Micheliny Verunschk
Aos longes do meu sertão,
Moxotó, chegou o “Réquiem em
Sol da Tarde”, essa ave.
Susto, você me advertiu.
Alegria, replico. Uma
alegria imensa por saber que
alguém nos longes dos quase
cinqüenta foi pego pela
Poesia. Alegria por ver como
trata bem as palavras (um
gentleman). Alegria por ser
a tua uma poesia uma poesia
também para o tato, a visão,
o olfato: uma poesia corpo e
alma! Isso há de deixar
feliz todo aquele que
poetiza. Eu estou.
Esse livro, essa ave, que pelo nome se
supõe tranqüilo, na verdade é um traquinas que se diverte em
transformar-se magicamente em várias outras coisas. E é pássaro,
brinquedo, menino, cavalo disparado, árvore em dia de chuva,
sertão... (como é sertão, o teu livro, Soares!). Eu, matuta e meio
avessa a esse admirável mundo novo que é a informática, me rendi
encantada ao modo como você o transtornou de lirismo. Bonito
demais, poeta!
Fiz grande amigos entre teus poemas:
Balançando Devagarinho, Poltrona F-6, o Trem e o Cordeiro, Perdidos
e Achados... sempre que possível, proseamos. Carlos
Drummond, falando sobre o ofício, disse; mais ou menos:
Lutar com palavras
é a luta mais vã,
no entanto, lutamos,
mal rompe a manhã.
São muitas. Eu pouco.
Você não parece lutar com elas, o que
para mim é um espanto. Elas fluem, se aninham. Quisera eu essa
tranqüilidade.
Ah! ia esquecendo:teu livro tem os
sons das abelhas, do chocalho da vaca Rainha e da água acordando na
cacimba clara.
Escutei.
Micheliny
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