Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova, detail

Ronald de Carvalho


 

Épura


Geometrias, imaginações destes caminhos
da minha terra!
Curvas de trilhas,
triângulos de asas,
bolas de cor...
 


Círculos de sombras agachadas entre as árvores,
cilindros de troncos embebidos na luz.

 

Geometrias, imaginações destes caminhos
da minha terra!

 

Melancolicamente, nesta alegria geométrica,
pingando bilhas polidas,
o leque das bananeiras abana o ar da manhã...


Publicado no livro Jogos Pueris (1926).
In: CARVALHO, Ronald de. Poesia e prosa. Org. Peregrino Júnior. 2.ed. Rio de Janeiro: Agir, 1977. (Nossos clássicos, 45). p.63.
 

 

 

Tiziano, Mulher ao espelho

 

 

Início desta página

Herodias by Paul Delaroche (French, 1797 - 1856)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ronald de Carvalho


 

Filosofia


A realidade é apenas
um milagre da nossa fantasia...

 

Transforma numa Eternidade
o teu rápido instante de alegria!
Ama, chora, sorri... e dormirás sem penas,
porque foi bela a tua realidade.


Publicado no livro Epigramas Irônicos e Sentimentais (1922).
In: CARVALHO, Ronald de. O espelho de Ariel e poemas escolhidos. Pref. Antônio Carlos Villaça. Rio de Janeiro: Nova Aguilar; Brasília: INL, 1976. p.174. (Manancial, 44)
 

Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Ronald de Carvalho


 

Interior


Poeta dos trópicos, tua sala de jantar
é simples e modesta como um tranqüilo pomar;

 

no aquário transparente, cheio de água limosa,
nadam peixes vermelhos, dourados e cor de rosa;

 

entra pelas verdes venezianas uma poeira luminosa,
uma poeira de sol, trêmula e silenciosa,

 

uma poeira de luz que aumenta a solidão.

 

Abre a tua janela de par em par. Lá fora, sob o céu de verão,
Todas as árvores estão cantando! Cada folha
é um pássaro, cada folha é uma cigarra, cada folha é um som...
O ar das chácaras cheira a capim melado,
a ervas pisadas, a baunilha, a mato quente e abafado.

 

Poeta dos trópicos,
dá-me no teu copo de vidro colorido um gole d’água.
(Como é linda a paisagem no cristal de um copo d’água!)


Publicado no livro Epigramas Irônicos e Sentimentais (1922).
In: CARVALHO, Ronald de. Poesia e prosa. Org. Peregrino Júnior. 2.ed. Rio de Janeiro: Agir, 1977. (Nossos clássicos, 45). p.34.
 

 

 

Tiziano, Mulher ao espelho

 

 

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Ronald de Carvalho


 

Meio-dia


Choque de claridades
Palmas paradas
Brilhos saltando nas pedras enxutas.
Batendo de chofre na luz
as andorinhas levam o sol na ponta das asas!


Publicado no livro Jogos Pueris (1926).
In: CARVALHO, Ronald de. Poesia e prosa. Org. Peregrino Júnior. 2.ed. Rio de Janeiro: Agir, 1977. (Nossos clássicos, 45). p.62.
 

Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Ronald de Carvalho


 

Sabedoria


Enquanto disputam os doutores gravemente
sobre a natureza
do bem e do mal, do erro e da verdade,
do consciente e do inconsciente;
enquanto disputam os doutores sutilíssimos,
aproveita o momento!

 

Faze da tua realidade
uma obra de beleza

 

Só uma vez amadurece,
efêmero imprudente,
o cacho de uvas que o acaso te oferece...


Publicado no livro Epigramas Irônicos e Sentimentais (1922).
In: CARVALHO, Ronald de. O espelho de Ariel e poemas escolhidos. Pref. Antônio Carlos Villaça. Rio de Janeiro: Nova Aguilar; Brasília: INL, 1976. p.176. (Manancial, 44)
 

 

 

Tiziano, Mulher ao espelho

 

 

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Ronald de Carvalho



Vento noturno


Volúpia do vento noturno,
do vento que vem das montanhas e das ondas,
do vento que espalha no espaço o cheiro das resinas,
a exalação da maresia e do mato virgem,
das mangas maduras, das magnólias e das laranjas,
dos lírios do brejo e das praias úmidas.

 

Volúpia do vento noturno nas noites tropicais,
quando o brilho das estrelas é fixo, duro,
quando sobe da terra um hálito quente, abafado,

 

e a folhagem lustrosa lembra o aço polido.
Volúpia do vento morno do verão,
carregado de odores excitantes,
como um corpo de mulher adolescente,
de mulher que espera o momento do amor...

 

Volúpia do vento noturno em minha terra natal!


Publicado no livro Epigramas Irônicos e Sentimentais (1922).
In: CARVALHO, Ronald de. O espelho de Ariel e poemas escolhidos. Pref. Antônio Carlos Villaça. Rio de Janeiro: Nova Aguilar; Brasília: INL, 1976. p.173. (Manancial, 44)
 

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