Num sábado de junho de 2000, compareceram ao escritório de Soares
Feitosa que, nas horas profissionais cuida de impostos [já
foi "publicano", auditor da receita federal, aposentado], os poetas Carlos Emílio Barreto Correia Lima e
Cláudio Portella, gravador em punho, para um entrevista.
Vale
registrar que lá para tantas, o gravador pifou, de modo que
muita coisa se perdeu ou ficou de memória. A conversa se
concluíu num barzinho próximo [uma bela paçoca
de carne-seca com cerveja]. Esta entrevista foi publicada na revista
PAJEURBE em seu nº 1.
Carlos Emílio: Soares, eu abri uma revista que se chama Augusta, que estava por acaso
sobre o volume de mitologia grega, o primeiro, não sei,do
Brandão [Juanito Brandão], d’baixo dos seus óculos...
Soares
Feitosa: Não, muitos óculos..., conte aqui, tem uns cinco... [Realmente, Soares,
meio cego, "coleciona" óculos de grau, pra longe,
pra perto e bifocais].
Carlos
Emílio: Até óculos no computador, pra evitar radiação... Então é o seguinte
o nome dela é Augusta é o número 1, Paraíba, Brasil, ano
2000, e... Eu já comentando; porra, mais uma revista
literária que eu não conhecia, que nós não conhecíamos,
que o leitor não conhecia, que nos chega às mãos, e em relação
a isso, eu queria fazer a seguinte pergunta: essa revista ela
é impressa, naturalmente. Ela foi digitada no computador, a
sua ela é... Ela pertence ao hiper-espaço, ela está, é...
Na rede, é... de computadores à Internet, E ... Uma coisa
que eu queria antes de concluir essa pergunta, pergunta-fundação
da entrevista, era dizer a você da minha admiração pelo seu
trabalho constante e crescente é, e, diria mais, praticamente
você e o grupo que você coordena, digita essa publicação
eletrônica, vamos chamá-la assim, que vocês estão fazendo,
que você está fazendo é sui generis num
país inteiramente entregue a barbárie cultural e... O
que você está fazendo é um exemplo e uma conquista que a
cultura brasileira só tem a lhe agradecer, é, em todos os
sentidos. Nós, poetas, escritores, digo isso, relativamente,
quase completamente, emocionado. É isso que eu queria
iniciar, fazer a seguinte pergunta então: O que você vê das
revistas impressas em comparação com as revistas não
impressas, que é seu caso, a revista eletrônica que você
chama humildemente de Jornal de Poesia?
Soares
Feitosa: É, as revistas impressas ao longo da história da literatura brasileira,
tem prestado um serviço fantástico pra pesquisa, pra
conservação... do material, porque têm uma volatibilidade,
eu nem sei se a pronúncia tá certa, diante do material
escrito. Os livros têm uma tiragem muito pequena, uma
distribuição muito precária, e em pouco tempo o poeta some,
simplesmente some. Hoje, você pra encontrar nomes de poetas
que foram consagrados aqui no Ceará, que fizeram espaço na
época deles, um Carlos Gondin, por exemplo, que agora está
sendo restaurado, não sei onde foi que eu vi, foi o Sinésio
Cabral que publicou agora. Taí, o Sinésio Cabral tem um
jornalzinho muito interessante: O Mensageiro da Poesia, uma
coisa estupenda. Tem cento e poucos exemplares, aquelas mesmas
pessoas recebendo em casa, um verdadeiro sacerdócio. A rigor
o Jornal de Poesia é o mensageiro da poesia na Internet, digo
até com sinceridade no exemplo do velho Sinésio, meu grande
amigo, um excelente poeta, uma pessoa humana sem tamanho, e
que eu me inspirei
pra fazer o meu jornal de poesia. Hoje o Jornal de Poesia tem
uma amplitude que não tem nem termo de comparação. Mas nós
já chegamos lá nesse aspecto do Jornal de Poesia. Quanto as
revistas o que eu tenho acompanhado é o seguinte: são os
jornais de formatos tablóides como é o caso do jornal do Sinésio,
do Blocos e outros mais Brasil afora...
Carlos
Emílio: Blocos?
Soares
Feitosa:Blocos! É, da Leila Miccolis, e o do Suplemento Literário de
Pernambuco, temos também o Suplemento de Minas, que são no
formato de jornal e em papel de jornal. Já diferentemente
temos tido outras revistas, revistas até modernamente umas de
apresentação muito rica, mas em formato de revista, e
algumas poucas como é o caso da revista de Literatura do
Nilto Maciel, e de outra daquele Domingos, Domingos...
Carlos
Emílio: Carvalho da Silva?
Soares
Feitosa: Domingos Carvalho da Silva...
Carlos
Emílio: Brasília também.
Soares
Feitosa: Brasília também, em formato de livro. E agora Augusta do nosso amigo
Ascendino Leite.
Carlos
Emílio: Ainda tá vivo?
Soares
Feitosa: Vivo! Velho! Rapaz, e poeta, e vibrante, muito entusiasmado, e um cara
extraordinário, então...
Carlos
Emílio: Sim, continue.
Soares
Feitosa: Então essa Augusta e a do Nilto, nesse formato de livro, eu tenho
certeza...
Carlos
Emílio: E a poesia sempre teve formato de livro.
Soares
Feitosa: Sim, a poesia sempre ...
Carlos
Emílio: A Dimensão do Bilharinho, né? De Minas Gerais.
Soares
Feitosa: Isso! A Dimensão...
Carlos
Emílio: Que quer acabar, encerrar as atividades.
Soares
Feitosa: É, então o que acontece essas em formato de livro...
Carlos
Emílio: A
Calibãn!
Soares
Feitosa: A Calibãn nunca me mandaram nenhuma, nunca vi pintada. [Recebidas
depois, uma bela revista! Grato]. É, essas
revistas em formato de livros eu acredito
que elas tenham uma vida digamos assim gráfico, tipográfica
maior porque se comportam na estante, já a revista, ela
assume um caráter de transitoriedade como as revistas em
geral, é... As estantes não são preparadas pra revistas,
muito menos pra jornais, então eu sempre fui da opinião que
a revista de literatura em formato de livro é sempre mais
adequado, esta aí a do, do, do...
Carlos
Emílio: Ascendino Leite.
Soares
Feitosa: Do
Ascendino, ela tem um pequeno defeito e afinal de contas, tudo tem que
ter um pequeno defeito; é não ter mínima notícia sobre os
poetas, é uma revista de poesia somente. E ela publica
textos, poemas, poemas de, geralmente três poemas de muitos
autores...
Carlos
Emílio: Mas não vamos falar dela, vamos falar da sua.
Soares
Feitosa: Pronto! Da minha é o seguinte. A minha só publica poesia, e matéria de
poesia de língua portuguesa. Enfrentei muitos problemas
inicialmente, gente querendo mandar poesia do Rimbaud, e do
Baudelaire, e não sei mais de quem, e obviamente que eu
recusei todas, dos Beats, até dos Beatles mandaram. E eu sou
inteiramente a favor dos Beatles, sem dúvida, mas o problema
é o seguinte: É que quando eu cheguei a Internet em 1996, e
fui procurar poesia de língua portuguesa, inclusive nos sítios,
vamos dizer sítios...
Carlos
Emílio: Ah tô gostando... Falando da
Lusofonia, né?
