Clique aqui: milhares de poetas e críticos da lusofonia!

Maria Maroca


 

NO ESPELHO

 

Constatei hoje -
não sem um certo prazer - que
Como todos os “anormais”, sou diferente,
Incômoda,
mas indispensável.
 
Mais que igual,
o meu “ser normal”
é estar onde não se deve,
contra a corrente é o meu natural.
Só assim, sei onde estou e o que faço.
 
Só no pano verde
no rolar dos dados,
é que cumpro meu destino.
 
A contabilidade bem feita
nota por nota,
me confunde e deprime,
rodando em torno de um eixo que ignoro
e me apaga.
 
Só os grandes círculos me satisfazem.
Só andando às cegas, chego ao ponto.
Fazer o que, se Deus fez assim?
 
Rir de mim, absurda
entre normais
Só entre os absurdos, encontro iguais.
 
Enquanto arregaço as mangas para a próxima 
Enquanto a vindoura e a que nem vislumbro
Só na desigualdade posso ser igual.
 
(6/09/2000)

 

   
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Clique aqui: milhares de poetas e críticos da lusofonia!

Maria Maroca



A DOR DO PARTO


No templo da vida e da morte
Os sacerdotes oficIam o sacrifício
Entre risos,
Pra aliviar a tensão.
 
Empurra, corta, sangra
Agulhas, bisturi
Choro
 
Água, sangue
Pontos, pontos, pontos.
 
Venceu a vida.
 
(4/07/2001)

 

   
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Clique aqui: milhares de poetas e críticos da lusofonia!

Maria Maroca



O QUERERES


Se não quiseras apenas meu corpo,
Saberias a maciez da pele
Minha, entre os pelos que apenas surgem.
 
Amarias esse, esse não sei quê
Que me dá o timbre,
E as carícias que a cadeira imóvel apenas suporta,
E que minhas mãos ondeiem e meus olhos queimem.
 
A ausência do batom, e a boca seca,
E um sorriso maroto
Que sei que hoje respiro só desejo.
 
Se não fora meu corpo apenas que amasses...
 
(02/10/1997)

 

   
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Clique aqui: milhares de poetas e críticos da lusofonia!

Maria Maroca



O NOME PRÓPRIO


Meu filho está se descobrindo;
“Eduado”, ele evoca o nome
Tentando se apropriar da coisa contida nele
Que apenas intui, não sabe ao certo.
 
Experimenta, enquanto isso,
entre uma panelada e um tombo
“Eduado”, canta,
canta e repete o nome seu, não de todo posse.
 
Eduardo se apropria de si, do mundo e de seu nome.
Não desiste, não se abate, chora e ri a descoberta
de “Eduado”.
 
É, sem ainda o saber: feliz.

(4/11/2000)

 

 

   
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Clique aqui: milhares de poetas e críticos da lusofonia!

Maria Maroca


 

MAL DE AMAR


Você me amarrou as asas, coração
E, rindo, me diz: – voa agora!
Como se eu pudesse,
E você realmente quisesse ouvir o som da partida...
 
Sem asas ou chão, piro agora
pairo, sem reparos,
sem força maior que a de despertar piedade,
pato sem água,
águia cega,
sem vôo, nem pouso;
 
Piada triste, da qual só você ri.
 
(20/10/2000)
 

 

   

 


 15/09/2005