Majela Colares
Uma fábula para o século XXI
Ariana: criatura que se amolda entre a
dignidade de Betty Friedan, livre da mística feminista, e a
inocência de A Bela Adormecida, longe do estigma de mulher indefesa.
Em As Joaninhas não Mentem, Patrícia Tenório, na “peleterra”
de Ariana, personagem central do enredo, penetra fundo nas entranhas
da consciência e natureza humana. O amor é a temática dominante do
livro. O sentimento mais sublime que um ser humano pode sentir por
outro, ou por si mesmo, em qualquer circunstância ou momento da
vida. Em sua trama, Patrícia consagra o amor ao estágio mais
elevado, quase divino. Onde poucos conseguem chegar. E assim
ocorre... Três gerações de mulheres confrontam-se com um intrigante
desafio: libertar um príncipe de uma maldição. O príncipe do amor
perfeito, preso há quase um século, na torre de um castelo, à espera
do seu verdadeiro amor. Eis aí o mistério da criação de Patrícia.
Recorrendo a uma simbologia que nos remete a reinos, paisagens e
indumentárias de tempos medievais, a autora, sabiamente, transporta
sua narrativa para dias de nossa época, questionando conceitos,
sentimentos e costumes, reverenciados em tempos atuais. E nessa
oscilação temporal, pontua-se a sua imaginação.
Com elmo na cabeça, montada em seu
cavalo branco, Ariana se dirige à torre. Segue o seu destino; salvar
o príncipe. “Longos seriam os caminhos, tortuosos seriam os
caminhos, perigosos seriam os caminhos”.
A plenitude humana é o grande mistério
a ser alcançado. No contexto da narração, simbolicamente, entende-se
ser o castelo o próprio homem; a torre o coração humano e o amor
perfeito a plenitude da vida, ou seja, a sapiência do amor próprio.
Este o sentimento proclamado pela autora na voz e nos gestos de
Ariana e do príncipe Átila.
Segura no manejo da palavra, Patrícia
Tenório desenvolve toda sua narrativa de maneira clara e eficiente,
pincelando o texto com imagens de visível teor poético, instigando o
leitor, parágrafo por parágrafo, a prender-se à leitura e refletir
sobre a conquista de Ariana, feminina e não feminista, autentica e
feliz, completa em sua essência de mulher, feita para conquistar o
mundo e a si mesma, amar e ser amada, plenamente amada.
Dividido em sete capítulos, As
Joaninhas não Mentem, é um livro de agradável e envolvente
leitura, que traz ao mundo a mensagem de que somente amando a si
próprio o homem é capaz de alcançar a substancia divina que o
habita. Numa escrita de fina leveza a realidade sóbria da vida
adulta se entrelaça freqüentemente com os sonhos livres de infância,
tornando-se uma verdadeira viagem ao reino da imaginação dos homens
e das crianças de um tempo que se parece tão realista e frio.
Digamos: uma fábula para o século XXI.
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