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Soares Feitosa

Fortuna crítica

Neste bloco:

Anderson Braga Horta

André de Polverel

Antero Coelho Neto

Gerana Damulakis

João Arlindo Corrêa Neto

Marta Gonçalves

Neide Medeiros Santos

Paulo Nunes Batista

Rosa Esteves

Vitor Sznejder

 

 

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Gerana Damulakis

 

Um primeiro escrito

 

De como se dá a Poesia em Soares Feitosa

ou

A Noite Eterna em Sol da Tarde. 

 

Para entendermos Réquiem em Sol da Tarde, de Soares Feitosa, podemos iniciar percorrendo seu beiral: suas margens, suas cercanias. E vamos verificando que há preferencialmente um aliciante contrato com Ezra Pound, embora nosso poeta, sem dúvida, assine um pacto consigo mesmo; por isto não estou falando de plágio, mas de aliciação.

Soares Feitosa não se isenta de engolfar, imergir e entranhar-se visceralmente nas relações humanas loucas ou normais; assim, ele fortalece seu texto com o próprio homem, seja em estado lúcido, seja na irracionalidade dos gestos assoladores, como o ataque da Besta, que em certo poema, transforma o homem ou mostra o homem em sua verdadeira faceta bestial: é o poema “A Outra Margem” que põe um espelho em nossas mãos. 

Soares gosta de investigar tais achaques momentâneos, e vai tecendo a trama poética com fragmentos heterogêneos, mesclando frações sombrias, tristes ocorrências e, em igual tempo, vai dando seu grito pincelado de vermelho, berrando sensações, cuja força, paradoxalmente, nasce desse acúmulo embaraçado de desencontros: o discurso, sendo cingido o quanto pode até seus limites, traz o risco de uma certa inclinação demasiado evidente de seu pendor pela erudição. Repito, é um risco deixar que sua imaginação não se liberte dos embaciamentos de uma sabedoria livresca estampada com excedente expressão.

Mas é seguro que Feitosa está alheio a fiadores, avalistas ou abonadores: ele só paga tributo a Pound, e paga caro.

A incorporação do simples, do fato trivial, na dicção poética tão permeada de erudição não compromete a comunicação, antes porque a linguagem fica entre esses extremos como uma verdadeira trapezista. A obsessão do poeta é pelo excesso, pela voracidade do sujeito artífice da palavra frente a realidade cotidiana. 

Enfim, Soares Feitosa adere aos que pensam Poesia como retrato de uma época, melhor, de um presente específico e, às vezes, conseqüente de um passado.

Em suma, ele é o poeta do presente imediato ou ele é o poeta que surge imediatamente do presente - o que dá no mesmo. Ao fim e ao cabo, poeta. 

 

 

Um segundo escrito

 

Salomão, um século para a ilusão

 

Estaríamos todos, um dia, vivendo num século onde os livros seriam os professores da vida — creio que J. L. Borges teve este sonho. E, por coincidência aquele outro grande argentino, Júlio Cortázar também. Aliás, foi Cortázar que em la vuelta al dia en ochenta mundos, discorreu sobre os vários “Julios”, entre eles Jules laforgue, poeta maior da afeição de T. S. Eliot.  Já Feitosa, discorre sobre os  “Antônios”, não sendo ele próprio um Antônio, mas antes um Francisco, prova de um elevado espírito mais que poético, divino, nem divino, pois que aqueles do Olimpo eram chegados a miradas debruçados em leitos límpidos de rios cristalinos. — Ah! a atração dos cristais. 

Falava eu de caráter, e o que tem o caráter com a poesia? Tem, se no extremo do caráter há o sentido supremo: o da salvação. Convertido daí em poesia, meio de salvação, Feitosa cria uma gritaria, ele diz “fazer uma zoada” e, melhor do que qualquer outro dos seus contemporâneos, acaba por representar a sensibilidade fin-de-siècle, ou seja, ele representa o nosso desejo de salvação. 

Muito consciente de que a história, seja a de um século, seja a do homem desde sempre, é ao fim e ao cabo uma epopéia macabra, o que temos de permeio é a ilusão. Assim que o texto poético Salomão além de uma obra literária, traz um quê de obra de profecia: a profecia dos tempos modernos. 