Soares
Feitosa: É da Lusofonia... Procurar poesia de língua portuguesa no Brasil, nos sítios
brasileiros, e não tinha absolutamente nada vezes nada, eu
fui então nos buscadores mundiais, no caso, o Altavista e o
Yahoo, e encontrei lá, cliquei em Camões, praticamente não
tinha nada, Fernando Pessoa tinha pouquinha coisa, e pra
surpresa minha tinha Gonçalves
Dias, sim, Castro Alves não tinha absolutamente nada, Gonçalves
Dias sim...
Carlos
Emílio: Nem na Bahia?
Soares
Feitosa: Não, em sítio nenhum mundial, a rigor não existe, a Internet a
vantagem é essa; você nem sabe onde é o sítio, deixou de
ser Bahia, pode ser no Piauí, Montreal, isso não tem a menor
diferença, então quando eu cliquei em Gonçalves Dias tive a
grata surpresa de aparecer o nome do poeta, mas obviamente era
uma página do Banco do Brasil na cidade de Gonçalves Dias no
Maranhão, e obviamente que aquilo me deixou, sim, e
paralelamente eu clicava em Rimbaud
e tinha tudo, cliquei em Shakespeare tinha, Baudelaire
tinha tudo, e obviamente nós não tínhamos nada, a língua
portuguesa em matéria de poesia estava absolutamente órfã,
e naquele exato instante, nascia ali, naquele ato, naquela
revolta...
Carlos
Emílio: 96,
né?
Soares
Feitosa: 13 de Junho, dia de Santo Antônio, nascia exatamente...
Cláudio
Portella: 96, um ano chave pra década de noventa, nesse ano aconteceram muitas
coisas importantes para a literatura nacional.
Soares
Feitosa: Isto! Eu acho que a forte mesmo foi o Jornal de Poesia... Naquele exato
instante( 13/06/96). Eu me propus e comecei a fazer o Jornal
de Poesia, e, inicialmente, eu pensava em colocar, digamos, no
máximo uns cinqüenta poetas, e, obviamente em Castro Alves
começando pelo Navio Negreiro. E Gonçalves Dias, e Camões,
e Pessoa... E a coisa foi tomando rumo e as pessoas se
entusiasmando, e me mandando cartas, E-mails, cartas eletrônicas
e assim por diante e chegou ao ponto que eu me vi imprensado.
Hoje o Jornal de Poesia tem um pouco mais de 2000 poetas de língua
portuguesa, estritamente de língua portuguesa, nisto há o
intercâmbio mundial porque, veja, eu boto um poema no Jornal
de Poesia hoje e imediatamente ele está em Singapura, ele está,
e por coincidência tem uns quatros portugueses que se
comunicam comigo, está em Macau, está no Canadá, tem uma
colônia portuguesa muito ativa por lá, tem, New York tem
muitos brasileiros é... , na área de literatura, tem muita
gente cursando literatura ao redor do mundo, então isto fez
um ponto de encontro da, dos, dos lusófonos, que eu chamo lusófonos
imigrados. E paralelamente com Portugal e as ex-colônias, e
pessoas que estavam absolutamente ilhadas, nós aqui mesmo, eu
praticamente nunca tinha ouvido falar nós portugueses
contemporâneos, e já participamos de antologias, e tem sido
assim uma coisa extraordinária, eles também circulando aqui;
pessoas que dizem que nunca tinham lido poesia de Portugal e
outros dizem lá que nunca tinham lido sequer o Castro Alves e
assim por diante...
Carlos
Emílio: De brasileiros, né?
Soares
Feitosa: Brasileiros...
Carlos
Emílio: Essa união, do, do, do...
Soares
Feitosa: Isto é que é o importante da Internet.
Carlos
Emílio: Do
Arquipélago Cultural...
Soares
Feitosa: Do arquipélago, isto é que é importante...
Carlos
Emílio: É, é,é,é, da língua portuguesa.
Soares
Feitosa: Da língua portuguesa.
Carlos
Emílio: Que é a nossa mãe, né?
Soares
Feitosa: É.
Carlos
Emílio: Nossa pátria, também. É, é isso eu acho uma coisa fundamental...
Soares
Feitosa: É, então o importante é que o Jornal de Poesia não é um sítio de
poesia brasileira, não é de maneira nenhuma! Ele é muito,
digamos um quantitativo brasileiro é muito maior primeiro
pelo...
Carlos
Emílio: É um sítio internacional da poesia de língua portuguesa.
Soares
Feitosa: Mas se você olhar lá, o que acontece tem muito mais gente no Brasil,
primeiro que a nossa população é muito maior, embora a
percentagem de leitores em Portugal seja infinitamente maior
que no Brasil, em razão da nossa perversa estatística de
analfabetismo aqui muito maior.
Carlos
Emílio: Nossa política educacional.
Soares
Feitosa: Isso aí já é outra história, é a resultante. Agora vejam, em conseqüência,
é, digamos o número de portugueses presentes não é tão
grande porque existe a barreira da comunicação, as pessoas lá
também, é, agora que está explodindo por lá, o jornal, uma
grande revista semanal lá de Portugal: A EXPRESSO, o
equivalente daqui da nossa VEJA, deu uma reportagem muito
interessante, por conta dessa reportagem...
Cláudio
Portella: E a revista de Portugal chamada “Colóquio Letras?”
Soares
Feitosa: Não! Nunca tive maior intercâmbio
com eles...
Cláudio
Portella: A “Colóquio Letras” é a principal revista da língua portuguesa.
Soares
Feitosa: É, mas eles estão ainda na fase do papel. Aqui, ainda no Brasil,
digamos o Nilto Maciel, que tem trabalho belíssimo,
estupendamente belo, só recentemente entrou pra INTERNET,
quer dizer, eu já disse Nilto, vamos circular as revistas de
literatura na INTERNET, você me manda todo o arquivo que eu
imediatamente, você publica a edição de papel, que eu
publico a edição eletrônica. Mas ele se esquece, e, e, e...
Carlos
Emílio: Vamos fazer com a nossa Arraia PajéUrbe isso aí...
Soares
Feitosa: Vamos fazer, claro! Vamos fazer. Quer dizer, essa revista que o Carlos Emílio
está propondo...
Carlos
Emílio: Com o Barros Pinho e Portella ...
Soares
Feitosa: Obviamente ele lança no papel e imediatamente a gente joga essa revista
para o mundo porque amplia a possibilidade de circulação
infinitamente pro campo, infinitamente maior. Paralelamente
ainda tem um agravante entre aspas ao nosso favor que é a
permanência, quer dizer, o texto que tá no Jornal de Poesia,
ele não é descartável, quer dizer o J.P. é até um nome
inadequado. Porque não é um jornal a rigor de botar uma notícia
nova em substituição de uma notícia velha.
Carlos
Emílio: Podia chamar de Revista Internacional de Poesia?
Soares
Feitosa: Não, o meu sonho inicial era de ter chamado armazém de poesia.
Carlos
Emílio: Armazém Internacional de Poesia.
Soares
Feitosa: Não é internacional, ele é lusófono, somente. Se eu disser que é internacional, eu estou desvirtuando a razão
principal. Eu posso até
aceitar que seja armazém da lusofonia, aí já é
internacional. Agora vejam, recentemente eu constatei o nosso
profundo isolamento em relação ao sul-americano, aos de língua
latina no novo mundo.
Carlos
Emílio: Aos de língua espanhola seria o próximo passo?
Soares
Feitosa: É, de língua espanhola e também francesa, aqui no Caribe... Meu vínculo
é latino.
Carlos
Emílio: Os nossos primos, né!
