X
A ave hedionda, entretanto, erma, a encimar o busto, Sobre cuja brancura as asas distendia, Como se essa palavra o sentido mais justo Tivesse e contivesse a suprema harmonia; Fosse do pensamento um invólucro augusto
Eu que continha mal toda a minha saudade,
Assim também te irás, mal rompa em luz a aurora!
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XI
Todo o assombro em meu ser por tremor se anuncia, Ouvindo a ave augural sem o menor estorvo, Tal resposta me dar, com tanta analogia Que inda agora, a lembrá-la, eco por eco a sorvo. Certo a frase aprendeu na triste companhia
Tantas vezes a ouviu, tão repetidamente
"De profundis" cruel de uma morta esperança,
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XII
Como apesar de tudo a calma conseguia Fazer-me d'alma vir, do lábio, um riso, à tona, Chegando-me ao portal, do corvo hospedaria, Sentei-me e recostei-me a uma antiga poltrona. Frente à frente do corvo, a alma já me sorria
Procuro compreender qual o escondido gozo
Que os seus vis cabedais de ciência e de linguagem
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XIII
Deixo-me após ficar como quem se extasia Entre alucinação e funda conjetura, Ante a luz da razão e a névoa da utopia, Sem nada a me apoiar a mente mal segura. Nada mais pronunciei, nem um som se me ouvia
Mas a um torpor de quem vagamente ressona,
E vejo a luz brilhar sobre o roxo veludo
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XIV
Sinto assim a envolver-me uma nuvem de incenso, Solta de um incensório oculto que pendia Das invisíveis mãos de anjos que em coro extenso Revoavam roçagando a ampla tapeçaria. Haurindo o ar aromado e, de bálsamo, denso,
Do nepentes é o sumo! Ei-lo, bebe-o! Ei-lo, esquece!
É o nepentes ideal que Deus te manda agora!
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XV
Pássaro ou Satanás, ave de profecia, Sejas ave ou Satã, sempre hás de ser profeta! Venhas do teu inferno ou da brava invernia Que náufrago te fez, acalma esta alma inquieta. Já que a noite exigiu, no vôo que te guia,
Dize-me, por quem és, se neste mundo triste,
Existe esse mendaz bálsamo da Judéia
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XVI
Profeta ou Satanás, negro ser da desgraça! Profeta sempre atroz de negra profecia, Pelo azul deste céu que sobre nós se espaça, Pelo Deus, todo luz, que em ambos nós radia, Dize a esta alma sem luz e de dúvidas baça,
Ser-lhe-á dado abraçar a virgem pura e santa,
Ser-lhe-á dado abraçar, oh! dize-o sem demora,
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XVII
Que esta palavra, enfim! de negra profecia Do teu regresso o início ambicionado seja! Regressa ao reino teu, à noite que te envia, À noite plutoniana, essa que em ti negreja! Volve! Cala essa voz que me fere e angustia!
Não quero que de ti uma reminiscência
Vai-te! Deixa da deusa a face casta e branca!
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XVIII
E o corvo permanece em perpétua estadia, Sinistro a repousar, do mármore, à brancura. Quem o contempla assim pela verdade jura Que algum sonho feroz seu aspecto anuncia. É um demônio a sonhar sonhos que o inferno cria
Essa sombra que a luz da lâmpada suspensa
E desse âmbito negro, esse âmbito de sombra,
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