Fernando Py
Ao lado de vera
Diário de Petrópolis, 7.12.1987
Ao lado de Vera, de Alberto da Costa e Silva. O livro compõe-se da
reunião, num só volume, de duas coletâneas anteriores do poeta,
publicadas em tiragem reduzida e fora de comércio. (A roupa no
estendal, o muro os pombos, de 1981, e Consoada, de 1993), e mais
uma parte inédita que dá título ao conjunto. O primeiro é uma
coletânea de dez poemas, que principia e termina com dois sonetos
dedicados à esposa, Vera, cada qual melhor que o outro. É um livro
em que o poeta reafirma o altíssimo nível lírico e artesanal a que
chegou, numa poesia que denota extrema sensibilidade artística e
aguda percepção do cotidiano. Já Consoada, representando em sua obra
uma espécie de transfiguração do cotidiano ? mas o cotidiano
específico das celebrações de Natal ?, mostra uma constante
preocupação com a velhice, que progride a espalhar a flacidez da
carne, a artrite e a vista adoentada. Sua poesia se faz mais grave e
meditativa, como se o poeta se estivesse preparando para a morte com
dignidade e competência. No conjunto final, em Ao lado de Vera,
temos poemas de circunstância pessoal, conjugal e familiar.
Porém a circunstância, no caso, é apenas o pretexto para uma
indagação existencial de transcende a mera factualidade para se
inscrever num contexto mais amplo e comum a todo homem, como,
principalmente, no poema “O amor aos sessenta”. Ao lado de Vera (o
livro) é uma pequena jóia de poesia pura e, ao mesmo tempo, densa e
profunda.
Leia a obra de Alberto da Costa e Silva
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