Mário Quintana
No Meio da Rua - Prefácio
Muitos pensam que quem faz um prefácio
está se dando ares. Pois eu estou é tomando ares no meio da rua de
Nei Duclós, que é esta mesma rua de todos, tão poluída mas tão
salutarmente viva de gentes e de cartazes reivindicatórios.
O primeiro poema que li, de Nei, assim
começava: "Olhem o animal da palavra". Era eu. No tempo em que ele o
publicou não pude agradecer-lhe. Pois foi quando se dera na Europa e
nas Américas aquele histórico e súbito movimento de maturidade e
independência dos jovens - os quais se apresentavam de longas
barbas, não para imitarem seus venerandos avós, mas sim, creio eu,
numa espécie de reencarnação do homem das cavernas -, visto que era
preciso recomeçar tudo. Ora, como eu ia dizendo, não pude agradecer
pessoalmente ao poeta, pois jamais conseguia diferençar um
barbudinho de outro. Sei que agora ele está barbilampinho. Mas
noutra cidade, onde diz coisas assim:
"Não posso deixar de trair o meu
sossego".
Eu já ia citando outros versos, mas
pergunto-me por quê ou para quê. Ninguém gosta que o levem pelo
braço, apontando-lhe o que há para ver. Esses encontros,
especialmente os consigo mesmo, devem ficar por conta do leitor. E
depois, quem é que lê prefácios?
Mário Quintana
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