Mas é tanto e tanto mais que é também uma canção de amor e morte, estes temas maiores da literatura. E, veja, eles chegam ao papel, assimilados da vida, oriundos da figuração que a realidade teceu. Portanto, manados da realidade, relevados em verdadeira arte, toda e qualquer escolha de Feitosa para ilustrar momentos, são emanadas (as escolhas) da realidade, contudo ele verte em criação, acrescenta a ilusão, clama por ela, a que fica no fundo da caixa de Pandora, e, então, profetiza o século. 

Menos filosofia poética e mais análise textual me levam a dizer que as expressões da língua falada mais uma sintaxe e um vocabulário muito bem pinçados, mais o verso liberado, mais a bela arquitetura interna, tudo isso dentro do universo poético dito no algo de cósmico que ele tem, na imensidão desde o pessoal atingindo o universal, tudo isso, desde o som do vocábulo propositadamente ecoando qual tambor no ouvinte dos leitos. Tã!, desde as nostalgias da história “macabra” da humanidade, tudo isso até a confissão e até o arrependimento. 

Parece romantismo, parece porém, ao substituir as lamentações próprias do romantismo por piruetas do construtivismo — veja, os opostos. E adicionando o tom das cantigas — veja,  as cantigas têm origem nas ruas, no popular — porém digo outra vez, havendo este reflexo histórico que faz o diálogo, que faz o eco, que faz o coro, conclui-se que Feitosa criou um mundo poético novo. 

Precisamos de um mundo novo, é preciso inventar, ele inventou a maneira de cantar a liberdade sem que seja um surrealista, acho que ele inventou a cena nova que traduz a nossa angústia metafísica pela via direta do dito e não da sugestão. Ele diz e repete. Afinal, é canção com refrão. Ele, inclusive, insiste sempre com desenvoltura, tanto para destruir mitos. Pois que corrói para nos revelar, veja o caso do fotógrafo premiado; tanto e através dos personagens desajeitados. Espelho do homem comum, vivente ou sobrevivente de um mundo que está irremediavelmente ultrapassando nossa perplexidade. 

Não tendo como classificar este poeta que cria o novo, o mínimo a dizer é que ele é autor que abre caminhos. Sua classificação está no futuro. E, porque agora ele está abrindo o caminho para a literatura do século XXI. Temos, nós espectadores, a vantagem de ler a caminhada rumo aos anos 2000. 

 

 

Um terceiro escrito

 

 

Sent: Wednesday, May 08, 2002 9:26 AM
Subject: Re: A Pungente Crônica do Retrato da Menina Afegã

Feitosa: todo autor de sensibilidade deixa-se seduzir por um retrato para dele criar um texto. O seu foi magnífico. 

Tenho vontade de fazer cópias para que Luísa, minha filha, lembra?, leve para a escola e possam ler em classe. Preciso da autorização do autor. 

Parabéns pelo sentimento e pela arte dele advinda. 

Você é incrível! Beijos de Gerana

 


Recado do autor

Gerana (e leitores), tire(m) as cópias, sim! 

Um abraço bem grande para a menina Luísa. Ah, Gerana, você nem sabe o tanto de saudades do meu lado baiano, acho que o maior. Beijos do SF.

 

Neide Medeiros Santos

Alguém já disse que a poesia não tem idade e você com este livro demonstra a veracidade dessa afirmativa. Psi, a Penúltima, é realmente um livro original. A originalidade está presente no título, no envelope com inburanas-de-cheiro e nas notas explicativas de alguns poemas.

        Muito se tem falado sobre a prosa poética, sobre o poema em prosa, mas o que dizer do poema-ensaio? Quem quiser saber o que é este tipo de poema terá, obrigatoriamente, de ler Psi, a Penúltima..

 

Antero Coelho Neto

Recebi o teu livro lindo e fiquei lendo e relendo o que ali estava, vendo as palavras, seus diferentes significados e o que elas não precisavam significar porque eu entrava nelas como se fossem minhas..., ou de todo mundo. Estranha sensação que jamais tinha tido antes com qualquer outro poeta..., é como se tudo aquilo fosse meu e não fosse.

Mas devia ser meu porque eu vivia as palavras apesar de algumas serem diferentes das que digo e escrevo. Sei não, alguma coisa meio mágica... Mas, como cada vez entendo menos das emoções, aqui fica o meu dito. Pra frente meu jovem poeta que muito necessitamos de ti.

 

 André de Polverel

Meu caro Soares        

Fico embasbacado — se é que uso a palavra certa — diante de versos  tão bem preparados como em Psi, a Penúltima, uma enciclopédia humana em plena ebulição!