Soares
Feitosa: O meu vínculo é latino, é a Lusofonia. É a última flor do Lácio, lá
segundo o Bilac e também o seu ramalhete lá de franceses,
romenos e assim por diante. Então o meu sonho a rigor é
voltar as origens e fazer como se fosse o grande sítio latino
de poesia, obviamente até colocando os latinos , a poesia clássica
e Virgílio e Catulo e por aí a fora, isso evidentemente é
apenas um sonho muito distante, mas claramente vai ser feito
um dia não sei por quem. Enquanto isto o meu propósito foi
de lançar...é, a chamada, é, eu chamei, como é que eu
chamei inicialmente, Ibéria, então seria um sítio
abrangendo...
Carlos
Emílio: Já está?
Soares
Feitosa: Já está, desde Espanha e desde de Portugal, então seria os navegadores
que partiram da Espanha, os navegadores que partiram de
Portugal, e povoaram com suas gentes, nós portugueses
obviamente, aqui na Argentina os espanhóis e assim por diante
e isso fazia a grande comunidade é, Ibérica. Este é que é
o grande sonho do J.P. Convidei uma pessoa que tem hoje um trânsito
espetacular na área latina americana que é o Floriano
Martins. Expedimos aproximadamente 200 convites do pessoal de
relação dele,entrevistados e poetas com quem ele se
comunica... E já traduziu alguns deles e assim por diante, e
temos recebido um manancial fantástico desses poetas de todos
os países, e queremos dar uma presença maciça na
latinidade, não só na latinidade, mas obviamente na ibérica,
ou seja, o Jornal de Poesia se transforma do simples sítio
lusófono para um sítio ibérico, desde Espanha, desde
Portugal. Isto é realmente a glória! Porque vejam a burrice
nossa, espetacular, o nosso colonialismo como foi uma coisa
estúpida, nós somos muito mais ligados até 30 anos atrás
à França, depois, hoje, aos americanos, aos norte americanos
e aos ingleses,obviamente nenhuma ligação com a Colômbia,
exceto via Medellin pra trazer de lá umas drogas(risos).
Carlos
Emílio: Não, e a influência do Gabriel Garcia Márquez, mas vamos adiante.
Soares
Feitosa: Nenhuma influência, na área de poesia nenhuma, que ele é prosador.
Carlos
Emílio: Ah!, eu quero depois conversar sobre isso.
Soares
Feitosa: É, mas na área de poesia nós não sabemos de ninguém aqui, soubemos
de, de, de Borges, via França, via Estados Unidos.
Carlos
Emílio: É, tiveram que repercutir na Europa...
Soares
Feitosa: Eles tiveram que explodir por lá primeiro pra depois chegarem aqui e são
nossos vizinhos e nós simplesmente demos as costas para eles.
Carlos
Emílio: A finalidade primordial da nossa publicação PajéUrbe é não só
reunir todos os fortalezenses, porque é uma revista urbana da
cidade, do estado cearense também; a cultura, a arte, a
poesia, englobando não só a poesia mas, desde a culinária
até a astronomia. Então nós pretendemos fazer este caminho
que é o caminho desde o quintal até o cosmos e, e a partir
disso é, unir realmente os arquipélagos; primeiro aqui em
relação ao Nordeste, partindo pro Norte/nordeste, partindo
pro Sul, Acre que é o Ceará distante, nós colonizamos lá,
nós é que tivemos lá, do Acre à Amazônia, até a Bahia
onde está o nosso Cajazeiras e os nossos outros amigos. Do
sentido de que incorporar essa confederação do Equador, que
foi totalmente, nós aqui cara, a Paraíba você não sabe o
que tem lá, está de costas pra cá, não sabem nem o que estão
fazendo lá na Paraíba, é como se fosse...
Cláudio
Portella: Estão fazendo a revista Augusta.
Carlos
Emílio: Outro mundo, como se estivesse no Alasca ou no Hawaí.
Soares
Feitosa: Uma revista dessa é belíssima e ninguém sabe de onde vem.
Carlos
Emílio: A função nossa seria de congregar, integrar o arquipélago nordestino
norte/nordestino, em conjunção com o mesmo movimento a ser
feito, a ser realizado de atração, daquilo que está
disperso na América Latina, no Brasil, nos outros estados. E
uma coisa básica também é começar de quem está
marginalizado no Rio e São Paulo, pra ativá-los pra cá.
Porque eu morei 13 anos no Rio e 3 anos em São Paulo e posso
dizer que é uma panelinha que não deixa nem os de dentro nem
os de fora entrarem, mesmo lá as pessoas, grandes valores,
grandes escritores, grandes poetas, grandes artistas; vamos
ficar na área da literatura, não têm acesso à mídia, não
têm acesso à panela das editoras e não têm acesso a
nenhuma repercussão da sua obra, ele não é conhecido. Então,
se há marginalizados no ponto de vista da centralização, há
marginalizados dentro do Rio e de São Paulo. Toda uma geração
tá sendo solapada por uma máfia literária lítero-cultural.
Nós sabemos perfeitamente que no país a corrupção é tão
grande que a corrupção se alastrou em todos os níveis,
inclusive nos meios literários culturais e artísticos. E o
seu trabalho de fazer essa recuperação da Ibéria, da América
Latina, da América Hispânica e da Lusofonia, vem de
encontro, vem se casar com o projeto nosso da PajéUrbe, e por
isso que eu estou novamente agradecendo você por ter aceito o
convite de congregar a nós na criação do sítio eletrônico
da PajéUrbe...
Cláudio
Portella: Cada poeta põe na sua página o que tiver a fim?
Soares
Feitosa: Veja, o leitor não interage com o J.P. Ele não é um sítio aberto,
quer dizer, não tem a forma interativa do leitor pegar e
apagar e botar um poema, porque isso daria uma bagunça muito
grande e não daria certo mesmo, os poemas são remetidos pra
mim e obviamente eu não faço censura nunca li porque nem dar
pra lê na hora que você está digitando um poema, você fica
impressionado, você não consegue lê-lo, porque eu tô ali
é de digitador, ou de programador e nunca fiz censura de
nenhum leitor, às vezes quando vem coisa muito errada,
grosseiramente errada eu sugiro com todo o carinho; eu publico
muitos poemas de adolescentes e de principiantes. Eu acho
extraordinário é o grande ponto do J.P. é exatamente
receber os jovens, quer dizer, publicar os jovens ao lado de
Fernando Pessoa, ao lado de Castro Alves, eu acho realmente
uma coisa estupenda... Pra esses jovens eu sugiro com muito
carinho que procurem um professor de literatura e peçam uma
revisão e tal e etc... E isso gera um clima de muita amizade
e de muita cordialidade entre eu e essa meninada, eu fico
emocionado quando eles me escrevem e tenho tempo pra isso, o
problema todo é que eu não tenho mais tempo. Na época que o
J.P. surgiu eu tinha mais tempo. Na época que o J.P. surgiu
eu tinha uma empresa, e essa empresa é que me bancava os
custos de 3 funcionários lá na Bahia, lamentavelmente a
empresa quebrou, eu também quebrei e até um dia desses eu
estava com a mão na frente e outra atrás, graças à Deus
coloquei o meu escritório de advocacia aqui,
junto com os meus meninos e estamos tentando recuperar
um pouco do tempo perdido, um patrimônio de 30 anos, e começando
do zero, e conseqüentemente hoje eu estou sem nenhum
auxiliar, sem nenhuma pessoa que me ajude a digitar esses
textos, eu quero contratar um jovem estagiário, uma pessoa
que precise realmente ganhar uns trocados é pra me ajudar
nessa parte de fazer o jornal. Mas ele é absolutamente sem
censura. E recebemos a todos sem nenhuma descriminação,
inclusive os inimigos que eu nem os tenho, os supostos
desafetos eu os publico e a eles é que eu publico melhor, com
muito mais destaque, pra fazer mais raiva a eles, e ainda
mando a cópia pelo correio, mas isso é muito saudável.
