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Luciano Lanzillotti
Luciano Lanzillotti
Geometria do acaso
Por Krishnamurti Góes dos Anjos (*)
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PRELÚDIO: Por um desses acasos da vida, vi-me às 6 horas da
manhã, aguardando ansioso um famigerado táxi que me levaria ao aeroporto para
mais uma viagem a trabalho. A mochila pesada no ombro entupida de projetos
estruturais e arquitetônicos, trenas, cabos e o notebook. O porteiro, de olhar
sonolento entrega-me um envelope. Dentro, o livro “Geometria do acaso” de
Luciano Lanzillotti. Muito bem, afinal! penso comigo ao tempo em que embarco no
táxi.
∞
Nas nuvens, figurativa e
literalmente, vou lendo o senhor Luciano que lança sua obra de estreia na
Literatura com um belo livro de poemas a que deu o nome de “Geometria do acaso”.
Reuniu 120 poemas de sua lavra e dividiu-os em quatro partes distintas a saber:
Esfera, Pirâmide, Cubo e finalmente, Prisma. Figuras da geometria às quais estou
muito familiarizado em virtude da minha profissão e que, em uma primeira mirada,
representam metaforicamente as questões de “formas” da existência. Questões que
sempre estiveram presentes em nossas indagações, desde tempos imemoriais, mesmo
antes até das concepções geométricas propriamente ditas.
O tempo e a memória que nada
mais é, do que as marcas que o tempo em nós imprime estão bem concentradas nos
poemas da primeira parte, a parte esférica, para usar a expressão do poeta.
Colocados de modo a nos induzir à grave pergunta e consequente constatação: como
fugir, como evadir-se de dentro de uma esfera? Não há como. Estamos presos
inexoravelmente à memória e ao tempo. Mas já aí, o poeta nos diz a que veio, e
de forma contundente, ao menos em um dos poemas, imprime uma pátina – aqui
entendida como aquela oxidação dos sentimentos que o tempo impõe e que acarretam
a mudança gradual de perspectivas decorrentes da ação do próprio tempo e da luz.
Luz é também uma palavra importante nessa obra, voltaremos a isto adiante.
Interessa salientar porque melhor traduz a intenção, consciente ou não, plasmada
no livro como um todo, e que não é simplesmente obra do acaso.
Luciano Lanzillotti
Ronaldo Cagiano
Seu livro recolocou-me na trilha da boa literatura.
Nesse conjunto de poemas, você transita pelos espaços subjetivos e oníricos da
palavra, realizando um trânsito entre o concreto e o abstrato das nossas
experiências existenciais.
A relação com o passado e a memória são pontos culminantes nos poemas do livro,
por meio dos quais você recupera aquela essência que nos conforma como ser e
como leitor-escritor.
Gosto muito dessa narrativa poética que passa em revista ao nosso inconsciente,
às nossas mitologias, esse modo de um olhar que rastreia nossa ancestralidade e
nossas raízes e dela a matéria estética viva se expressa plenamente.
Na geometria existencial você coligiu, em diversos ângulos de observação, os
acasos e ocasos que entremeiam as caminhadas, percursos sensíveis dos tantos
mundos que nos formam.
Sua poesia flerta com diversas vertentes, nascendo do observador-escafandrista,
que vai fundo, seja na apreensão dos dilemas, seja no registro da banalidade do
quotidiano: do lírico ao social, do metafísico ao político, do plausível ao
subjetivo, sua palavra vem amalgamada por uma linguagem elaborada, atravessada
por sutilezas e explosões metafóricas.
Há inegável flerte com autores e obras, fruto de suas leituras e familiaridades
estéticas: de Drummond a Jorge de Lima, de Bandeira, do popular ao erudito, o
poeta estende suas pontes, estabelece seus diálogos e instaura uma simbiose
entre instâncias criativas. Como o itabirano, sua poesia lança um olhar agudo
sobre "o tempo presente, os homens presentes, a vida presente".
Entre os vértices e vórtices da trajetória individual e coletiva, recolhendo
matéria e circunstância do visto, do vivido e do imaginário, você constrói uma
poesia de intensa, de densa expressão.
Um livro que nos traz o prazer da leitura.
Ronaldo Cagiano
Luciano Lanzillotti
Livro de poemas ‘Geometria do Acaso’
nos leva na espiral do devaneio para sentir mais os objetos e gentes
Fernando Andrade
Toda polêmica tem seus lados. Joga no ar um assunto, e logo um dos lados diz
isto é comigo, estamos com o cerne da coisa. O outro lado rebate este ângulo é
meu, ou nosso! Estamos coberto de razões, mas as linhas pelo qual passam
triângulos que nunca são amorosos, gente quadrada que parece saída de uma santa
fé inquisição, para puxar qualquer cabo de guerra onde o pensamento parece que
vai sumir pelo seu esgotamento nervoso de esgarça-lo até sua morte.
Fico imaginando o abstrato, esta figura mítica que sonda a arte e seus asseclas
muito mal comportados. Por que é preciso deixar cair o queixo, quando faço um
conto à la Cortázar, um poema com requintes de ironia à la Szymborska para que o
leitor mergulhe no seu abismo pessoal através da ficção, ou do poema. Penso
nisso, quando leio o novo livro de poemas do Luciano Lanzillotti, Geometria do
Acaso, editora Dialética, que nos desliga dos rótulos rasteiros dos conceitos
dicotômicos do que é simples aos olhos, ouvidos e bocas.
Pois o poeta quando escreve seus poemas faz do sentido vazado por imagens que
imprimem uma expressividade quase pictórica em seus devaneios poéticos. Luciano
tira de suas esferas, pirâmides e cubos, a relação da matiz do signo com certa
simbologia que passa pela cor da palavra e seus tons para ir ao significado mais
nuançado pelas gretas e fendas no final do poema onde o sentido desvanece um
pouco para fazer um pintura alusiva a neve, onde as palavras não esfriam pela
fugacidade fantasmática dos significados.
Através desta relação entre um pensamento geométrico e matemático, o poeta nos
leva ao passeio universal pelas beiradas do convívio entre gentes, ideologias e
sociedade.
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