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Mauro Mendes


 


No caminho, com Eduardo Alves da Costa



“quero ser compreendido pelo meu país
mas se não for
tanto faz
passarei por vocês
de viés
como a chuva
oblíqua
passa”

(Maiakóvski)
[Folhetim da Folha de São Paulo, 26/12/1982]


 

O poema acima, publicado por Augusto de Campos com um arranjo do tipo caligrama, em que, bem ao gosto dos concretistas, as linhas de versos foram dispostas como “diagonais de chuva” passando sobre um perfil do poeta, revela um Maiakóvski abrindo mão da fama e da imortalidade literária. A realidade prova o contrário. Não só ele as conquistou, merecidamente, como ainda abiscoitou um adicional(e quê adicional!) aqui pelos brasis...

Tomei conhecimento, pela primeira vez, da equivocada atribuição a Maiakóvski da autoria de um poema de Eduardo Alves da Costa, em 1985, através de uma nota intitulada “Notícias da Nova Fronteira” (Jornal A Tarde, 28/11/85), que, ainda hoje, tenho num recorte de jornal já amarelado pelo tempo. Achei o poema lindíssimo! “Há que se saber cumprimentar a beleza”, como dizia Rimbaud, há que se tirar o chapéu para a beleza, como diríamos, no popular, quando ela chega assim de chofre, sem avisar. Foi o que fiz. Circulei o poema com caneta vermelha, o que, na minha simbologia de, na época, leitor compulsivo de jornais e revistas, indicava uma preciosidade que eu devia guardar. E guardei.

De Eduardo Alves da Costa, confesso, nunca ouvira falar, até então. A referida nota, além de informar que o poema em questão tinha sido escrito por ele em 1964, fornecia uma pequena biografia do poeta: nascido em Niterói, em 1936, tinha feito parte de duas antologias (Poesia Viva – 1968 – Civilização Brasileira e Poetas Novos do Brasil – 1969 – INL), autor do romance Chongas (1974), Prêmio Anchieta, de São Paulo, em 1978, com a peça teatral As Campainhas, editor da Revista do Livro e jornalista de O Globo, Última Hora e Editora Abril.

Mas qual tem sido, cabe, agora, perguntar, a posição manifesta do poeta Eduardo Alves da Costa diante deste “imbroglio”, de todo este qüiproquó? Absolutamente altaneira, sobranceira como o vôo de um condor. Sem pendengas ou quizílias, que são mais próprias de viúvas literárias do que de um artista criador. Bem-humorada (“Só dando risada”, como ele mesmo diz, a respeito do caso, na sua página na Internet). Sábia e altruísta ao mesmo tempo, quando sabe que o poema chegou a ser recitado numa reunião da OEA, foi divulgado em cartões postais, posters, camisetas, publicações, etc. e participou até da Campanha pelas Diretas, como se dissesse: “o poema é de quem precisa dele” [vide o carteiro de Neruda...]. Mas, até o pleno reconhecimento nacional de sua autoria do poema, o poeta não deve ter visto apenas chuvas oblíquas caindo sobre o seu jardim. Quem saberá as canículas, as tempestades e os granizos que enfrentou?

Todavia, caro poeta, não te livrarás para sempre do espectro de Maiakóvski e acho mesmo que até já encontraste a solução para o problema...:


“Levantei-me, então, e segui meu caminho,
abençoando esse vulto esguio
que me serve de companhia”

[De um poema de Eduardo Alves da Costa “O Casulo Vazio”]
 

Estou contigo também, há muito tempo, neste caminho!
 



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