Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Rodrigo Marques, ago/2003

 

 

 

 

 

 

 

 

Soares Feitosa, dez anos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Da maldição das estantes

ou

Da Biblioteca Cururu

 

Soares Feitosa        

 

Creio na maldição das estantes. E nas viúvas, essas extraordinárias divulgadoras de livros, também creio. O zelo do poeta em ter os livros bem arrumados. A raiva da mulher, com tanta velharia. Como é de regra, o homem morre primeiro. Pois bem, o corpo do poeta ainda quente, e a montanha de livros já recebia a competente ação de despejo. A alegria dos livros! «Pronto, JoaninhaJornal de Poesia, editor Soares Feitosa — disse um grosso volume de Bóris Pasternak para uma brochura novinha em folha —, vamos ganhar o mundo, meu amor!»

De assombrar! É na morte dos bibliófilos quando os livros circulam. Afinal, de que serve um livro na estante?! Melhor estivesse por aí, perdido, zanzando, caçando leitor. Tenho que os livros, eles, livros, sujeitos de carne e osso, todos os dias, na hora de dormir, rezam pedindo a morte do carrasco, o dono das estantes. [Um dia, num sebo local, em cima da mesa do "seboso", estava um jornal. Era justamente na página fúnebre, eu vi. Pano bem rápido, por favor.]

Por isto mesmo, estou despachando os meus! Não ao fogo, nem ao léu. Criando porém uma biblioteca virtual a partir do Jornal de Poesia.

Já escolhi o nome: Biblioteca Cururu. Um nome doce, de um bicho bom, que, com agrados, até se transforma em príncipe. (Menos o Lula). Além do mais, tudo em casa: já temos as Edições Cururu; pois, agora, mais outra Cururu: a Biblioteca. Não, o Lula, não, por favor. Aliás, sim! Viva o nosso Presidente! Morte, porém, aos seus ímpetos de censurar a liberdade de leitura. Afinal, todos os projetos de censura não têm sido para controlar a imprensa, mas controlar, muito pior, o que "devemos" ler. Dentro de pouco, permitida a censura, estarão dentro de nossas casas, escavacando-nos os bolsos, camarinhas e almanaques. 

A propósito de Lula e áulicos, a que serve aquele monte de livros, nas costas dele, de lombada bonita, no gabinete da Presidência? [De FHC também — são livros antigos, do tempo dos generais, jamais abertos, jamais lidos.] Melhor que tão inútil decoração, que ninguém sabe o que tem dentro, fosse de bonecos de barro, reisados e bois dos caretas, gado de osso, bonecas e bolas de pano, petecas de milho, arte indígena ou até mesmo uma barbie, da "modernidade". Só assim as crianças veriam algo útil às costas da Autoridade

O fato é que nossas tradições analfabetas impõem demonstrar que "sabemos ler". Para tanto, nada melhor do que uma estante abarrotada de livros.

No dia em que "saber ler" for coisa natural, as estantes estúpidas deixarão de ter sentido. Pelo contrário, causarão pronta repugnância. Pensando melhor, guardar livros em estantes é apenas uma forma, muito perversa, de... seqüestrar (para quê?) o conhecimento. Voltemos à Cururu. Funcionará assim:

  • Ponto primeiro: Todos os livros serão previamente etiquetados: «Este livro pertence ao poeta Fulano de Tal. Emprestado à Biblioteca Cururu, para sua divulgação e leitura. Escreva para o autor. Escreva para o editor do Jornal de Poesia: soaresfeitosa@uol.com.br. Veja como funciona a Cururu: www.jornaldepoesia.jor.br»
  • Ponto segundo: Com isto, de mostrar um "proprietário", inibir-se-ão a "venda" e o "entesoiramento", e, conseqüência, o livro será posto a circular. De graça!
  • Ponto terceiro: O Jornal de Poesia distribuirá, nos pontos literários (Dragão do Mar, faculdades de letras e colégios), os livros recebidos de outros poetas. Sei que o Dimas Macedo, o Francisco Carvalho, o Luciano Maia e os demais poetas do trecho possuem livros onde não mais caber. [Amigo, convido-o!] Só assim, correndo atrás do leitor, aquela obra, até então presa às estantes, ganhará pés, pernas, braços e asas.  [Em tempo, Dimas passou no meu escritório e apoiou total a idéia. Vai doar uns quatro mil livros!]
  • Ponto quarto: Os poetas do trecho serão incentivados a doar livros à Cururu. Na etiqueta colocada em cada exemplar, com o nome e email do doador, estaremos formando um belo intercâmbio cultural. O acesso ao autor se dará via Jornal de Poesia.
  • Ponto quinto: A página de dedicatória NÃO SERÁ rasgada. Pelo contrário, será a oportunidade de mostrar que aquele é um livro vivo que precisa do contato com novos leitores.   
  • Ponto sexto: O comércio está fora de cogitação para a Cururu. Tudo à base do puro amor aos livros - circulando-os! Em vez de um objeto de veneração dentro das estantes (inútil!), o livro será posto no seu real objetivo: leitor, leitores, plurais. De graça!
  • Ponto sétimo: A idéia será propagada para outros centros. Convido-o, meu caro leitor, a abrir uma "franquia" da Cururu em sua cidade. É tudo de graça, não nos metemos com dinheiro. Apenas garantimos o prazer de mudar uma idéia velha para algo bem produtivo: livros a mancheias!

Tenho certeza que alguém poderá dizer: E se o leitor engazopar o projeto, surrupiando o livro que emprestou para ler?! Não tem importância! Um dia, ele, leitor, o "sabido", também morrerá. A viúva, leve e fagueira, mandará os livros do "ladrão" ao sebo. Em suma: circulará do mesmo jeito! E se o novo marido "gostar" de livros, a ponto de entesoirá-los? Não tem problema: Mortos o terceiro e o enésimo maridos, recomeçará tudo outra vez. Por isto, meu caro amigo, habilite-se como doador à Biblioteca Cururu. E, por que não? — venha de lá também como leitor. Por empréstimo, é claro!

Sem esquecer que uma doação de 500 livros, como esta, inaugural, do poeta Floriano Martins, teria rendido uns bons trocados nos sebos da cidade. Ao preço médio de três ou quatro reais, Floriano teria obtido mais do que o suficiente para comprar uma égua ruça, um computador estalando de novo ou dar um passeio com a família em Juazeiro do Norte ou em Canindé de São Francisco das Chagas, a pagar alguma promessa. Contudo, como ele mesmo me disse, não seria justo misturar com dinheiro o presente que recebera dos autores, agora botado a circular. 

Votos de que a idéia da Bibilioteca Cururu frutifique noutros centros. Sabe qual é o sonho? É que os livros do futuro venham com um aviso contra as estantes, tal qual os maços de cigarros, contra os fumantes. Os meus, qu'eu publicar daqui para frente? Virão com o aviso: «Não guarde, não venda, circule-o!»

Votos de que a idéia da Biblioteca Cururu frutifique noutros centros. Quem quiser mais informações, ó, é só clicar:

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Veja aqui as notícias da CURURU, a partir do primeiro dia de sua efetiva "fundação", 12 de agosto de 2004, quando foi distribuído, na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Ceará, o primeiro lote de livros. Clique na figura e veja como foi:

 

 

 

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Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

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Paul Delaroche, França, 1797-1856, Hemiciclo da Escola de Belas-Artes 

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