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Humberto Fialho Guedes

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904) - Phryne before the Areopagus

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


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  • Bio-bibliografia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sophie Anderson, Portrait Of Young Girl

 

Da Vinci, Homem vitruviano

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Humberto Fialho Guedes


 

Poema-Canto



Cantarei a forma exata do teu gesto
projetado na memória;
a tua sombra,
na presença de detalhes onde habito.

Cantarei as nuas palmas
(onde moram os ventos)
na certeza dos teus sonhos nos espaços.

Cantarei mares e ilhas
portos
adeuses em gestos e saudades.

O teu silêncio cantarei nos olhos
revendo o pôr do sol num cais de pedra.
E me farei tranqüilo na escuta
dos sons que anunciem teu retorno.

Cantarei, mais do que nunca, a tua imagem
preenchendo auroras e desejos;
as mãos em formas pressentidas,
o rosto esculpido em falas e sorrisos.

Cantarei a forma exata do teu gesto
projetado na memória;
teu corpo branco envolto em brumas
de sonoras lembranças onde eu me recolho.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Humberto Fialho Guedes


 

Contemplação da Aurora



Deixar-se estar. Quedar imóvel.
Por entre as mãos por entre os gestos
invisíveis no tecer as cores
formas e objetos compondo panoramas.

Deixar-se estar. Os olhos mansos
(derramado olhar banhando muros)
amanhecendo em concreção de pedra e limo;
o cais solene vai barrando águas
em postura de silêncio e longa espera.

Deixar-se estar. E as mãos
amaciando gestos revolvendo sonhos
na modulação do instante percebido
pelos rostos e corações em muda contemplação.

Deixar-se estar. Enquanto
(vivazes e esquivas) gaivotas brancas
sobrevoam ilhas; e o mar azul
(traçado em vagas e horizontes)
derrama nas praias restos de vento.

Deixar-se estar. Quedar imóvel.
Para que nem um pensamento (fímbria de luz)
perturbe o enovelar-se que há no vôo
marítimo das ondas convertido em salto.

Deixar-se estar.
Contemplando os objetos esquecidos
(limitadas formas de extensão exata)
com amor de quem os tem como encontrados
depois de longa busca após os ter perdido.

(Velhos remos lembram velhos braços
ancorados ao velho porto do esquecimento;
contariam velhas estórias se pudessem
ser ouvidos em silêncio e muita fé)

Contemplando os objetos esquecidos:
barcos lemes búzios quilhas
velas e mastros tombados ao som dos ventos.

E enquanto o instante se consome lento
na floração de formas colorindo espaços
derramados sons revelam idos
e anunciam no tempo o que se aguarda:

ao longe se divisa e vão surgindo
corcéis de espuma patinando águas
desfazendo brumas semeando cravos
(brancos e breves) que se vão abrindo
em jorros de luz: cristais da aurora.


 

 

 

 

 

20/06/2006