Aníbal Beça
Zemaria Pinto
Cantar de Amigo
Cantar de amigo ao poeta Anibal (Ferro Madureira) Beça também
Augusto e Neto por fortuna para em voz alta ser lido na translúcida
passagem de seus redondos cinqüenta anos
Fiz do título um brinquedo
com teus metros preferidos
meu caro amigo Poeta
mas fixo-me em redondilhas
redondas magas palavras
pra tornar o itinerário
desmedido desde sempre:
sempre que é ontem, passagem
sempre que é hoje, premissa
sempre pra sempre: primícias.
(Um deus e um demônio em si
o tempo o corpo enfraquece
mas o espírito guerreiro
do poeta fortalece.)
Já se passaram trinta anos
desde o “convite frugal”
que fizeste à musa em fuga.
Trinta messes, mesas fartas
de suculenta poesia
comungada em trinta cantos
cantados por toda gente
flor de semente plantada
na vila de São José
da Barra desse rio Negro.
(“Trotamundo”, trota o tempo
em cascos de aço e de vento
levando qualquer saudade
aos confins do esquecimento.)
“Um pássaro risca na tarde
a cambraia do seu canto”:
não se engane, é o poeta
tecendo um canto de rendas
na manjedoura-maromba
onde nascem curumins
“filhos da várzea” e da fome
mas também dessa esperança
que nos conserva poetas
pesar de todas as penas.
(Penas que o tempo não cura
não lava e leva no ar;
mas, ah, se o tempo as levasse
não valeria penar.)
Companheiras de aventuras
a canção e a poesia
sempre juntas se estreitaram
nas firmes mãos do poeta:
lembro daquele lundu
que em fogo a memória grava
e do doce que emanava
do corpo suave da moça
sob uma lua encantada
cantando “Marapatá”.
(Tantas canções outras há
que a viola se intimida
mas inda dez versos faltam
pra eu concluir meu cantar)
Neste 13 de setembro
entre décimas e quadras
abraço também Eugênia
esteio de tua casa.
Ceifas, por fim, te desejo
da Poesia, os arcanos
para que possas, Poeta
cantar à noite que nasce
cantar pra nascer o dia
inda por mais cinqüenta anos! |
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