Maria do Socorro Cardoso Xavier*
"Outras Profanas"
Mergulhar na obra de Sérgio Gerônimo é encantar- se num mundo cósmico, no qual o sagrado e o
profano se entrelaçam metaforicamente. Os símbolos mitológicos são
expressão dos mitos inconscientes que o autor conserva através dos
laços atávicos do ir e vir.
A razão, o afeto e a paixão se
complementam e fascinam. Seus conflitos existenciais são metabolizações psíquicas, que em vez de deprimi-lo o redime e o faz
grandioso, infinito. Lança-se ao mundo, é um aprisionar-se,
libertando-se.
O livro em epígrafe é composto de
poemas livres pós-modernos, concretos, haicais; - cujo conteúdo
varia do conflito interior do cotidiano, das relações psíquicas
urbanas, do sensual, satírico social-político, misterioso ao
filosófico.
Seguro no verso tem uma proposta
própria de inquietude e liberdade. Ficção e realidade se
interpenetram. O implícito e a nudez de suas emoções transparecem,
jorram em abundância.
Com aguda sensibilidade, menos
explícita e mais sutil, faz e desfaz; jogando com as palavras, estas
bem encaixadas e poderosas, na medida que refletem uma situação, um
pensamento, uma ficção.
"Outras Profanas" possui uma
semiótica implícita, qual magia de anjos, demônios e arcanjos.
Sérgio, em "consumível combustão" pg. 40..."procura-se um poeta"....
procura-se o poema "...Você é o poeta que desfila seu poema, na
avenida semiótica da construção pós moderna.
Aí o autor é sensual sem ser
lascivo; maduro sendo ainda criança; intelectual sem ser intelectualizante; lúdico, sendo sério. Obra livre, flexível,
exuberante! Alia ousadia e sensibilidade humana. A cumplicidade do
dia a dia, cujo universo, desperta, recomeça e enternece ( pg. 27 ).
O mundo da criação de Sérgio Gerônimo é "um pequeno grande céu". O mistério e o sublime de muitos
versos surreais encanta, torna inesgotável e mágica sua criação.
Enfim uma poesia intelectual, que não obstante nos leva a brincar.
Para sintetizar, cito Scaliger: "o poeta é um outro Deus que pode
criar o que deve ser".
Outras Profanas de autoria de
Sérgio Gerônimo
Editora Oficina, l998, Apperj Rio
de Janeiro.
(*) Já
referenciada em outros trabalhos publicados aqui no Jornal de Poesia.
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