Eleuda
de Carvalho,
uma
rápida noticia
de
email,
12.1.2005
|
Soares Feitosa, querido! Posso
chamá-lo Francisco? É o nome do meu irmão mais novo e também do
santo de minha devoção.
Adorei os Cururus que recebi do Cléber
(que é com K, mas vou deixar assim como você grafou,
abrasileirado). Esqueci de falar da biblioteca Cururu na
entrevista mas não tem problema: ela vai compor o abre
da matéria. Espiando rapidinho, vi lá seu texto sobre
o Rudes Brasões do meu querido Virgílio Maia, poeta
por quem tenho alta estima, a ele e à mulher, minha
bela Côca - que é lá do
Parambu, uma legítima
beldade inhamúnica.
Veja, fico feliz que só e toda
vaidosa por estar nas páginas do JP e o que você
quiser incluir, das reportagens que faço, esteja a
gosto. Poesia, não, querido amigo, que escrevi umas no
verdor dos 20 anos, e não rebolei no mato porque elas
representam a mim mesma, são um pouco a minha cara
daqueles tempos. Crônicas, arrisco umas, aqui mesmo
neste O POVO. Mas creio que me
saio mesmo bem é neste mister de jornalista. Está de
bom tamanho.
Sem modéstia, gosto mesmo do efêmero
da redação. E ainda me envaideço.
Vamo-nos encontrar sim, pra
celebrar a amizade, a poesia, a
vida.
Nasci num lugarzinho chamado
Perereca, município de Jaguaruana, no meio dia de um sábado,
dez de outubro. Quando completei dez meses, viemos pra
capital, mamãe era professora - aliás, foi a única
neste pedaço de caatinga espremido entre o Jaguaribe e
a serra Dantas. Meu pai era um garoto de 17 anos quando
nasci. Mamãe era mais velha que ele uns oito anos.
Meu amor à literatura vem de duas
fontes, uma, oral, das histórias que tive a sorte de
ouvir de uma tia-avó, analfabeta e sábia, dos
violeiros que meu avô Elias tanto apreciava. Menina
metida, nas férias, eu ficava zanzando entre o copiá e
a cozinha: na varanda, os homens conversavam. Quando
notavam a magrela de ouvidos atentos - e a conversa
derivava pra assuntos proibidos, me mandavam sair. Na
cozinha, as mulheres em torno da mesa ou mexendo nas
panelas enormes, alumiadas pelo fogo à lenha. mesma
coisa. Na hora em que tratavam de assuntos ''de gente
grande'', outra vez eu era enxotada. Feito um sapo
teimoso, ou melhor, uma legítima perereca, só me
aquietava mesmo quando ficava andando sozinha,
mergulhada nas idéias mais doidas possíveis, canelinha
cinzenta das galhas secas dos matos. A liberdade veio
ainda na
infância, com uns sete anos, quando aprendi e ler e
devorei a biblioteca de minha mãe. Nunca mais parei.
Bem... Depois tem tanta história,
uma adolescência de ovelha negra, a saída de casa aos
22 anos, pra morar com amigos da UFC aqui neste bairro
do Benfica, onde vivo até agora. Fiz Letras, na UFC,
depois, casada, fiz vestibular pra comunicação na UFC.
Quase em seguida (e já solteira de novo) entrei no
mestrado em Letras e, ao mesmo tempo, aqui no O POVO -
era 97: pra fazer um caderno especial sobre santo
Antônio Conselheiro. Peguei gosto. Continuo por aqui,
fazendo minhas travessias e travessuras.
A foto. Estes dias estou meio
aperreada, pra tentar fazer o melhor neste nosso Vida
& Arte de domingo. Mas, na segunda, mando-te opções
pelo e-mail (não sei como se faz, mas o Charles, aqui
do jornal, me ajudará).
Quanto à LER. Tive uma crise
violenta, coisa de uns dois anos. Comecei a fazer
acupuntura. Não parei mais. São duas sessões por mês,
em geral, só pra relaxar (relaxar enquanto me espetam?,
mas é isso mesmo). Menino, é uma beleza. Quando sinto
que começo a travar de novo - o músculo do braço
repuxando, a mão esquerda dormente, a pontada no
cotovelo: agulhas específicas para LER, bursite, estas
coisas chatas que a profissão e os janeiros nos dão.
Agulha para ler!
Volto ao batente, o trabalho me
espera. Mas acho que, a partir de agora, tenho mais um
amigo para me corresponder.
Beijos solares
Eleuda
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