Agora, o problema da literatura dita brasileira no Rio/São
Paulo. O problema eu não chamaria nem de máfia, nem de
corrupção, nem de nada. O problema é o seguinte: é que os
jornais de Rio/São Paulo, eles circulam aqui no Ceará,
circulam na Bahia e circulam em Manaus, e os jornais daqui não
circulam lá, então tudo que circula de uma maneira nacional
se diz brasileira. A Folha deve vender aqui no Ceará mais
jornais do que alguns pequenos jornais daqui. Então a Folha
de São Paulo circula aqui. Logo a poesia publicada na Folha
se chama poesia brasileira, esse é um problema só geográfico,
sociológico, sei lá como se chamaria, mas, a vantagem da
INTERNET é precisamente romper essa panelinha quer
dizer, a INTERNET pode estar, esse jornal de poesia pode estar
em Singapura e fazendo a mesma quebra de grupelhos que existe
hoje, então eu publico uma poesia no J.P. Aqui no J.P. e o
leitor nem sabe onde é que ele está hospedado, porque ele
está hospedado na via INTERNET e a INTERNET é mundial e o
detalhe dele está aqui na SECREL, que tem me dado uma ajuda
fantástica, uma provedora
aqui do Ceará em nada desnatura o dom da universalidade dele,
então isto é que é o importante da INTERNET, o poema
circular mundialmente, não é nem nacionalmente, cruzando
toda essa fronteira e isto ainda proporcionar, porque uma
coisa que tem muito importante na INTERNET, e as pessoas ainda
não se deram conta, não é somente
a página, mas o retorno da literatura epistolar, como
se escreve na INTERNET !, eu recebo uma base de 50 à 100
cartas diárias de todos os cantos do mundo, eu respondo
todas, eu mesmo, pessoalmente, não deixo atrasar nenhuma.
Agora, o fantástico dessa literatura eletrônica. É que ela
sai de todo jeito, ninguém revisa, sai na louca, mas isso é
uma beleza, isso é um comunicador estupendo...
Cláudio
Portella: Você fala na amplitude, mas não há de convir que é um jornal caro.
Se você fizer comparação com o jornal impresso que custa R$
1,00, e o J.P. Você tem que ter um computador conectado a
INTERNET.
Soares
Feitosa: Não poso raciocinar nesses termos, se eu for pensar nisso, vocês são
meninos na minha frente, quando eu comecei na escola da minha
mãe não se tinha caderno nem lápis, era uma lousa e um tal
de crayon então
pegava a lousa e escrevia-se, eu não sei nem que diabo de
crayon era
aquele, até gostaria de reencontrar, era uma pedra, um carvão,
sei lá que diabo é crayon em
francês, e você escrevia na lousa, passava um pano e
apagava, não tinha lápis nem caneta, hoje se você mandar um
menino escrever num crayon ele vai dar um pulo bem acolá, então
eu não vou raciocinar nisso, evidentemente se o computador,
quem não tem computador
vai ter, isto é inarredável, as escolas vão ter computador,
toda empresa hoje tem computador, chegou ao ponto de na
Receita Federal, onde eu trabalhei o tempo todo, quando eu
cheguei na Bahia tinha um único computador na minha sala,
sexta-feira eu estive na R.F., e um formulário que tem pra
preencher em máquina de escrever o delegado, disse: olha esse
formulário está completamente desativado porque ele é feito
para preencher em máquina de escrever. E nós não temos
nesta repartição uma única máquina de escrever mais, então
vejam, o computador toma conta de tudo, em todos os setores,
todas as empresas têm computador. Então essa alegativa que não
tem computador, no clube tem, no sindicato tem, na igreja dele
tem, na casa da rapariga dele tem, em suma, já tem
praticamente em todo canto. Então é uma coisa, que você
diz, rapaz, eu ando é de pé, porque eu não tenho carro,
peraí meu amigo, mas tem ônibus, tem, tem,tem, como é que
chama aí, tem topic,
tem, tem, carona dos amigos. Então o sujeito vai terminar, um
dia, andando de carro, nem que você não queira, um dia vão
lhe pegar e lhe botar dentro de uma ambulância , você vai,
ou até na rádio patrulha, sei lá, mas ninguém, jamais,vai
poder dizer que não andou de carro, porque não tem carro(
risos). Isso, isso é... Não acredite nisso. Então, eu venho
acreditando no crescimento, quer dizer, quando eu comecei no
J.P., eu recebia, eu recebia, quando eu, quando eu atingi
trinta leitores dia, eu fiquei assim estupefato. Rapaz, trinta
leitores! Hoje eu recebo uma base, o, o, o meu provedor,
disse, olha
o que assombra no J.P.; porque ele tem esse controle, é,
é a procedência dos acessos. Quer dizer, é gente da
Áustria, é gente do Canadá, é gente do Piauí, é gente do
Crato, é gente lá do Rio Grande do Sul, é gente da
Argentina, quer dizer, hoje eu tenho uma base de mil leitores
dia, e quero chegar já, já, a dez mil leitores. Eu quero que
o J.P. seja um foco de, de, de pesquisa, de ensino, de memória.
Uma das seções muito extraordinária...
Carlos
Emílio: Vamos falar das seções.
Soares
Feitosa: Vamos, uma seção muito extraordinária que eu tenho no J.P., e comove
as pessoas, assim, fantasticamente, é o Achados e Perdidos.
Vejam, a minha...
Carlos
Emílio: Em que consiste o Achados e Perdidos?
Soares
Feitosa: Consiste no seguinte: a minha mãe cantava “ Não há decerto/ não há, não
há/ como as praias do Ceará” (cantando). Vejam,
isto é uma canção da infância. Eu, um dia desses botei no
J.P., e veio a informação, com a letra completa, é da Diva
Câmara, sei lá quem é
Diva Câmara!
Carlos
Emílio: É daqui do Ceará?
Soares
Feitosa: É claro que é, se ela canta as praias do Ceará.
Cláudio
Portella: Deve ser parente do historiador Christiano Câmara.
Soares
Feitosa: Deve ser parente aí dos Câmaras, Dom Helder Câmara, Christiano.
Vejam, então um leitor me disse “Olhe,
minha mãe tem oitenta anos e pediu uma canção, uma poesia
que ela recitava quando criança, e que ficou perdida no
tempo.”. Então vejam, essas pessoas se emocionam de
dizer que não conseguiam lembrar determinada poesia, agora o
que impressiona, o que impressiona é que a maioria dessas
poesias esquecidas, entre aspas. Tão todas no tesoura da
juventude. Que coleção estupenda! Então eu
lance O Sítio
do Tesouro da Juventude, e ta lá o Raimundo Correia soltando
as pombas, e ta lá o Kipling, eu tive que publicar o
Kipling de tanta exigência, eu que me fizeram, traduzido,
traduzido do Bax...,
traduzido pelo, pelo, pelo, não, traduzido pelo... Pelo...
