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Ronaldo Oliveira 

Entardecer, foto de Marcus Prado

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Ruth, by Francesco Hayez

 

John William Godward (British, 1861-1922),  A Classical Beauty

 

 

 

 

 

 

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Memories, detail

 

 

 

 

 

Ronaldo Oliveira


 

Mutante Mautner

A Tarde On Line
 

Ao nos convidar a acompanhá-lo num mergulho pelo universo do cantor, compositor e poeta Jorge Mautner, o jornalista César Rasec adverte que, primeiro, é preciso desarmar-se de todo o preconceito. Só assim, de fato, é possível entender e apreciar a atuação desse anárquico mutante – arauto, há pelo menos 30 anos, de uma Nova Era, no cenário cultural brasileiro.

Jorge Mautner em Movimento, livro lançado na última quinta-feira, no Memorial da Câmara Municipal, é o resultado de uma pesquisa de mais de dez anos e, principalmente, de um fascínio que começou quando o autor ainda cursava Comunicação na Universidade Federal da Bahia, no final dos anos 80. Acompanha o volume um CD com as músicas Kaos, de Rasec e Luís Caldas, interpretada por este último, e Cordel Dionisíaco, também de autoria do jornalista, com os artistas Bule-Bule, Bira Paim e Missinho.

Incorporando o deus Dionísio, entidade que rege o biografado, assumido hedonista, César Rasec nos conduz, numa hiperbólica viagem, a diferentes momentos da vida de Henrique George Mautner, filho de judeus austríacos que chegaram ao Brasil fugindo do nazismo, no início dos anos 40.

As entrevistas que se sucedem, ao longo das 407 páginas de Jorge Mautner em Movimento – ilustrado com fotos do acervo pessoal do artista –, permitem seguir não apenas a trajetória do personagem-título na literatura, na música e no cinema, mas a própria história recente do País. Depoimentos como os de Paulo Bomfim, José Roberto Aguilar, Luís Carlos Maciel, José Carlos Capinan, Nelson Jacobina, Rogério Duarte, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Roberto Sant’Ana, Dulce Maia e Jary Cardoso enriquecem, por seu cunho testemunhal, o conhecimento do leitor sobre temas que vão do Tropicalismo à Bossa Nova e aos anos de chumbo.

SOFISTICAÇÃO – O poeta Paulo Bomfim, membro da Academia Paulista de Letras, conheceu Mautner em 1961, aos 20 anos, e lembra a impressão que lhe causou “aquele adolescente que escrevia, compunha e interpretava de maneira totalmente diferente”. Deus da Chuva e da Morte, lançado em 1962, rendeu ao jovem escritor o Prêmio Jabuti. O livro, vinha sendo escrito desde os 15 anos, revelando a precocidade do autor.

A partir de Kaos, lançado em 1963, Mautner mantém uma produção literária que se alterna com seu trabalho musical. Nos anos seguintes, publicaria Narciso em Tarde Cinza e Vigarista Jorge (1965), Fragmentos de Sabonete (1973), Panfletos da Nova Era (1978), Poesias de Amor e Morte (1981), Sexo do Crepúsculo (1982), Fundamentos do Kaos (1986) e Miséria Dourada (1993).

Sobre sua obra diz o jornalista Luiz Carlos Maciel: “Jorge Mautner é um artista muito sofisticado – um intelectual, um pensador, um escritor e só depois disso um artista popular, ou mais exatamente um artista que se pretende ser popular por opção, gosto, preferência e não, segundo penso, por karma, destino. Em suma, Mautner é um fenômeno de elite, tem admiradores capazes de entender sua sutileza, mas parece estranho às massas afeitas a uma comunicação mais simplória”.

Vencedor do Grammy latino do ano passado com o disco Eu não peço desculpa, feito em parceria com Caetano Veloso, o compositor Jorge Mautner é sempre lembrado por músicas como Maracatu Atômico (com Nelson Jacobina, seu parceiro mais constante) e O Relógio Quebrou – sucessos na voz de Gilberto Gil e de Chico Science – ou O Vampiro, gravado por Caetano Veloso, no disco Cinema Transcendental.

Sua produção musical, entretanto, tem sido intensa nas últimas décadas e pode ser avaliada, não apenas nos próprios discos – Mitologia do Kaos, Estilhaços de Paixão, Árvore da Vida e Antimaldito, para citar alguns –, mas também no prestígio que goza entre intérpretes, como Zé Ramalho, Lulu Santos, Elba Ramalho, Gal Costa, Morais Moreira, além dos já citados Gil e Caetano, todos presentes no disco comemorativo de 40 anos de carreira, Ser da Tempestade.

Ao tratar da presença de Jorge Mautner no cinema, César Rasec registra que Gláuber Rocha considerava O Demiurgo, realizado por Mautner em Londres, em 1970, como “o melhor filme feito sobre e no exílio”. Pouco visto, O Demiurgo tem como atores, além do próprio diretor, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jards Macalé, Dedé Veloso, Sandra Gadelha, Roberto Aguilar, e Leilah Assunção.

A pecha de “maldito”, que sempre acompanhou o artista, está presente no filme Jardim de Guerra (1968), dirigido por Neville de Almeida, com argumento e roteiro de Jorge Mautner. Como ator, ele aparece em várias produções nacionais, a exemplo de São Paulo S.A., de Luís Sérgio Person, e Choque de Sentimentos, de Máximo Alviani, ambos de (1965); O Olho Mágico do Amor (1987), de José Antônio Garcia e Ícaro Martins, e Festa (1989), de Ugo Giorgetti.

Leia

Jorge Mautner em Movimento, de César Rasec

z Edição do Autor
z Telefone: (71) 240-8994
z R$ 35 (Livro com CD musical)
 

 

 

 

 

 

25.01.2005