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Fernando Py


 

Mais que os nomes do nada

 

Mais que os Nomes do Nada
de Aricy Curvello.
(Editora do Escritor, são Paulo, 1996, 112 pp.)


 

Neste seu novo livro, publicado quatorze anos depois do anterior (de 1982), Aricy Curvello esgrima com a palavra , as noções que as palavras traduzem, e não raro se vale de notações paraconcretas. Sua poesia se volta basicamente para o questionamento da própria eficácia da linguagem como a entendemos tradicionalmente, para a discussão do discurso tal como se apresenta na poesia. Não que a não aceite; mas prefere utilizar igualmente, e com muito bom efeito plástico e visual, a atomização da palavra, o desmembramento das sílabas e dos fonemas, recurso que, se não é novo, nele adquire um tom de surpresa pela sua exata incorporação ao discurso.
Explicando melhor: o poeta constrói o seu discurso de forma quase inteiramente tradicional, mas insere de súbito uma ampla disseminação de vocábulos pelo branco da página, valorizando o seu discurso com esse aspecto visual, posto que as palavras e letras soltas atraem mais a atenção para o próprio discurso anterior.

Um exemplo curioso é o do poema “Que não transborde”, onde a figura de uma borboleta surge após os versos e o resto da página se enche de letras soltas sem qualquer sentido, mas podendo significar a substância espalhada pela própria figura da borboleta ¾ como se esta estivesse semeando a página, polinizando-a ¾ ainda mais que, nesse mesmo poema, o poeta se refere a um “mar de nomes”.

A rigor, toda a poesia do livro, além do incessante questionamento da linguagem, é também a luta para a incorporação, aos poemas, domais trivial e reles cotidiano, sem baixar o nível poético, nem optar por um discurso ideológico. Ou seja, justo esses nomes do nada de todos os dias é que são a base fundamental da poesia, mesclados a uma sutil reflexão sobre a (nossa) realidade. Assim, neste seu terceiro livro, Aricy Curvello alcança a maturidade poética.

(Texto publicado em:
1)- Diário de Petrópolis, Petrópolis (RJ), 23 de fevereiro 1997, p. 12.
2)- Literatura- Revista do Escritor Brasileiro ano VII n. 15, Brasília, dezembro de 1998, p.34. )

 

Aricy Curvello

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