Agora me escapuliu, mas deixo pra lá, eu acho que é o
Raimundo Correia, não! Não! Não é quem traduz, peraí, não
me lembro agora quem é que traduz, daqui a pouco eu me
lembro. Então é isto, essa memória, esse resgate, eu acho
isto estupendo, é a grande página...
Carlos
Emílio: Machado de Assis!
Soares
Feitosa: Não, não! Daqui a pouco eu me lembro dele...
Cláudio
Portella: Um outro poeta chamado...
Carlos
Emílio: É aquele poeta do Haicai brasileiro...
Cláudio
Portella: Luís Gama!
Soares
Feitosa: Claro, tá lá o Luiz Gama, o
difícil hoje na INTERNET, no J.P., é você entrar com um
poeta mais ou menos consagrado, relativamente consagrado e ele
não está lá, isso é o difícil e assim que eu o encontro.
Hoje por exemplo! Eu encontrei um poema do Gilberto Freyre, no
Jornal A TARDE da
Bahia. Hoje eu já selecionei pra botar, abrir uma página da
poesia do Gilberto Freyre. Ninguém sabe que ele fez uma ou
duas ou três poesias.
Carlos
Emílio: Saiu na Cult um poema dele
sobre a Bahia.
Soares
Feitosa: Não me lembro, são os tais poetas bissextos...Então eu to lá
publicando, fazendo essa coisa toda. Paralelamente tem a Seção
de fofocas e maldades, quer dizer, essa eu acho fantástica
(risos). Alguém aí desce a lenha no Floriano...
Cláudio
Portella: Literatura não sobrevive sem isso, não é mesmo?
Soares
Feitosa: (eufórico) Claro que eu publico, eu publico contra o Floriano, publico
contra mim, publico a favor do Floriano, eu acho estupendo
essa turma fazendo essa guerrilha de comadres, não tem nada
de grave, e também eu não publicaria uma ofensa pessoal, mas
o cabra dizer que o outro é analfabeto eu acho isso
extraordinário, ainda que digam comigo eu publico sim, claro
que publico. Esta seção é movimentadíssima. Tem gente que
se perturba e depois cai na gandaia. Eu digo: rapaz, responda,
esculhambe, ou mande um amigo seu responder, em suma fazemos
isto. Assim com muita, com muita, muita, muita brincadeira. Um
dia desses o Filipe Fortuna, desceu a lenha no Thiago de
Mello, que para mim é um poeta extraordinário, eu desci a
lenha nesse Felipe Fortuna… (risos) Agora eu desci a lenha
usando as palavras dele mesmo, Felipe, no fim de contas não
ficou com raiva de mim de jeito nenhum, pelo contrário,
mandou os poemas dele, e temos uma boa camaradagem. Eu acho
essa interação, também até pelo, pelo jocoso, pelo
moleque, que é uma característica nossa, do Ceará Moleque,
muito interessante no J.P. Em suma, na parte de crítica literária
é uma seção muito importante e. Eu publico lá o Wilson
Martins, o Miguel Sanches, os daqui, inclusive o que eles
escreveram contra mim eu publiquei e assim por diante, eu acho
isto estupendo essa, esse, essa publicação de crítico, Aleilton
Fonseca, o Carlos Emílio, aqui, disse que vai escrever uns
artigos também na área de Crítica Literária. Eu acho muito
bom o leitor ter, poder se situar em termos de corrente...
Carlos
Emílio: Eu acho que você tem que entrar agora era uma coisa que eu queria falar
a, a, a, as fronteiras, ta falando da abolição de fronteiras
que a INTERNET ocasiona, e a ambigüidade de quem participa
dela, eu acho que você deveria pensar também na ambigüidade
da poesia, que a poesia não é só um verso, a poesia não é
só... um verso, o, o espaço, é, é, é, manipulado da página,
de alguma forma que pareça poesia, as vezes, muitas vezes,
muitas coisas que aparentam ser poesia, não são poesias,
mesmo estando em versos, ou mesmo tendo algum ritmo, e mesmo o
ritmo, e mesmo o ritmo gráfico, visual na página. Eu
sugeriria que você começasse a pensar na abolição das
fronteiras entre prosa e poesia e pensasse na proesia, no
poema em prosa, no Rice, dessas coisas que desde o simbolismo,
já se, já se instituiu que a poesia ultrapassou as
fronteiras, quando hoje se pode pensar até que o grande poeta
do século não escreveu apenas um livro de versos, apenas,
apenas um livro de versos, ele escreveu “MÁGOA”, mas a
obra em prosa, que é o João Guimarães Rosa, Clarice
Lispector, posso citar outros, como Lúcio Cardoso, Ablan
Nassau, Osman Lins, toda essa gente participou de uma forma
direta de uma revolução que transferiu a poesia para o, o,
para a aparente, prosa, vitalizando novamente a prosa com o
germe imortal da poesia, então é a sugestão que lhe dou,
porque acho que a única; digamos assim, até porque eu não tô
ai, não to no J.P. Eu não publico, é, é, é versos, ou
muito raramente, ou apenas os digo em praça pública nas
Rodas de Poesias. Então é isso que eu queria te chamar atenção,
pra esse fato...
Soares
Feitosa: Esse fato foi pensado, veja, na época em que eu criei o J.P. É, e lá
na Bahia eu tenho um grande amigo, um amigo espetacular que é
o Hélio Pólvora, crítico. E nós somos muito amigos em
termos de família, a mulher dele com a minha mulher e os
filhos, essa coisa toda, a gente, uma camaradagem muito
grande, ele até dizia que umas das poucas casas que freqüentava
lá na Bahia era a minha. Eu convidei o Hélio Pólvora párea
lançar o Jornal de Contos, e propus o seguinte: nem eu
publico conto, nem ele publica poesia. Então eu tenho essa
fronteira de cavalheiros, onde eu não posso... Por mais que o
conto seja poético eu não publico, minha tese até vai mais
além; é que o poético tem de estar necessariamente na
prosa, porque se não estiver a prosa passa a ser... A prosa
necessariamente é poética, nenhuma prosa que subsistiu ao
longo dos séculos deixou de estar impregnada de poesia, e de
grande poesia, ela perece, como perece os relatórios médicos,
receituários médicos, os relatórios de fábricas, os
manuais de fabricação, onde não tem nenhuma poesia, eles são
tão transitórios quanto a máquina que eles, que eles
relatam. Então as poesias, entre aspas, que não são poéticas,
elas desapareceram tremendamente. Como eu não faço
julgamento no J.P., pra adotar esse critério de pegar de
prosa o que tivesse poético, eu me obrigaria a tirar de
poesia o que não fosse poético, como eu não quero fazer nem
uma coisa, nem outra, eu quero deixar essa idéia pra bem
distante. Uma experiência que tem sido feita no J.P., porém,
tem sido a
parceria, entre aspas. Augusto de Campos, um dia desses pegou
os textos de Euclides da Cunha e transformou em versos. Eu peguei uma crônica do Arnaldo
Jabor, sobre o ano novo, não sei bem
qual deles, o 96 ou 97, e não tirei, nem botei nenhuma vírgula,
e fiz uma metrificação, entre aspas, em versos livres, mas
de uma que ela ganhou um ritmo, e eu tenho recebido,
inclusive de professores de literatura, como é o caso do
Carlos Felipe Moisés, elogios espetaculares, embora que o próprio
Labor, Gabor, sei lá como é o nome desse filho-da-puta,
nunca tenha respondido nem pra agradecer...