André

Vitor Sznejder

 

Quadro de Hélio Rola [2001] Sent: Monday, March 18, 2002 8:27 AM
Subject: Re: Vitor, li a história ancestral (até Bonsucesso). Emocionante. Vai este abraço. SF

Caro Soares Feitosa:
Antes de mais nada, grato pela visita ao meu site e, mais ainda, pela paciência de ler um texto que eu próprio ainda não consegui concluir!

Vislumbrei as referências ao Livro, no seu texto, assim como "ouvi" ecos de Garcia-Marquez e Saramago: afinal, pensei, quem será o gajo?

Será cristão-novo? Como chegou a mim?

Conte-me mais! :-)

Abraços,

Vitor Sznejder

 

Anderson Braga Horta

Termino a leitura/releitura de Psi, a Penúltima; e confirma-me a impressão inicial que me deu sua poesia: a singularidade sintática, consistente no expor, às vezes, por justaposição; ênfase no humano, especialmente na infância, na carência. Repito que me agrada o poema Femina, que você apresenta como uma variante e homenagem cuja referência é "Lembranças", de Angela Schaun. Daí por diante minhas preferências recaem em "Perdidos e Achados", "Strip Tease", "Mergulho", "Lua de Março", "No Céu Tem Prozac", "Réquiem em Sol da Tarde". "Abismo em Três Dias" tem um verso que avulta ao ouvido amante do decassílabo: "rasga-me o peito a chama murmurada".

Como já tive oportunidade de lhe dizer, agradou-me deveras o ensaio sobre os "Poemas da Besta". Estas preferências não querem dizer restrições às demais páginas.

Invenção que me encantou foi o envelope com semente de imburana-de-cheiro torradas e moídas. Seu odor mágico me leva a um trecho de minha infância, em Goiás Velho, em cuja praça principal, quase em frente a nossa casa, havia grande umburaneira, que um temporal, há alguns anos, arrancou com raízes e tudo. No tempo azado, dedicava-me, como a um trabalho de música ou poesia, a perseguir suas sâmaras em queda helicóptera. Havia um quê de voluptuoso nessa colheita. Guardávamos as sementes, cujo cheiro delicioso é uma das boas marcas de minha infância.

 

João Arlindo Corrêa Neto

     

From: Joao Arlindo
Quadro de Hélio Rola [2001] Sent: Wednesday, March 20, 2002 11:22 AM
Subject: Hélio Rola e Soares Feitosa

Soares, grande poeta.

Agradeço sensibilizado a oportunidade que me foi conferida...ler tão belo texto. Poesia em forma de prosa, típica daqueles que dominam a arte de contar estórias. 

A leitura deste texto nos remete aos mais recônditos escaninhos da memória e a retina cega, embaça e turva-se. Até os cheiros se materializam...senti o cheiro de café pisado no pilão, o doce de banana batida de Mãe Bia e o aroma do mato verde. Acho que até uma lágrima brotou deste poço de sentimentos e rorejou pelos rios secos de minha face. 

Um grande abraço. Parabéns ao ilustrador.

João Arlindo Corrêa Neto

 

Rosa Esteves

From: ROSA ESTEVES
Quadro de Hélio Rola [2001] Sent: Tuesday, March 26, 2002 3:33 PM
Subject: Galo!!!


Olá,

O quadro é giro. O texto vem a calhar. Posso levar para os meus alunos? Não tenho nada de poeta, mas o que está dito aquece, e não é do vermelho!!! Agora, ninguém me pergunte porquê. 

Se for preciso analiso com a malta, mas só depois de me dizerem se gostam ou não e o que lhes lembra. Por aí quando eles têm exames e todos querem que estudem coisas chatas, como é que se faz? Tem-se pena e dá-se a classificação? ou cortam-se as pernas aos que mais precisam delas?

Atenção, não sou das obras de caridade. É  SÓ  PARA SABER.

 
                                       Rosa Esteves

[Em tempo: Rosa Esteves é educadora em Lisboa]

 

Paulo Nunes Batista

Comigo — com assinatura, mas sem dedicatória, só com a intimação “Paulo Nunes Batista: Isto é um Convite!, — a sua bíblia de beleza poética, o formidável e fantástico Psi, a Penúltima, (glória ao Senhor!), o qual prinspiei a ler tresantonte e findei indagurinha! Sideralizou-me, como gostva de dizer o genial repentista culto, meu amigo e coestaduano da Paraíba, Eurícledes Formiga. Um senhor livro de Poesia, sem favor. 

