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Cida Sepúlveda 

Titian, Three Ages

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Fortuna crítica:


Alguma notícia da autora:

 

Cida Sepúlveda

 

John William Godward (British, 1861-1922),  A Classical Beauty Rafael, Escola de Atenas, detalhes

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

Cida Sepúlveda



Bio-bibliografia


A escritora Cida Sepúlveda nasceu em Piracicaba e atualmente vive em Campinas. Publicou o livro de poemas Sangue de Romã em 2004. Desde seu primeiro livro foi elogiada e apadrinhada por ninguém menos que Manoel de Barros. Tem contos publicados no jornal Rascunho, de Curitiba, e no suplemento Prosa & Verso do jornal O Globo. Editou a revista de literatura e arte Vagalume. Coração Marginal foi sua estreia na editora Bertrand. Nessa entrevista nos brinda com sua percepção transformadora da literatura.

(Texto redigido em 10.04.2023)

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Morte de César, detalhe

Cida Sepúlveda


 

O texto na mão de José


Sem passagem pela polícia
Caiu duro na rodoviária


O ar prateava de sonho
Pressa de partir


José merece o céu
Brinca de ler e escrever
Tem só dez anos


Bicho do mato
Nasceu com um dedo a menos
Chovia pedra


A mãe prometeu a São José
Uma centena de velas


Batizado, cresceu miúdo
A vida correu santa


O anjo pintado
no teto da catedral
Desceu


José o possuiu
Águas passadas


José se completou
Na universidade


Os caminhos são curtos
Longa é a encruzilhada


A mão de José aperta duro
O texto lhe escapa


A sarjeta roça a orelha
José singra


O mar é bárbaro
Não há escalas


Alguém protesta
Cadê o socorro?


Mundo cão
José abraçou


A lua sai da moita
Denodo ou palavrório?


O texto perfura o asfalto
Chega no esgoto


Sirene de ambulância
Ratos saboreiam a sobremesa


José se multiplica
Na roedura de mamíferos


É caso de polícia
Rola uma grana


O texto de José
Nas bancas de camelô


Em papel reciclado
O lixo-texto


Santo remédio
José previu


E se deu
O povo condecorou


O buraco no asfalto
Não basta
José quer morrer mais


E vende o texto
Aos condôminos. Aos amigos
Aos parentes


A mão de José tremeu
O peso do texto


José na primavera
Coroa de flores cobre as mãos


O texto
Nas entrelinhas da cena
José sorri
 

 

 

 

 

 

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Antigona,detail

Manoel de Barros



Misérias


Ele se partiu
Em tantos


Não deixou evidências
De existência


Uma fissura no vento
Reverteu a tempestade iminente


Os campos minados da alma
Refletiram misérias temporais


Dos lábios famintos
O beijo arrancado em raiz
Quebrou o sentido do mundo
 

 

Inocência, foto de Marcus Prado

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Carlos Nóbre

 

 

 

 

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Antigona,detail

Cida Sepúlveda



Misérias


Ele se partiu
Em tantos


Não deixou evidências
De existência


Uma fissura no vento
Reverteu a tempestade iminente


Os campos minados da alma
Refletiram misérias temporais


Dos lábios famintos
O beijo arrancado em raiz
Quebrou o sentido do mundo
 

 

Inocência, foto de Marcus Prado

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Carlos Nóbre

 

 

 

 

 

John William Godward (British, 1861-1922), Belleza Pompeiana, detail

Cida Sepúlveda


 

Ritual


sol sol sol
no silêncio no vago no movimento
bocas se fecham se abrem se comem
rostos se fartam se cospem se traem


rosas rosas rosas
no outono na luz no sofrimento
cores florescem se dão esvanecem
mãos se amarram se torcem se perdem


sangue sangue sangue
bebida ofertada aos homens
de fontes imberbes da alma
 

 

Albrecht Dürer, Mãos

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Raquel Naveira

 

 

 

 

 

Titian, Three Ages

Cida Sepúlveda



Sentimento

 
Tudo que me alegra me entristece
Nesta teia de conversas e dispersos


O rosto do amigo é inconstante
A ferida do tempo me consome


Some o olhar por onde passa
Não deixa marca nem abraço


Rastro de saudade
Qualquer laço


Fere o sonho tal retrato
Cai a chuva a pétala a tez


São soluços de outono
Carmins nativos violados
 

 

Velazquez, A forja de Vulcano

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Marselino Botelho

 

 

 

 

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Maura Barros de Carvalho, Tentativa de retrato da alma do poeta

 

 

SB 10.04.2023