Soares Feitosa
1. Bromélias
Noite
igual por dentro ao silêncio, Noite [Álvaro de Campos]
Um retrato distante, mostrei-lhe a efígie: uma moça distinta, muito bonita. Parece com você — disse-lhe.
Ela
disse: Parece não, é muito séria. Eu disse: "É não! Ela é uma poeta dos aurorais, os sóis do pântano". Ela perguntou se tinha bromélias.
Eu disse que bromélias, com muito
espinho e muitas
todo o tempo, eram-lhe
Não reparei
essas banalidades do "pncd" — |
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2. Os desenhos E todos os desenhos eram prévios. Até mesmo o gesto: E bebíamos e nos ríamos às
coisas fúteis, — Que mais queres, leitor ávido de coisas? Uma montanha? Exiges uma
montanha,
Agora,
Fortaleza, 13.11.1999, noite alta.
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Da generosidade dos leitores |
André Seffrin Meu caro amigo Feitosa,
E cá estou eu, "leitor ávido de coisas", fruindo seus dois novos poemas. Não tenho o que dizer. Que dizer? "As bromélias, o espinho, as abelhas." O resto é silêncio. Abraços de seu fiel leitor André Seffrin |
Flora Ferreira Soares, brilhante essa noite alta em Fortaleza. E essas bromélias que fazem e não fazem parte da Flora nesse seu enredo me enredaram até o fim.Valeu poeta, parece que Fortaleza tem um veio lírico muito intenso e vasto. Já conheci dois poetas extraordinários dai. Até me apaixonei por um[pelos poemas]. Isso aí deve ser uma paraíso para tanta inspiração. Sete anos de pastor Jacob servia a Labão pai de Raquel serrana bela... Será para tão longo amor tão curta a vida? Então curta... Um abraço de bromélias pra você Flora F. |
Rosel Soares Poeta! A facilidade com que as palavras furam meus/nossos olhos, ouvidos, cérebros e corações deve-se unicamente a escolha acertada que você, lapidador, empreende durante as "altas noites" do Ceará. Eu me impressiono, verdadeiramente eu me impressiono. E é uma sensação gostosa da porra estar lendo versos seus. Por exemplo: tu sabes que minha situação financeira não está nada boa. Mas enquanto ouvia você falando que "...agora de manhã, mostrei a advogada, ela trabalha aqui comigo", juro que esqueci do "pncd" e vivi (por instantes, é verdade!), como o mais abastado dos homens aqui na terra. Esqueci do que podia esquecer e lembrei do que devia lembrar. Viajei!... Conclui-se: você é um ilusionista, um enganador, um homem cuja crueldade parece não ter fim. Por que tanto talento para tanta maldade? Mas queremos ser iludidos (precisamos), enganados (é importante) e aniquilados (é morte feliz) por causa de seus versos satânicos. Escreva-me mais! Mande-me novos versos! Pois, se o "pncd - pao-nosso-de-cada-dia" está sendo difícil de arrancar do solo canadense (estou sendo dramático demais, aplique o desconto!), que pelo pelo menos a "pntd - poesia-nossa-de-todos-os-dias" não nos seja negada. Pois que já me sinto dono dos teus versos. Vai ver, o processo é esse mesmo. Escreveu, desenhou, computou, publicou..., já era, não te pertence mais. É de quem lê, aprecia, cita, divulga... Fiquei feliz porque você manteve o verso "Ela perguntou se tinha bromélias". Perfeito! Não sei criticar poesia (ainda bem!). Mas sei quando um verso vale a pena! Abraços sinceros! Rosel |
Elizabeth Lorezontti Soares,
Vejo que o poeta continua esbanjando inspiração por essas noites altas. Muito lindas poesias, melhor ainda lê-las ao chegar num plantão dominical deste vetusto órgão de imprensa do qual sobrevivo. Poesia, salve a Poesia, só ela, sabemos pode nos salvar. Um grande abraço Elizabeth |
Gizelda Morais
From: "gizelda"
<gizelda@hiway.com.br>
Sent: Sun, 14 Nov 1999
15:18:00 -0200
Que bonito! Adorei os poemas, em especial o segundo - Os desenhos. Gosto também da expressão - noite alta - com que você os conclui, pois criam o clima perfeito para que as palavras se soltem e saiam por aí, buscando as almas que estão à espera delas. Gostaria de devolver a mensagem com um poema meu, mas já vai longe o tempo em que deixei de criá-los. Ao optar por ser professora de literatura (sou advogada por formação primeira) meu cotidiano encheu-se de tantas belas poesias que passei a sorvê-las ao invés de criar outras. Porém, continuo sentindo enorme felicidade sempre que vejo alguém escrevendo, seja lá o que for, principalmente poesias. Tenho alunos jovens e maravilhosos, sonhadores, temos tardes inteiras de poesia. É muito belo ver a luz brilhando nos olhos deles, quando descobrem algum novo poeta. Um abraço, Gizelda. |
Hilton Deives Valeriano
Poeta Soares Feitosa, escrevo para saber como andam as coisas. Mesmo sem ter obtido resposta do e-mail anterior. Relendo seus panfletos poéticos lembrei de sua grande atividade de divulgação de poesia. Em um mundo utilitarista como o nosso seu amor pelas letras torna-se heróico. Estou cursando o mestrado na Unicamp, sempre divulgo seu trabalho e seu nome. É uma pena que a academia na maioria das vezes é míope para a poesia e trabalhos como o seu. Noite, dois excertos: a poesia como desvelamento. As exigências do cotidiano (o maldito funcionalismo!) como ruptura dessa dimensão. Lírica moderna sem abandonar a tradição: eis sua poesia. Lendo sobre a biblioteca Cururu, não pude deixar de pensar no Mindlin. Se você ainda estiver publicando esses panfletos não esqueça de mim, pois tenho muito carinho e sinto grande prazer em lê-los. Eles possuem lugar especial em minha modesta biblioteca. Seu amor pela poesia me causa grande admiração, poeta. Estou cursando uma disciplina sobre Baudelaire. Trata-se de um estudo sobre a leitura de Walter Benjamim a respeito desse grande poeta. Através dessa disciplina conheci os Cantos de Maldoror do poeta Lautréamont. O que você acha desse poeta francês? Também estou também lendo Garcia Lorca. Grande poeta. Muita coisa se passou desde a última vez que conversamos, entre elas o nascimento de meu filho. Um abraço.
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Cabeça de mulher, estudo
(05.05.2023)