Dimas Macedo
A crítica de Iracema Régis
Babilônia de Papel (Mauá/SP, Edições
Mariposa, 2006), quer do ponto de vista da construção semântica,
quer do ponto de vista do estrato fonético, é um dos títulos mais
ousados da literatura brasileira. Diz de perto das intenções de sua
autora (Iracema Régis) em nos remeter ao universo da leitura e em
nos falar da metacriação no campo específico da crítica literária.
Iracema Régis é uma das agitadoras
culturais de ponta na região do ABC paulista. Fincou raízes em Mauá
e fez de sua bagagem nordestina e dos arquétipos culturais do
Nordeste a alça de mira do seu bacamarte literário, elevando-se ao
podium dos bons intérpretes e escritores do Brasil.
Nasceu em Limoeiro do Norte/Ceará (no
Sítio Sapé), aos 03 de julho de 1952, e em 1975 transferiu-se para
São Paulo, onde se graduou em Jornalismo pelo Instituto Metodista de
Ensino Superior de São Bernardo do Campo. Foi membro do Colégio
Brasileiro de Poetas, de 1977 a 1985, e presidente dessa mesma
instituição no período de 1980/1982.
O que marca, no entanto, a sua
trajetória de cearense destemida é o denodo com o qual se entregou
aos apelos da sua vocação (a literatura), fazendo-se, com o passar
do tempo, uma das escritoras mais expressivas de sua geração.
A poesia de estrato erudito, o
jornalismo de idéias, o folheto de cordel, a literatura de gosto
popular, a curta ficção e o ensaio, entre outros gêneros literários,
constituem os eixos sobre os quais edificou a sua miragem literária.
Argamassa (Mauá, Edições Mariposa,
2005) é o nome do seu último livro de poemas. Antes publicou Poesias
(1983) e Retalhos Poéticos (2002). Sobre o seu volume de estréia,
fiz referência no meu livro Crítica Dispersa (Fortaleza, Edições
Funcet, 2003). E sobre Argamassa eu já afirmei que se trata de um
“livro belo, maduro, cristalino e muito bem construído”, revestido
de “belíssimo projeto gráfico e editorial”.
Sou leitor de Iracema Régis, admirador
dos seus movimentos, entusiasta da sua política cultural de
intercâmbio, do seu regionalismo e admirador da sua tenacidade e da
sua cultura de resistência e de apego às origens. E vou adiante: sou
fã da poesia de Iracema Régis e da parceria que ela mantém com
Aristides Theodoro e com os escritores da região do ABC.
Este livro – Babilônia de Papel – pode
parecer modesto nas suas intenções, mas é grande do ponto de vista
do seu conteúdo programático: enfoca aspectos relevantes da
literatura produzida em Mauá e na região do ABC paulista, exatamente
nos últimos 30 anos. Traz o selo das Edições Mariposa e o formato
dos pequenos-grandes projetos que fazem os momentos sublimes da
cultura de uma região.
Em Babilônia de Papel encontramos
resenhas e perfis, ensaios sobre livros e autores, memórias de
natureza cultural e política, ações e movimentos que fizeram (e que
fazem) o sistema da literatura na região paulista do ABC.
A escritura (e o discurso) que este
livro documenta é toda ela tecida de afetos e intelecções. É toda
ela plural na sua forma e é toda ela aliciante na sedução da sua
linguagem criativa.
Aristides Theodoro, Deise Assunpção,
Dalila Telles Veras, Antônio Possidônio Sampaio, Cláudio Feldeman e,
de forma muito especial, Léa Aparecida de Oliveira – são personagens
deste livro exemplar e pioneiro de Iracema Régis. Não estão aqui
para nos olhar, mas para interagir. São tão emblemáticos quanto a
região do ABC. E tão vivos são esses ensaios de Iracema Régis quanto
a sua atuação e o seu lugar na literatura brasileira de sua geração.
Prefácio do Livro,
Babilônia de Papel.
Porto das Dunas/CE,
Março de 2006.
Leia Iracema Régis
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