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Francisco Cordeiro

Poussin, The Empire of Flora

Ensaio, crítica, resenha & comentário: 

Ruth, by Francesco Hayez

 

 

 

 

 

 

Poussin, Rinaldo e Armida

 

 

 

 

 

Francisco Cordeiro


 

Relato de uma peregrinação adolescente, de Soares Feitosa

 

 

Mestre Chico, pouca gente hoje em dia sabe o que é isso, fazer uma peregrinação a pé. Peregrinação de pagar promessa, ou mesmo de tanger o tempo do nosso dia-a-dia, prumode se aprumar no futuro. Andar de chouto, fazendo a vez de tropeiro, acompanhando a tropa carregada dos apetrechos de sobrevivência: farinha, rapadura, feijão de corda, feijão de moita, carne de jabá, café da Serra Grande e tantas outras coisas que falta desta convivência em leva ao esquecimento. Lá pelos meus 13 anos, algumas vezes ia passar as férias com o meu tio Cãindo Torres. Em junho de 1958 (Seca do Cinquenta e Oito), ele estava construindo o Açude Aroeiras, devia ficar a umas 4 léguas de Nova-Russas e tinha umas cinquentas pessoas diretamente trabalhando com ele, fora outras turmas independentes que estavam agregadas na construção do açude. Estava quase faltando comida. Chegou a noticia de que um trem carregado de comida estava chegando em Ipueiras. Daí meu tio preparou uma tropa para ir comprar mantimentos em Ipueiras, num total de 30 animais. Por sorte ele permitiu minha ida também, principalmente porque eu sabia ler, estava fazendo o 3º ginasial – depois fiquei sabendo disso – a ordem era ir a pé tangendo os animais pra eles não cansarem. E lá pelas 3 horas da manhã, eu, meu primo Simão Torres, Chico Sobral e o baiano Gó de Xote saímos tocando a tropa, o caminho estava simplesmente lindo com o clarão da lua, deixando tudo muito iluminado, nem rodagem era. Era um caminho mesmo. Existia quase nenhum caminhão ou qualquer outro tipo de jipe ou coisa semelhante rodando por aquelas paragens. Pois bem, chegando em Ipueiras às 7 da manhã, o trem já tinha arribado pra Nova-Russas e a carga que abasteceu o mercado de Ipueiras já tinha sido toda comprada pela gente de lá. Na mesma pisada que chegamos em Ipueiras, nos despachamos no giro de Nova-Russas, a pé tangendo os animais no chouto, ainda alcançamos o trem em Nova-Russas fazendo o descarrego da preciosa carga. Conseguimos comprar tudo que se precisava do fumo de rolo baiano a carne de jabá, farinha, arroz, rapadura, feijão tudo enfim. Carregada a tropa, já era umas 3 horas da tarde quando saímos de Nova-Russas para o Açude Aroeiras. Até hoje não me esqueço de quando chegamos à beira de um rio lá pelas 5 horas da tarde, em suas margens frondosas e centenárias oiticicas, somente areia seca com aquele forte cheiro de água de cacimba – tinha duas providenciais cacimbas e um cocho enorme feito de mulungu, onde os animais mataram a sede e nós também. Se bem que aqui e acolá a gente matava a sede com um caneco d’água em uma ou outra casa perdida naquele meio de mundo. O sol ainda estava se pondo com aqueles raios encarnados bem escuros quando a gente estava chegando de volta no terreiro da casa grande. Saindo do Açude Aroeiras para Ipueiras e depois Nova-Russas, este percurso faz um triangulo, onde caminhamos a pé constantemente em chouto uns 90 quilômetros, ou 15 léguas. Foi a maior viagem da minha vida até hoje, entre Ipueiras e Nova-Russas descobri que ainda faltavam 42 anos para chegar ao ano 2000 e comecei a divagar expandindo as ondas do tempo... Como estarei neste ano??? O que estarei fazendo e onde??... Inté mais vê. Chico Parnaibano

 

 

Poussin, Rinaldo e Armida

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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13.10.2023