Cláudio Portella: Jabor.
Soares
Feitosa: Jabor, jabá, sei lá..., nunca tenha respondido nem pra agradecer ou
comentar, mas isso é outra história, eu cito lá o texto e a
autoria dele e no final que apenas metrifiquei, entre aspas. Já
fiz isso com uns pedaços do Iracema, já fiz isso com o
“Canudos não se Rendeu”, que eu acho uma página
estupenda. O “Ocrides” da Cunha, como eu gosto de chamar,
ele pode ser escrito todo em poesia, é questão de alguém
ter trabalho; rapaz vou desdobrar “Os Sertões”,
metrificar “Os Sertões”, não precisa acrescentar nem
modificar nada, porque...
Cláudio
Portella: Fica até mais fácil para ler.
Soares
Feitosa: “Os Sertões” é um estupendo poema. “Canudos não se Rendeu”, eu
fiz e, e vou mandar pra vocês, porque, modesta a parte, ficou
muito bonito. E o Alencar também, eu chamo “Cantata de
Iracema”, projeto que eu tenho de fazer sobre um livro do
Ceará, eu fiz a abertura do, do, do... Não é minha terra
tem palmeiras! Agora eu to todo confuso que eu tenho a memória
muito ruim, é as serras lá do horizonte, aquela coisa toda lá
do “Iracema”. Então eu acho isso, eu não gostaria de
criar esse Sítio de Prosa. Primeiro, porque não tenho
recursos para isso, se tivesse até seria muito interessante,
uma coisa que tá aparecendo na INTERNET são os... ou seja,
é fazer uma cópia, você vai lá e tem, por exemplo, “A
Moreninha”, do Manuel, Manuel Macedo lá de não sei lá mas
de que...
Cláudio
Portella e Carlos Emílio: (juntos) Joaquim Manuel de Macedo.
Soares
Feitosa: Joaquim Manuel de Macedo! Aí você clica e vem aquele arquivo
integralmente para o seu computador, do livro completo “A
Moreninha. Então, eu acho isso uma coisa estupenda, dentro de
pouco tempo você pode formar uma extraordinária biblioteca
dentro de casa. A universidade Federal de Santa Catarina,
através do Alkimar, Alkmar não sei lá de que, agora me
lembro o sobrenome, um poeta também, um cara muito distinto,
ela tá colocando ao dispor, para não usar o
disponibilizando, é, uma série de autores, nesse sistema,
quer dizer, o livro completo. O Machado de Assis, está
praticamente completo na INTERNET, você clica lá e puxa o
arquivo pra abrir depois na calma...
Carlos
Emílio: Aí, você imprime?
Soares
Feitosa: Imprime! Imprime dez páginas e leva pra ler no banheiro, sei lá, ler na
rede. Imprime outras dez, e risca, e comenta. Eu acho isso uma
participação fantástica, você ter um livro eletrônico em
casa. Ou seja, em suma, a INTERNET tá criando esses milagres,
é uma coisa da gente não acreditar, é a grande biblioteca
do futuro. A tal da INTERNET, eu não tenho dúvidas disso.
Carlos
Emílio: Que outros no Brasil, vamos dizer assim... Antes eu queria dizer o
seguinte quando você disse da vantagem de não saber onde o sítio
tem raízes, se um determinado fulano é da Bahia, ou de Santa
Catarina, ou do Ceará...
Soares
Feitosa: Não! Isso não! Porque eu coloco a biografia em todos os autores.
Carlos
Emílio: Eu to falando de outro aspecto, no aspecto das revistas eletrônicas...
Soares
Feitosa: Não, Não, Não, Não...
Carlos
Emílio: Eu acho...
Soares
Feitosa: Não, Não, Não, Não...
Carlos
Emílio: Me interessa saber...
Soares
Feitosa: O J.P., a primeira coisa que ele abre é com uma linha chamada
“Expediente Responsável”, onde tem meu endereço, meu
telefone, tem meu E-mail, tem até meu celular, eu nunca
deixei de atender um telefonema. ‘E a perfeita identificação
do irresponsável que tá fazendo o J.P., que sou eu, tem até
uma fotografia, fotografia não, uma pintura ali, da ,da, da
irm... da cunhada do Gerardo Mello Mourão, que é uma artista
plástica extraordinária, lá com essa minha caricatura aí, tá lá, não é escondido não, não é amoitado não.
É a Maura Barros de Carvalho.
Carlos
Emílio: Deixa eu te falar uma coisa que eu queria te perguntar: É que outros é,
é, sítios de poesias e de literatura você gostaria de citar
como seus co-irmãos nessa luta para a democratização da
poesia?
Soares
Feitosa: Do J.P. pra cá, surgiu muita coisa boa, da amplitude do J.P. não surgiu
ninguém, porque eu levo a vantagem de ter três anos, e de
ter feito profissionalmente, entre aspas, porque a empresa que
eu tinha pagou os funcionários, eu cheguei a ter uma equipe
de três digitadores, e comigo também, é, a gente botava no
ar, diariamente não sei quantos poetas, então, eu tenho,
decididamente um quantitativo astronômico.
Carlos
Emílio: Quantas páginas dariam, mais ou menos?
Soares
Feitosa: Se for imprimir, eu acho, que dá muito mais de cem mil páginas, não faço
nem idéia de que tamanho. Tem a poesia completa do Fernando
Pessoa, do Camões, do Gonçalves Dias, do Castro Alves, do
Augusto dos Anjos...
Carlos
Emílio: Tem a poesia completa de algum autor cearense?
Soares
Feitosa: Não, aliás tem, a do Gerardo de Mello Mourão, por uma admiração
particular minha.
Carlos
Emílio: Me lembro que a uns cinco anos atrás ele falava muito em você, ele
ficava muito fascinado e também aderiu o computador, num
certo sentido por sua causa.
Soares
Feitosa: Exato! Quer dizer, então, é isto, agora, é, é, um mundo de gente,
agora, é, é, em suma, como eles sabem que o J.P. é aquela
feira, aonde vai, o vigário vai lá receber o foro, o
prefeito vai visitar os correligionários, os caboclos vão
vender uma galinha, os ladrões vão lá bater carteiras, e
assim por diante, ou seja, não estou dizendo que o J.P. tenha
ladrões não, mas onde tá lá todo mundo, criou-se,
criaram-se, necessariamente sítios elitistas, o Frederico
Barbosa, por exemplo criou um sítio muito interessante com as
poesias dele, obviamente, e com os cupinchas dele, que são o
pessoal dos irmãos Campos, e até desceu a lenha no J.P., e
isso gerou uma polêmica medonha.
Carlos
Emílio: Dizendo o quê?
Soares
Feitosa: Dizendo que o Sítio de poesia, que lá tinha alguma coisa boa, mas tinha
muita gente que não prestava.
Carlos
Emílio: Pois esses caras é que são os responsáveis pela centralização
cultural desse país, deixe eu só te dizer uma coisa que o
fundamental no seu jornal, é a democratização, não é você
ter uma quantidade enorme de poetas contemporâneos, onde você
pode ver qual o endereço desse cabra aqui: é tal. Aí pegar
e acessar direto à ele, você tem uma lista de endereços
formidável, coisa que eles sempre mantiveram os endereços
pra pessoas se comunicarem, se entrelaçarem,...
