutras composições no
decorrer do livro.
A alternância do alegre e do
triste da vida, em "Tempos no Tempo": ...Por que será que todo céu/
tem antes dele um inferno?... A existencial "dor de ser gente": vai
longe e nem sempre volta... pelas esconsas rotas do sem fim...A fé
em Deus - no Amor translímpido e infinito, é um recado para o poeta
Augusto dos Anjos- Paulo ilumina a Dor de todo Abismo!
Li Paulo Nunes Batista, em "O Vôo
Inverso", um segundo Augusto dos Anjos- a angústia de viver; em
ricas metáforas e desilusões com o mundo. Só que em Paulo, não vemos
o escárnio à humanidade e ao amor. Sim: a esperança, o sonho, e um
amor maior, transcendental, pois Divino! Em seus poemas, em cadência
harmônica- vai emergindo imaginários jamais igualados.É um poeta
único e vário, no sentir e no seu olhar de poeta sollo e do mundo
cósmico. Vive à espreita dentro do turbilhão de tantas vidas e "o
abraço" de saudade, tristeza e felicidade do que se foi...O
verdadeiro "Homem Poema", ambulante, de versos de beleza extrema e
criatividade imagética - à medida que a vida se desdobra...
Poeta onírico, cujos sonhos
embalados, soltou balões e naus queimadas, reconstruídas sob paus e
pedras, aportou em terra firme... nele plantou o verso, amplamente
germinado!Em seu "balanço": sinta-se em crédito e não em débito. Só
a consciência de tê-lo infectado, já lhe acrescenta mais créditos
nesta vida sem remédio, com certeza, lhes serão acrescentados pontos
pós-morte... "A carne viva": só lhe somará sabedoria, remissão da
dor e amor infinito. "Viver não é fácil, é dificílimo” -desviver é
impossível... O impossível existe, Deus deixar de Ser... Viver:
exercício de aprender a reviver em dois mundos: neste e no
invisível...Na vida inclua-se A morte... Poetas de noites insones,
todo madrugadas, de fome insaciada de paz infinita para todos: Judas
e Jesus! Sem infernos, fruto da malignidade humana desumana... Suas
especulações filosóficas em forma de versos- todos os céus são
provisórios... Os infernos só existem porque nós criamos Mo (nu)
mentos falsos... O lirismo de "O dia ainda vem longe" e a
introspecção- encanta e impressiona nas paragens do sem fim...Os
profundos monólogos a indagar na madrugada, os sonhos, as quimeras -
a lenta morte à luz de velas... em seu "Igneo sacrifício" - Paulo,
alma criança e sensível à dor alheia, dos pobrezinhos e a saudade
dos seus que partiram em viagem infinita... Viaja nas ondas do sonho
de sua alma boêmia enamorada, hoje nostálgica. E no meio de
"Noctâmbulas Vozes" vem a saudade alucinada, que lhe povoa a
madrugada, dulcificando a amargura... Mais uma vez Augusto dos Anjos
a visitar-lhe, com seus cantos dolentes do eu insatisfeito, em
sintonia com o infinito... Vemos também no poeta, um transgressor na
mocidade, um pouco narcisista; não um narciso egoísta- o é apenas ao
olhar-se e analisar-se a si próprio e até recriminar-se, como um
redimir-se. Nunca pelo egoísmo mesquinho de negar de si ao próximo!
O sonhador do luar da lua cheia, a doce serenata de "A
Auto-seresta", que inunda de nostálgica melodia os dias do poeta...
O boêmio vagabundo de outrora despencando no abismo em desgarrada -
foi e voltou em "Vôo Inverso. Em longos devaneios e pelas estrelas
em passeios, mas sempre em busca da verdade completa em "Vanidade".
Paulo Nunes Batista para ser
completo, só faltaria o seu lado social, e este existe,como existe!
Tanto na poesia popular, quanto na erudita, aqui refletida: sua
sensibilidade social e espírita, trocaria os adornos dos cemitérios
por pão para os pobres, amparo aos desvalidos, justiça aos
injustiçados! Em seu "Dilema" chora pelas mulheres depenadas de seus
direitos, pelos apenados, vítimas da sociedade corrupta! Poeta
também da "auto-construção": constante em beleza e harmonia,
preparando-se para o armagedon final. Para tudo, o poeta tem "um
jeito..." de ser bom, de ser só, de sonhar, de ser forte, até mesmo
de tapear a morte...Porque tem muito ainda a oferecer na vida, ao
seu semelhante!
Utiliza ricas metáforas, amplos
recursos de linguagem em plurais composições poéticas. De tudo é um
pouco: simbolista, lírico, o fantástico se mistura com o real "No
sonho do menino marinheiro". Pujante lirismo simbolista de "Vou
repetindo adeuses". Belíssimo soneto! Aliás fica difícil escolher
qual o soneto ou poema mais bonito do livro. Todos são de uma
originalidade encantadora e impressionante! A espiritualidade
espírita, o afeto, o carinho de "todos nascemos para ser estrelas":
A Dor querida, é Deus amando a gente... lapidando a bruteza do
diamante... Sob a luz do Espiritismo, as provações da vida ajudam o
ser humano a crescer espiritualmente, numa verdadeira catarse! "As
Palavras" em PNB - são pétalas de vida, que lhe toca e enternece -
buriladas, são borboletas e avezinhas...
Este livro de poesia, de Paulo
Nunes de Batista é uma obra-prima. Do lado erudito, é o fruto
amadurecido do gênio poético. Mescla-se o melhor do lirismo, do
simbolismo, daqueles poetas de vanguarda de outrora, com os melhores
do presente, de quaisquer escolas literárias (realismo,modernismo,
pós-modernismo). É um poeta completo. É um, sendo muitos poetas ao
mesmo tempo. É divina sua inspiração; humanas, suas sofreguidões!
O poeta Paulo Nunes Batista, em "O
Vôo Inverso" é a trajetória do sonhador, do idealista, do pródigo,
do perdulário, do despojado, do socialmente correto, do filósofo, do
espírita, do ser humano profundamente comprometido com o ser e o
mundo. Reflexivo sobre si mesmo e sobre o mundo: querendo-o bem
melhor! Paz e Justiça!- Seu "Sonho a Mais"!Sempre em busca da
felicidade em todas as viagens - e desse céu que dele se perdeu...
Diria que lendo "O Vôo Inverso"-
estamos diante de um céu de poesia! De um poeta de sentimentos tão
autênticos e humanos.[um ser generoso, modesto, sendo genial,
amável]. Conhecedor e prescrutador profundo do próprio eu e dos
sentimentos do mundo! "Endureceu sem perder a ternura"!...
O Vôo Inverso do poeta Paulo Nunes
Batista:
Livro de Poesia- Editora Idéia - João Pessoa-Pb.:
Ano: 2001: páginas: 128
(*) Maria do Socorro Xavier é professora universitária aposentada
pela
UFPB. Campina Grande-Pb.Área de História. Faz passeios pela
literatura, com oito livros publicados [poesia, pensamentos, ensaio,
memória] e participações em Antologias, Coletâneas, Revistas e
outros, a nível nacional. Pertence a algumas entidades
lítero-culturais do país.
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