Roberto Pontes
Um livro que
acordou o sol e me encheu de luz
(orelhas do livro Fazendinha,
de Rodrigo Marques)
Fazendinha marca o debute, em
livro, de um escritor que começa por onde somente alguns têm a
ventura de terminar.
Estou que em Fazendinha não
sabemos onde principia ou finda a poesia, pois em suas linhas não há
limites no plano do gênero. Mas nem vem ao caso cogitar sobre
gênero, porque o estar à vontade com a Língua Portuguesa e a
invenção plena é a marca de Rodrigo Marques nesta cativante
fabulação. E antes de expender qualquer outro juízo (função a que
hoje a crítica se furta), asseguro ao leitor estarmos diante de um
caso raro na literatura brasileira, qual seja o da estréia voltada
para o público infanto-juvenil, porém com livro capaz de fascinar
fatalmente o adulto, como aconteceu a este leitor impenitente, aqui
honrado neste espaço de apresentação.
Não há como classificar Fazendinha,
porque se por um lado o mito familiar é seu centro (e basta ver o
motivo da concepção gráfica: a arte de bordar da mãe e da avó do
autor), por outro, o impulso mítico se espraia consciente e
generosamente na direção do carismático Monteiro Lobato e dos
fascinantes personagens por ele criados. E segue numa sucessiva
apropriação de mitos, logo contemplando o de Horácio Dídimo,
“pseudônimo” de um genial Mestre Jabuti. Entram ainda nesta
história, no nicho da generosidade, outras figuras humanas, as
quais, espero possam um dia converter-se em mito, este “nada que é
tudo” tão necessário ao nosso País e a todos os povos.
Eis, tenho certeza, um livro a ser
certamente amado por seus leitores. Assim afirmo porque este foi o
meu sentimento, após lê-lo. E vou mais longe: será o mais novo
clássico da literatura infanto-juvenil brasileira. Ao fazer esta
previsão não penso aqui nos pequenos seres humanos abobalhados pela
mídia atual, mas em crianças e jovens germinados em meio à afeição,
ao carinho e à beleza, livres da ditadura que se impõe contra a
imaginação.
Fazendinha conseguirá, com justiça, tornar-se par de Ou isto
ou Aquilo, de Cecília Meireles, A Arca de Noé, de
Vinícius de Moraes, ou Os Saltimbancos, de Chico Buarque de
Holanda.
É auspicioso tenha Rodrigo Marques
composto um livro lançando mão dos ingredientes mais seus e dotado
do condão de acordar o Sol através da força da família, das leituras
prediletas, dos mitos brasileiros, da poesia da região onde vive, e
de tudo o mais pulsante no que se lerá a seguir.
Rodrigo Marques foi meu aluno numa
Oficina de Poesia e orientando em dissertação de mestrado dedicada a
José Albano e Camões, no Curso de Mestrado em Letras da Universidade
Federal do Ceará, quando confirmou sua habilidade tanto para a
poesia quanto para a crítica e o ensaio. Mas nada disso tem
importância diante da magnífica Fazendinha concebida para o
deleite do público mais precioso do Brasil.
Neste livro, Rodrigo é Rodrigo, um
escritor (poeta, crítico e ensaísta) nascido pronto sem dever nada a
ninguém.
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