Soares
Feitosa: A rigor eu sou um Lutero, eu to traduzindo a bíblia para a língua germânica,
para o nosso português, desmafiando a poesia, botando o
endereço dos poetas no ar, abrindo os E-mails, em suma, eu
desci a lenha no tal do Frederico, depois fizemos as pazes
belamente (risos), tá entendendo? Hoje, nós somos grandes
amigos. Mas eu desci a lenha nesse cabra (risos). E ele viu
que tava fazendo besteira, porque a turma, a máfia do J.P.,
entre aspas, caiu em cima dele.
Carlos
Emílio: É o Alexandre Barbosa? Que é da
Cult?
Soares
Feitosa: É! O Fred Barbosa, e eu acho ele um extraordinário poeta, um grande
professor...
Carlos
Emílio: Ele é um pouco retórico...
Soares
Feitosa: Isto é uma outra história, mas é um bom poeta, e hoje estamos as boas,
agora surgiram necessariamente os sítios...
Carlos
Emílio: Quais são os outros?
Soares
Feitosa: Digamos o, é, não tem muitos aí, a Leila Micollis, que edita o pessoal
do Blocos que é o
pessoal que ela publica, e tem a Garganta
da Serpente, que é uma jovem lá de São Paulo, que
publica também...
Carlos
Emílio: Você tá pondo o endereço desses sites?
Soares
Feitosa: A sim, tô, tô!
Carlos
Emílio: Aonde estão esses
sites?
Soares
Feitosa: Estão nos Links gerais de poesias. Veja, o jornal de Poesia é tão xenófobo
tão portuguesista que a poesia inglesa de Fernando Pessoa, eu
não publiquei, porque naquela hora deixou de ser poeta da
lusofonia, ele é poeta da língua inglesa, então o cabra
manda poesias pra mim escritas em Inglês e eu não publico.
Cláudio
Portella: E porque não uma tradução?
Carlos
Emílio: O meu propósito é tirar da caverna os poetas de língua portuguesa. Eu
quero publicar as traduções daqui pra lá. Isto é que é o
meu orgulho. É pegar o Castro Alves, é pegar o Navio
Negreiro e publicar em seis Línguas como eu tenho hoje. Aí
sim, eu tenho o Fernando Pessoa, publicado em Espanhol, eu
tenho o Carlos Drummond de Andrade publicado em Latim, Inglês,
Francês. Eu quero é os daqui pra lá é a Lusofonia para o
mundo, quer dizer, eu quero é invadir o mundo, não ser
invadido.
Cláudio
Portella: Soares, eu tava vindo no ônibus, e fiz algumas perguntas: Porque tanto
tempo para se descobri poeta?
Soares
Feitosa: Eu!
Cláudio
Portella: Sim, você.
Soares
Feitosa: Eu não faço a menor idéia, eu me pergunto, a minha mulher me pergunta,
meus filhos me perguntam...
Cláudio
Portella: Já lhe fizeram essa pergunta inúmeras vezes, não é?
Soares
Feitosa: Infinitas vezes, eu mesmo não sei responder, não tem explicação. Um
belo dia o meu mundo desabou, meu mundo era um mundo tributário,
era os meus colegas
da repartição, eu era um tributarista, quer dizer, voltei a
ser um Tributarista..Eu tinha açougues lá no Recife, eu me
reunia com os meus colegas açougueiros, com o pessoal do
sindicato de carne, nem as reuniões da UNAFISCO.
Aquelas pessoas pra mim não me diziam mais nada, embora
continuassem
amigos meus. Agora, isso não tem a mínima explicação,
porque eu não tinha livros de poesias em casa, eu não lia
poesia, eu não conhecia os poetas. José Alcides Pinto eu
nunca tinha ouvido falar, nem Arthur Eduardo Benevides, nem
Carlos Emílio e nem ninguém do ramo de poesia. Eu não tinha
nada com isto, a minha leitura de poesia era apenas os clássicos.
E o que eu chamaria de Clássico, da semana de arte pra trás.
Eu reputava a semana de arte, para mim um absurdo, uma
loucura, uma blasfêmia, um verdadeiro ódio eu tinha dessa
tal semana de Arte, como tinha também da República. Mas isso
já é outra história (risos). Então, a rigor, eu era um
retrógrado mesmo, com absoluta consciência disso, e sei lá,
um belo dia eu escrevi uma doidice. Desses poetas contemporâneos
o único que eu conhecia um pouco era o Gerardo de Mello Mourão,
porque há 20 anos, o Juarez que é meu primo que eu conhecia
como primo e não como poeta, chegou lá em casa com um padre
velho e esse livro desse Gerardo, e eu li o livro desse
Gerardo e eu digo sim, aqui tem poesia! E fiquei muito
assombrado com aquilo, mas esqueci, não sei
nem onde tinha perdido o livro, depois nem encontrei
mais. E escrevi esse texto em 93 e a partir desse texto minha
vida sofreu uma reviravolta absoluta, eu me obriguei conseqüentemente
a ir a Livro 7 lá em Recife, que era a maior livraria da época,
e comprei uns 3 metros de poesia, uns 3 metros, exatamente
isso, eu cheguei na estante de poesia e pei, pei, pei, pei,
gente que eu nunca tinha ouvido falar, Afonso Romano, e, e,
Thiago de Mello, e, e, sei lá mais quem, mais um monte deles,
e os comprei todos, e levei pra casa, e fui ler, e obviamente,
tem muita coisa boa neles, também muita coisa excelente,
claro que tem...
Carlos
Emílio: É mais ou menos, aquela coisa das conversões, é, de São Paulo, de, de...
Soares
Feitosa: Santo Inácio, é.
Carlos
Emílio: Santo Inácio, daquelas pessoas que tavam, no, no... e parece que em você
ocorreu, em certa medida, uma, uma... O Espírito Santo, ou
seja lá o que for baixou aí. Esse homem aí têm meios, então
vamos usar esse homem, que é um homem rico, vamos usar esse
homem pra ajudar a poesia, porque ela tá numa situação
muito periclitante.
Soares
Feitosa: O meu compadre primo, que é um intelectual, meu conterrâneo, meu primo
e meu compadre, nós nos tratamos de compadres primos. Ele
disse: Compadre, eu tenho certeza que você anda com um enxame
de espíritos lhe atazanando. Compadre, eu nem acredito nisso,
com todo respeito a quem acredita. Eu não sinto a necessidade
de acreditar em alma do outro mundo pra justificar esse meu
fenômeno. Mas que ele também não se justifica racionalmente
dentro do meu racionalismo, não! Absolutamente não! Eu era
um açougueiro, eu peso uma boiada, basta olhar, e eu já
digo, quantos bois têm e quantos quilos dá. Um boi eu peso,
o dito boi, e digo quantos quilos de carne ele dá, se dá uma
carne aproveitável, se não dá o rendimento, o chamado
rendimento eu também faço, eu corto um boi como vocês nem
imaginam como se corta um boi, e faço uma carne de sol e um
churrasco como pouca gente faz. Mas isso não me diz mais
nenhum interesse, desapareceu. Isto desapareceu do meu
pensamento, eu ia dormir paralelamente com bois e com tributos
que era o meu outro lado profissional, o tempo todo e hoje
claro que eu penso aqui nos meus assuntos do escritório, pelo
dever profissional, mas também não me diz nenhum interesse
emocional.
Cláudio
Portella: Nesses sete anos você já ganhou algum dinheiro com poesia?
Soares
Feitosa: Nenhum dinheiro, pelo contrário eu só gastei muito dinheiro.
Carlos
Emílio: Teve apoio de alguma entidade?
