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Manoel Ricardo de Lima

JORNAL O POVO, DOMINGO, 06.09.1998:

           “Autoridade, genial é Baudelaire!

           MANOEL RICARDO DE LIMA

           Articulista do Vida & Arte - jornal O Povo. 

Pequenas histórias sobre o adjetivo genial e uma tergiversação ou veso.

1. Rir ou ter preguiça, deixar para lá, sempre alivia o embaraço do desenten-dimento de alguém. Explico: é que um amigo me conta, entre preocupado e uma gargalhada, que recebeu parafusos no cerebelo por causa de uma discussão infantil que deu orelhas. Ouvia de uma pessoa o comentário sobre um dito artista que solda ferros, junta-os e faz objetos até interessantes.

Dizia a pessoa que o dito artista era "genial". Afeito ao silêncio, sempre, o amigo deu por dizer que os objetos tinham lá suas pertinências, e só. Como a pessoa continuasse com a idéia da genialidade do outro, deu por soltar uma única frase (até porque ninguém é de ferro e vez ou outra a cerveja descontrola a língua): "Genial? - genial é Duchamps!" Mesmo coberto em certezas na afirmação (no que concordo tranqüilamente), recebeu todos os parafusos que puderam enfiar em sua calvície.

2. Há 8, 10 anos, enfiei na alma ingênua que seria publicitário. Redator. Ora, era um desejo idiota de ser pago para escrever. O que não sabia é que redator de publicidade consegue, quando muito, escrever um bonito slogan com varanda para o nascente ou registrar em outdoor o verso de uma dessas letras mais idiotas que já se ouviu. Trocadilhos, bugigangas, desinformação. Em plena crise, confessava a uma professora (que foi a grande culpada por eu ter tomado este gosto formal por literatura, antes era só uma brincadeira) de Teoria da Literatura que os tais sujeitos da propaganda costumavam esbravejar que esta ou aquela campanha era "genial". Ela riu, muito charmosa (com todo o respeito que mantenho), deu de ombros e acalmou-me: "Genial? - genial é Baudelaire!" Gargalhei. Gargalhamos. Nunca mais esqueci a frase. E deixei para lá todas as idéias tolas que tive para vender apartamentos, picolés ou carros do ano. Descobri que não queria ser camelô. 

3. Por fim, outro dia li um texto que chamava a Poesia Concreta de "barafunda" e que parecia desembarcar as coisas para pessoalidades, gosto, sobre os irmãos Campos: os inventores do negócio. Depois, adiante, o mesmo texto dizia que Bruno Tolentino só "consegue ser genial na crítica mordaz" que faz aos tais irmãos e à Poesia Concreta. Esta pequena leitura acordou dois ou três demônios e, antes que a preguiça venha à tona, solto-os já sabendo dos parafusos que vêm por aí: a Poesia Concreta e seus inventores deram uma das maiores contribuições que a literatura, no Brasil, recebeu neste século. Depois, desde a década de 60 que seus próprios inventores não são mais concretos, nem poderiam. O certo é que sem ela continuaríamos tendo que ler uma poesia recheada de idiotices repetitivas e neo-parnasianas como a do quase provençal Bruno Tolentino. Que não é poeta, não é crítico; é uma entidade inexistente. Não tem coerência de pensamento e desvaria em oportunidades para pregar sua vã e frágil veia de iconoclasta de ocasião: do Modernismo ao abraço fraterno ao seu outro eu, Paulo Coelho. Tolentino, conseguir ser "genial"? - tenha dó! Tenho preguiça para mais. Sou adepto do silêncio. Apenas, antes:
Autoridade, genial é Duchamps! Genial é Baudelaire!”

[Link para a pagina de Manoel Ricardo de Lima, poeta]

Soares Feitosa

A Crítica da terrinha... 

 

 

 

Este é o tipo de "crítica literária"— vote! — que alguns, do alto da cátedra e do nome do jornal, fazem aqui na terrinha:

"Bruno Tolentino. Que não é poeta, não é crítico; é uma entidade inexistente. Não tem coerência de pensamento e desvaria em oportunidades para pregar sua vã e frágil veia de iconoclasta de ocasião: do Modernismo ao abraço fraterno ao seu outro eu, Paulo Coelho. Tolentino, conseguir ser "genial"? - tenha dó!"

Calcadas no ódio, nunca no argumento, as críticas desse jovem, o Manoel Ricardo de Lima, que já me disseram é um jovem competente.

Porque esse tal Tolentino deve ser mesmo o demônio do meio dos infernos, mas que o bicho é Poeta, isto ele é! Se é? Claro que é. Na recente [out/98] Feira do Livro em Fortaleza, o editor José Mário Pereira mostrava, com indisfarçado orgulho, o último livro do "demônio", um belíssimo o livro! 

Graficamente um projeto estupendo. Abri num poema, ao léu, nem lembro qual, era no vuco-vuco da reunião, mas do pouco que li, li do melhor! Horas de Catarina, com certeza o sr. Ricardo não leu, ou se leu, leu axilarmente.

Ao que consta, o ódio do Ricardo contra o Tolentino se deve às críticas nada lisonjeiras que o Tolentino fez à obra de Ana Cristina César, que para o Ricardo é Nossa Senhora no Céu cerzindo as meias de NSJC e Ana Cristina fazendo poesia.

Nenhuma obra pode ser vista sob este enfoque: a vingança, ou o mal, nem o compadrio. Ensina Wilson Martins: "a obra; o autor, não"! 

De minha parte, tenho a certeza de que os alunos do professor Manoel Ricardo de Lima saberão vencer o obstáculo. 

Tenho muita admiração pelos publicitários. 

Em tempo: Bruno Tolentino acaba de ser escolhido um dos 20 melhores poetas do Brasil
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

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