Soares
Feitosa
No caminho
com Maiakóvski, que não é de Maiakóvski, mas teria
parentesco com Martin Niemöller, um pastor luterano, mas é de
Eduardo Alves da Costa
A
primeira vez que li o belo texto de Eduardo Alves da Costa foi numa
gramática da língua portuguesa. Gostei. Muito! Copiei-o
imediatamente no Jornal de Poesia. O que se conhece de Internet e
livros didáticos é apenas um fragmento, mas tão forte, tão belo
e independente que pode ser lido escoteiro como se fora um poema
independente que, a rigor, é.
Eis
o fragmento de Eduardo Alves da Costa:
No caminho com Maiakóvski
"[...]
Na
primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
[...]"
Prometo-lhes
publicar o poema inteiro. Minha amiga Maria do Carmo Ferreira, acho
que ela o tem. Agora lhes falo de um outro poema, a rigor um trecho
de sermão, ou prédica, de um pastor luterano, alemão, da época
do nazismo, Martin
Niemöller, ao que parece de 1933 (o poema). Encontrei, via www.google.com,
os seguintes textos:
1º)
Zuerst
kamen sie für die Kommunisten, und ich war nicht Kommunist,
und da hab ich nichts gesagt und nichts getan, und dann kamen
sie für die Gewerkschaftler, und ich war kein Gewerkschaftler,und
sie kamen für die Sozialdemokraten, und sie kamen für die
Katholiken, und sie kamen für die Juden, und ich war keiner
von denen, und dann kamen sie für mich, und da war keiner
mehr, der schreien konnte. |
2º)
Um
dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu. Como não sou
judeu, não me incomodei. No dia seguinte vieram e levaram meu
outro vizinho que era comunista. Como não sou comunista, não
me incomodei. No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia,
vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para
reclamar.
|
3º)
Quand
ils sont venus chercher les communistes, je n'ai pas bougé :
je ne suis pas communiste. Alors, ils sont venus pour les
syndicalistes et je n'étais pas syndicaliste; Et ils vinrent
pour les Sociaux-Démocrates, et ils vinrent pour les
catholiques, et ils vinrent pour les juifs, je n'étais aucun
de ceux-là; Quand ils sont venus pour moi, il n'y avait plus
personne pour faire le cercueil. |
4º)
First
they came for the Communists, and I didn’t speak up, because
I wasn’t a Communist. Then they came for the Jews, and I
didn’t speak up, because I wasn’t a Jew. Then they came
for the Catholics, and I didn’t speak up, because I was a
Protestant. Then they came for me, and by that time there was
no one left to speak up for me. |
Não
entendo que o belíssimo poema de Eduardo Alves da Costa seja
plágio de maneira alguma. Da mesma forma que A raposa e as uvas,
de La Fontaine, não é plágio de Fedro, nem este plagia a Esopo.
Todos visitam o tema, inclusive eu, em Psi,
a Penúltima.
Como
é que diz o velho Esclesiastes? Não há nada de novo sob o Sol,
coisa assim. Parece que não há mesmo. O importante, certamente, é
a recriação, a re-escritura, atualizando o tema ao hic et nunc
- ao aqui e agora.
Consta
que Brecht também teria visitado o texto de Niemöller.
Maiakóvski,
não. Morto Maiakóvski
em 1930, é até
admissível que seja o contrário, Niemöller
é que teria visitado o poeta russo. Mas, a rigor, toda
a confusão com o nome de
Maiakóvski, no poema de
Eduardo Alves da Costa, decorreu, ao
que parece, do título do poema - No caminho com Maiakóvski
-, que é também o
título do livro em que foi publicado. Em suma, nem o russo visitou o
alemão, nem o alemão teria visitado o russo. E Brecht? Estou
procurando. Quem souber, por favor! Há este fragmento que guarda um
certo parentesco:
"Nós
vos pedimos com insistência:
Nunca digam - Isso é natural
Diante dos acontecimentos de cada dia,
Numa época em que corre o sangue
Em que o arbitrário tem força de lei,
Em que a humanidade se desumaniza
Não digam nunca: Isso é natural
A fim de que nada passe por imutável."
Bastante
no rumo, não?
O
poeta Eduardo Alves da Costa garante que Maiakóvski nada tem a ver com o
tema, assim noticia a Folha de São Paulo, edição de 20.9.2003, na
íntegra:
"Um Maiakóvski no caminho
Foi resolvida graças à novela das oito uma confusão de 30
anos. Escrito nos anos 60 pelo poeta fluminense Eduardo Alves da
Costa, 67, o poema "No Caminho, com Maiakóvski" era
(quase) sempre creditado ao russo Vladimir Maiakóvski (1893-1930).
Em "Mulheres Apaixonadas", Helena (Christiane Torloni) leu
um trecho do poema, dando o crédito correto. Foi o suficiente para
reavivar a polêmica -resolvida dois capítulos depois, em que a
autoria de Costa foi reafirmada- e, de quebra, fazer surgir uma
proposta de reeditar o poema, para aproveitar a exposição no horário
nobre.
Livro combinado, a noite de autógrafos será na novela. "Pedi
que apresse e me mande até o dia 10. Quero lançar aqui", diz
Manoel Carlos, autor de "Mulheres". Eduardo Alves da Costa
falou à coluna:
Folha - Você se arrepende de ter posto Maiakóvski no título?
Eduardo Alves da Costa - De maneira nenhuma! Tanto que vou
usar o mesmo título para o livro que sai agora.
Folha - Durante mais de 30 anos acreditaram que o poema era
dele. Isso não o incomoda?
Costa - Era uma enxurrada muito grande. Saiu em jornais com
crédito para Maiakóvski. Fizeram até camisetas na época das
Diretas-Já. Virou símbolo da luta contra o regime militar.
Folha - Como surgiu o engano?
Costa -O poema saiu em jornais universitários, nos anos 70.
O psicanalista Roberto Freire incluiu em um livro dele e deu crédito
ao russo e me colocou como tradutor. Mas já encomendei da França a
obra completa do Maiakóvski. Quando alguém me questionar, entrego
os cinco volumes e mando achar o poema lá.
"Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do
nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se
escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até
que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da
garganta. E já não podemos dizer nada" Trecho do poema de Eduardo Alves da Costa
atribuído ao russo Vladimir Maiakóvski.
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para mais Eduardo Alves da Costa
Em
tempo:
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aqui para ler o poema inteiro
[minha
amiga Maria do Carmo Ferreira quem mandou. O livro do mesmo nome No
caminho com Maiakóvski,
está esgotado].
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para comentário de Mauro Mendes
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