Da 3ª cururuzagem:
quase mil
livros
distribuídos
gratuitamente
Soares
Feitosa
Bom, hoje, 22 de
março de 2005, a Biblioteca Cururu compareceu outra vez aos livros.
Quase mil exemplares! E ainda tem estoque para em breves dias
distribuir outro tanto, ou mais.
Trânsito pesado, chegamos
depois de meio dia. Poucos alunos, a maioria já
tinha ido embora. A equipe da Cururu sofreu uma baixa: Rodrigo Marques, o
fotógrafo apressado, problemas particulares, não pôde
comparecer. No lugar dele, com vantagens, a jovem Érica Nayana,
estagiária duplamente nova do escritório do advogado Francisco
Feitosa, uma contrafação do poeta e cururuzeiro-em-chefe, o Soares
Feitosa. Ambos, como se fossem a mesma pessoa, entendem-se muito
bem.
Poucos alunos. Sugeri
irmos para uma praça popular e, lá, com a multidão ao derredor,
distribuir os livros a quem fosse passando, a esmo, como convém. Vicente Jr e Diego,
ambos do escritório do advogado Francisco, cururuzeiros desde a primeira expedição, alegaram que
seria perigoso. Bom, se tudo, neste Brasil, cada vez mais é
perigoso, resolvemos aguardar.
Ninguém sabe de onde, os alunos
começaram a aparecer, talvez fossem as aulas do turno da tarde
iniciando-se. Foi a conta da jovem estagiária correr atrás
do pessoal: «Livros de graça, minha gente!» Nem precisa comentar
que choveu marmanjo atrás dos livros da moça. É da lei cavalheira
destas terras que eu a apresente:
A usurpar,
com o barrigão, quase que a foto inteira, suado como uma chaleira, o
cururuzeiro-em-chefe, o Soares Feitosa. Fica no ar a pergunta: de quem a
mão gaiata, repleta de livros, a atrapalhar a
foto? Ainda bem que o Diego Arruda, exímio no clic, captou a
melhor imagem, deixando o "resto" do marmanjo às
escuras. Espi-gato! Vôte, coisa-ruim!
Na foto a seguir, a mala do carro,
livros até a tampa, uns 700. Teremos a 4ª expedição para o próximo
abril.
À
esquerda, a jovem estagiária apregoando livros da Cururu |
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Sim, coisas de suspender o
coração: era uma população de adultos, súbito, não se sabe de
onde, apareceu um Menino! Risonho como uma manhã de praia:
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Depois,
o terror-pânico deste cururuziero-em-chefe: que livros a
criança terá ganho? Entregaram-lhos, livros, ao riso e às
mancheis. Não lhe teria sido
(também) muito bom um exemplar de Coração,
de Edmundo de Amicis, um dos mais belos livros que li na idade
dele...?! Parece que nem o editam mais. Referência de Manuel
Bandeira e de praticamente todos os nossos bons escritores do
século XX, geração 45, coisa assim. Vou tentar encontrar alguns
exemplares, ainda que nos sebos. O menino terá o dele;
ela também.
Em tempo: Editam, sim, o belo
Coração. Peguei dois exemplares na loja virtual Submarino;
um para o menino — como entregá-lo? |
Uma visão apressada do
cururuzeiro-em-chefe em pleno comando de distribuir a livrarada.
Não é de surpreender tenha ficado tão suado. O baixinho tá c'a
gota! Vermelho. Apoplético!
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Abaixo, em primeiro plano, de
lado, a estagiária, srta. Érica Nayana, assim mesmo, com ipsilone.
No fundo, muito agitado, o cururuzeiro-em-chefe dá voz de
comando aos... postes (?) às mangueiras (?). Contra quem,
meu Deus?! Mas os pés da fera estão calmos. |
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Até
que enfim o curuzeiro-em-chefe está
calmo. Arre! Cansou? |
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Na
foto abaixo, o cururuzeiro-em-chefe parece responder alguma
indagação que ninguém lembra o quê. Ou, em plena lua
crescente, estaria a fazer um discurso profético? Contra
quem?
Sim,
foi festão! |
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Agora, meus amigos, o melhor
da festa. Ele, silencioso como todos os guardas. Algum parentesco
com O guarda do Portão da Lei, vide Franz Kafka, em
O PROCESSO? Aquele tinha barba, uma barba fechada, feroz. O guarda daqui, pelo contrário, barba nenhuma, uma imagem calma.
Ele, vez por outra aproximava-se do carro cheio de livros, mas
permanecia lá longe. Olhava. Dava uma voltinha. Rapidamente retornava.
Olhava de novo. Saía e voltava. Olhava outra vez. Não se sabe quantas voltas
deu. Até que, puxando lá de
dentro um fiapo de voz, ele disse:
— Será que... o guarda...
também... o guarda... ele pode ganhar um...?!
— Sim, meu caro guarda,
todos estes livros são teus! — disse-lhe o cururuzeiro-em-chefe,
o Soares Feitosa.
Foi a mesma resposta que um
prisioneiro do Carandiru, Djalma, fato real, recebeu do poeta Luís
Antonio Cajazeira Ramos, quando mandou uma carta pedindo-lhe um
livro: «Prezado Djalma: Perdoe-me por ter retido seu livro por
tanto tempo em minhas mãos sem devolvê-lo. Ele, o livro, que
sempre foi seu. Salvador, 31.2.97. Luís Antonio Cajazeira Ramos».
Bom, em cima daquele livro, o
Djalma fundou uma Biblioteca, em pleno Carandiru, que será inaugurada
na noite do Menino, no Século Cem, de Ésquilo. Mas isto,
desculpe-me o leitor, é outra história boa de ler em Salomão,
clique aqui: Salomão.
O guarda retrucou que
desejava, se fosse possível, apenas um único livro. Noutro lance, um
outro guarda, há muitos séculos, teria dito que apenas meia
palavra seria suficiente para lhe curar a filha, à morte.
Se tudo neste mundo se faz
tão-só de emoção, clique aqui para ver o senhor guarda numa tarde
de livros.
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