Soares
Feitosa: Nenhum apoio. Também nunca fui muito atrás não e acho
que nem vou, nem devo ir, entende, eu...
Cláudio
Portella: É muito cansativo.
Soares
Feitosa: Eu prefiro, digamos, o meu raciocínio é o seguinte, se eu for gastar 10
dias correndo atrás de um político pra conseguir uma verba,
eu corro dez dias atrás de uma empresa onde eu preste um bom
serviço e fature um bom dinheiro e emprego naquilo ali sem
ficar devendo favor
a ninguém. Eu prefiro, dentro desse raciocínio, dispor de
meu tempo pras atividades produtivas, na minha atividade que
hoje é tributária, e pagar um dízimo à poesia. Então, eu
quero contratar, ainda não contratei, porque não consegui,
eu tinha, foram todos embora por falta de dinheiro(risos), de
pagamentos, mas hoje eu estou podendo pagar novamente, contratá-los
de volta. E quero detonar outra vez o J.P.
Carlos
Emílio: Eu queria te perguntar mais uma coisa, como é que tem sido a repercussão,
você falou da Expresso de Portugal, mas, vamos ser justos,
aqui, como é que tem sido ao longo desse tempo, quantos anos
o J.P.?
Soares
Feitosa: Quatro anos, vai fazer quatro anos.
Carlos
Emílio: Nesses quatro anos que tipo, eu vi outro dia um comentário é, dá Flora
Sussenkind, no Jornal do Brasil, e depois eu acessei aí, é,
no seu sítio e verifiquei que havia poucas, não sei se por
pouca vaidade sua, você não colocou tudo que tem saído. Mas
assim, na grande imprensa, digamos assim, eu tenho notado, a
repercussão tem sido aquém da merecida em relação ao seu
J.P. É verdade isso?
Soares
Feitosa: É, o problema tem sido seguinte: os jornalistas também não estavam
internados, a internetação dos jornalistas é coisa muito
recente. Aqui a equipe do Jornal
O Povo, quando eu cheguei aqui não sabia nem o que
era INTERNET, depois o profissional do Jornal O Povo hoje está completamente ON-LINE, é, eu tive a
grata surpresa do J.P., ter recebido uma chamada na primeira página
da Folha de São Paulo através do Marcelo Coelho, e ele
escreve uma página belíssima que eu publico aí também. No Globo
nunca saiu nada nem no Jornal
do Brasil, nem...
Carlos
Emílio: Só pela Flora?
Soares
Feitosa: A Flora...
Carlos
Emílio: A Flora Sussenkind.
Soares
Feitosa: Se falou no J.P. eu não vi.
Carlos
Emílio: Saiu, eu lhe falei, ela registrou naquela secção que ela tem no Idéias.
Soares
Feitosa: Não, quem eu vi registrar sobre o J.P. é a Heloísa.
Carlos
Emílio: Foi a Heloísa, desculpe-me
Soares
Feitosa: Heloísa
Cláudio
Portella: Heloísa Buarque de Holanda.
Carlos
Emílio: Eu confundi.
Soares
Feitosa: Essa Flora, por exemplo, já escrevi diversas vezes pra ela, mas deve ser
uma pessoa muito ocupada, ou...
Cláudio
Portella: Ela nunca lhe respondeu?
Soares
Feitosa: Ela não dá a mínima pros autores tupiniquins, o fato é que...
Carlos
Emílio: Não, só dá pra panelinha.
Soares
Feitosa: É o fato é que ...
Carlos
Emílio: Silviano Santiago, João Gilberto Now, João Gilberto Now e João
Gilberto Now.
Soares
Feitosa: É,
Now.(risos)
Carlos
Emílio: É aquela turminha(risos) Sérgio Santana(risos).
Soares
Feitosa: É, essa senhora nunca me respondeu nada. É, obviamente quando ela
publicou um artigo sobre poesia, eu goste ou não goste do que
ela escreve, eu coloco citando a fonte, citando o jornal dela
também, é claro. Mas paralelamente tem outros aí que
participam ativamente, o próprio Afonso Romano de Santanna,
com quem tive um pega inicial
muito grande hoje somos grandes amigos. Ele sempre que
tem oportunidade bota o J.P. nas nuvens e assim por diante. A
Heloísa também, a Heloísa, a Heloísa ficou muito brava comigo, com
as histórias das fofocas. Porque o artigo do Felipe, tem um
artigo do Felipe, o veneno do Felipe Fortuna, o primeiro deles
foi contra a Dona Heloísa. E eu fiz uma defesa da Dona Heloísa
meio jocosa, e ela ficou muito brava comigo, depois a gente
entrou nas boas e, e, nos correspondemos...
Carlos
Emílio: O André Seffrin, foi quem pediu que fizéssemos essa entrevista.
Soares
Feitosa: Grande amigo meu.
Carlos
Emílio: Ele
disse: rapaz,faz logo essa reportagem com o Soares Feitosa...
Soares
Feitosa: Esse cara é estupendo, o Seffrin.
Carlos
Emílio: Eu acho também, grande amigo nosso, colaborador e tudo, no Idéias. Mas
o que eu quero lhe dizer é o seguinte é que ele disse que um dos motivos... Porque essa coisa
do Soares Feitosa não tem maior repercussão do que já
deveria ter muito maior do ponto de vista da imprensa de
papel, até tô brincando contigo, de papel.
Aí ele me disse que é por causa da seção das
fofocas, o pessoal se chateia.
Soares
Feitosa: Mas não é por isso que eu vou retirar as fofocas. Mas a resposta é
interessante, essa Heloísa estava brava comigo; depois
pra amansá-la não foi fácil, entende. Eu tenho certeza que
o Silviano, também é muito bravo comigo numa
fofoca que teve aí com um cara que foi entrevistá-lo
e cometeu umas inabilidades, e eu não tive nada com esse episódio
mas ele ficou muito bravo, e até hoje não consegui nenhuma
aproximação.
Carlos
Emílio: Mas é porque essa gente aí, eu desconfio que essa gente trabalha num
setor externo aí que eu não sei qual seja, mas o que eu
queria dizer dentro desses citados aí. Eles foram a parede,
é eles foram mais ou menos, o Silviano, Flora Sussekind, é
esse grupo da crítica pós-moderna, que descobriu o pós-modernismo
no Brasil, eles criaram uma barreira, aquele movimento da
poesia Marginal dos anos 70, pra evitar que houvesse a
descentralização, eles foram ou propositadamente ou não, o
problema é o efeito, não é a causa. O efeito da posição
deles, na crítica brasileira é de exatamente represar a
cultura literária brasileira
e torná-la totalmente centrificada no Rio/São Paulo.
Esse trabalho de represar o fluxo energético dos anos 70,
quando houve aquele movimento das revistas literárias, que
está ocorrendo de novo agora, que foi em 1976/1977...
Soares
Feitosa: Eles vão conseguir só parcialmente enquanto não se consolidar mais e
mais a Internet. E trabalha contra eles um fato extraordinário
que é a morte, essas pessoas morrerão com toda certeza
morrerão, e este projeto ele é muito maior do que eu.
Carlos
Emílio: Do que EUS?
Soares
Feitosa: EUS, esse projeto veio pra ficar, o J.P. não me pertence mais. Hoje ele
é um grande armazém, um grande repositório, ele é uma
grande fonte de pesquisa; se eu desaparecer, tenho certeza
que alguém o continuará, então é um projeto que está
acima deles, eu tenho certeza disso... jogo com o fator...
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