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Hildeberto Barbosa Filho


 



Breve comentário crítico


 

Leio os poemas de Lau Siqueira desde os seus primeiros livros (Comício das veias, O guardador de sorrisos, Sem meias palavras e Texto sentido, entre outros). Acompanho sua trajetória, sempre atento ao meticuloso cuidado com que se socorre das palavras. Seja para configurar, na geometria dos versos, conflitos emocionais e pensamentos críticos, seja na elaboração de imagens inventivas e ritmos demarcados pela ruptura melódica. Seu verso, grosso modo, é curto, lacônico, certeiro, regido, aqui e ali, pelo olhar irônico, às vezes perplexo, às vezes indignado. Detive-me, já, em dois ou três ensaios, na análise de sua dicção lírica, por um lado, privilegiando sua inclinação minimalista no âmbito das escolhas técnicas e formais, e, por outro, interpretando sua polivalência temática que contempla, sobretudo, os percursos da palavra, os sortilégios existenciais, as solicitações eróticas, as causas sociais e políticas, o tempo, a infância e tantas mais experiências da vida. Não me parece diferente o estro explorado em Cabeça de medusa, sua coletânea mais recente. Mesmo se o verso se alonga nesse ou naquele poema, o tom e a perspectiva se acomodam aos ditames da síntese, a que se associa, sempre, o olhar eivado de inquietações e ambivalências. Cabeça de medusa, segundo nos esclarece, em nota introdutória, é uma metáfora usada pela medicina para designar uma obstrução de uma das artérias cardíacas. O título, então, remete para uma dada circunstância que envolveu o poeta. Circunstância real, autobiográfica, que, no entanto, se converte, devido ao manuseio especial das palavras, em experiência estética. Uma experiência que passa a ser de todos nós. Lau Siqueira me parece um cabralino, tocado, porém, por um halo que vem de Bandeira e passa por Quintana. Cerebralismo. Lirismo. Ludismo. O poema "Distopia", exibido na contracapa, pode ilustrar: "não me iludo // há um escuro/permanente // e uma sombra/iluminando/tudo".





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SB 16.03.2023