|
Elizabeth Marinheiro
Psi, a
Penúltima
Ao lado dos modos do discurso (leia-se
modos fundacionais
da literatura) estão os gêneros e subgêneros literários, ampliando o
espaço das teorias genelógicas e fragilizando as classificações
canônicas. As postulações normativas — penalizadas sobretudo pelas
categorias intertextuais — são destronadas por obras de grande
fôlego que vincam a interdiscursividade.
Soares Feitosa (poeta cearense) confirma
esta dimensão pluridiscursiva em sua palimpséstica Psi, a Penúltima,
onde se evidencia um mágico trânsito entre as propriedades
fono-semânticas/objetuais e as ricas possibilidades de formulação
modal que o texto literário realiza.
Entendemos que, ao intertualizar as mais
diversas práticas discursivas, Soares Feitosa protagoniza tensões
existenciais e formais. dos procedimentos técnico-formais às
unidades de sentido, PSI desenha um pergaminho no qual se cruzam as
inscrições provindas da Grécia e do Nordeste. Isto significa que o
passado e o presente da História não remetem apenas para as
variações triádicas (épico, lírico e dramático) ; referencializam
disposição mental das formas simples e exercitam as categorias da
eletrônica, envolvendo as entoações modais da memória, do trivial
urbano, do universo sacral e da Bíblia.
Tirésias, Calíope, Bandeira, Pinto do
Monteiro. A notícia dos jornais, a BBC, a Rádio Tirana. Lucas e Jó.
"Almazona" e "Siarah". As "benças" e as "coalhadas da ceia".
Candelabro, Glória, mandacaru, resistência. Enfim, letra a letra — "qwerty"
— o poeta vai conduzindo uma "carruagem" polimodal para desembarcar
como "pole position" no território dos gêneros e contragêneros. Uma
travessia desafiando o Ver o Olhar. Um convite às leituras menos
apressadas em nossos Cursos de Pós-Graduação.
A despretensão de nossas tessituras acolhe
este livro enquanto semiose literária com dicção pós-moderna. Não o
pós-modernismo folhetinesco, voltado para o happening. Não!
Pós-moderno pela instabilidade genológica que a obra afirma.
Psi, a Penúltima, derruba cânones e
estranha o idioma poético. Sem dúvida um espetáculo greco-nordestino.
Permanecerá. Tem razão César Leal: "Os críticos competentes irão
lembrar de Soares Feitosa no próximo século".
|
|