Eleuda de Carvalho
Reflexões atemporais
27 de julho de 2006
O Instituto Albanisa Sarasate acaba de publicar o volume 2 de O
Pensamento Brasileiro de Clássicos Cearenses. O livro, da coleção
Anuário do Ceará, reúne significativos textos de autores como José
de Alencar, Gustavo Barroso, Barão de Studart, Thomas Pompeu, Djacir
Menezes, entre outros
A idéia de lançar os dois volumes, que
batizamos de Coleção Anuário do Ceará, nasceu quando percebemos que
o Anuário estava expondo uma apurada radiografia do nosso Estado
através de índices, números, indicadores, relatos históricos, fatos,
personagens etc, mas faltava algo. Faltava o trabalho de nossos
intelectuais. Faltava o pensamento. Faltavam os textos clássicos
elaborados pela melhor geração de intelectuais que o Ceará já
produziu. Pensadores que tiveram importante influência na formação
do pensamento brasileiro”, diz o editor da coleção, jornalista Fábio
Campos. O volume 2 de O Pensamento Brasileiro de Clássicos
Cearenses, editado pelo Instituto Albanisa Sarasate, será
lançado logo mais à noite, no Centro Cultural Oboé, com apresentação
da obra feita pela socióloga Celeste Cordeiro. Tanto este volume
quanto o anterior levam a assinatura do sociólogo Eduardo Diatahy
Bezerra de Menezes, professor emérito da UFC, responsável pela
seleta, organização, notas explicativas e esboço bio-bibliográfico
dos autores em foco.
Na introdução, o organizador discorre,
em texto envolvente, sobre o que seja pensamento universal, nacional
e provinciano - uma explicitação das relações de força no campo
cultural. A obra, explica, é uma “coletânea cuidadosamente joeirada
de modo a produzir uma amostra significativa dessa consciência
fragmentada e hesitante, que acompanha a invenção do Brasil como
povo e nação”. Interessante reparar que a maioria dos textos aqui
publicados saíram a primeira vez na imprensa, em jornais do Rio e,
no caso do jurista Clóvis Bevilácqua, no incrível semanário
publicado pela Padaria Espiritual, de Fortaleza. A leitura
proporciona uma mirada no tempo, especialmente, o século 19, porém
os textos têm um vigor, uma pertinência e uma atualidade que dizem
muito mais ao presente do que remetem ao passado.
O escritor José de Alencar (1829-1877)
comparece com três singulares textos. O primeiro, Bênção paterna, é
o prefácio que ele escreveu ao romance Sonhos d´Ouro, publicado em
1872. Nele, o autor de Iracema aborda questões que, segundo o
organizador, “antecipam uma sociologia da literatura”. Aqui, Alencar
apresenta ao leitor o plano geral que concebeu para sua obra. Ao
mesmo tempo, antecipa algumas das questões que inquietaram os
modernistas, bem depois - a criação de um idioma
português-brasileiríssimo: “O povo que chupa o caju, a manga, o
cambucá e a jabuticaba, pode falar uma língua com igual pronúncia e
o mesmo espírito do povo que sorve o figo, a pêra, o damasco e a
nêspera?”, escreveu.
Thomaz Pompeu (1818-1877) foi um
ecologista antes ainda que o termo fosse divulgado. No texto
escolhido, ele denuncia “os terríveis efeitos da devastação de
nossas matas”, com o conseqüente fim dos mananciais. E conclui,
quase profético - o desmatamento sem controle legará ao futuro
“solidões e ruínas” e “uma maldição eterna à nossa memória”. Em
seguida, temos um texto de Capistrano de Abreu (1853-1927),
publicado quando o historiador contava apenas 23 anos. O título é O
caráter nacional e as origens do povo brasileiro. Segundo o
organizador, Capistrano alia um pensamento “conciso e enxuto” a um
estilo “preciso e elegante”.
SERVIÇO
O Pensamento Brasileiro de Clássicos Cearenses (volume 2) -
Organização e notas, Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes. Edição do
Instituto Albanisa Sarasate, coleção Anuário do Ceará. O lançamento
será nesta quinta, às 19h30, com apresentação da socióloga Celeste
Cordeiro, no Centro Cultural Oboé (Rua Maria Tomásia, 531 - Aldeota).
Inf.: 3264.7038.
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