Logo de cara o título lembrou-me não a Grécia e seu albabeto, Esopo e altos filósofos, mas a nossa MPB com Nora Ney interpretanto o gostoso Me dá a penúltima, de João Bosco e Aldir Blanc: “Eu gosto quando alvorece/ porque parece que está anoitecendo./ E gosto quando anoitece que só vendo/ porque penso que alvorece. (Mas, eu gosto, Som Livre, 1977) 

Também só de penúltima eu sou. E sôo. A última é o enfaro, o fastio, o sonho sonhado. Sonho bom é o que se inventando vive. Não há fim de nada, tudo se projeta e continua. A morte na vida. A última é o desencanto — o fim do mistério, e, sem mistério, onde a Poesia? De permanente só o Infinito: só a transitoriedade permanece. É o eterno reticenciar da oenúltima... 

Seu Psi (psiu! psiiit...) a penúltima encanta desde a capa: um alaranjado de acaso subindo para um ouro cada vez mais claro, com nuanças de tons negro-vermelho, noite-sangue, madrugada alborecendo, um sol do Nordeste autorizando... E na contra capa o Sonho-Menino ainda na moldura ova do n’ovo, o olhar sem tempo espaço adentro e aqueles versos rubros sobre o branco-e-preto e sobre os Poetas que a Vida ainda gesta! 

Bom, Feitosa, meu São Francisco José Soares dos Siarahs, fui lendo e anotando os poemas, com as impressões às margens (uma 3ª margem improvisada no supetão da emoção...). Antes, sobre Gerardo, que lhe merece a Oferenda, com a notável A Aparição da Poesia, dele, sobre o seu Psi, pertinentíssima. Em Antífona grifei: “...mas o sol de medo de se perder na mata/ corria ligeiro, mais ligeiro ainda, / o medo de se rasgar nos galhos dos paus, / para enganá-los, / ficava maior na hora de se esconder,” — trecho que me reporta a passagem de Cassiano Ricardo em Martim Cererê: ele com a grandeza dele, você com a sua. (...) “quando mestre-Sol mandou/ o menino Chuvisco armar uma rede / para tirar tirar um cochilo, / de tão cansado, / longa a viagem de todos os dias.” Algo de Catulo da Paixão Cearense e de Ascenço Ferreira, ou, quem sabe, de Zé da Luz e Pompílio Diniz, me brota lendo esses versos.  

Mas, Soares Feitosa, que espantosa poesia é a sua: “Sol-menino, / apoiara o queixo, / rasgara as mãozinhas/ na hora de nascer”. Meninos, eu li!  “Na raiz do gesto, o som do gesto” E... “Otacílio, dos Batistas, / a batistada toda”, mexeu fundo comigo: eu sou um deles. Obrigado, Poeta! E falando de trovas-trovadores — buliu comigo outra vez! — “pois como conseguem/ encaixotar o início, / passear pelo meio, / botar presilha no fim”... e você fala de Leota, do seu Ceará, mas omite o velho Chagas Batista, meu pai, de quem está sendo lançada a 2ª edição dos Cantadores e Poetas Populares, a primeira antologia no gênero publicada na Parayba, em 1929... É essa coisa do arquipélago que todos somos. 

Em Thiago escrevi, logo abaixo do título: Mui... to bom! “... e subitamente um brilho fugaz:/ eram uns orvalhados/ na minha face seca/ qu’eu rapidamente enxuguei, / de vergonha e belo...”. 

Em o Trem e o Cordeiro: “Não consigo confiar/ — o olho —/ maldigo a régua/ que poderia / ter chamado / bem pra pertinho / a paisagem, o cordeirinho, / para pousá-los / nos paus desta janela”. 
 Em Lágrima Súbita: Belo!!! 

Panos Passados: Bom, de doer. Pungente! Dolorido! Magoado! 
 Cumplicidade: Excelentíssimo Senhor Poema! 
 No Céu tem Prozac: Bom de matar. Rio Macacos: “Galo-Rei!/ Ó supremo rei da criação!/ sob a tenaz do teu bico, as fêmeas de tua raça, / mesmo que ensaiem uma corrida ligeira, a fêmeas/ te entregam o segredo das gemas, / numa manhã de ouro elas entregam”. Uma imagística imensa! 

Balançando Devagarinho: “... educada no leve e no rangir, / nunca na pedra...”, só um Poeta de fato e de direito como é você sabe e pode e deve ler João Cabral sem se educar pela pedra..., mas quem sabe, até em educando pela pedra... “aqui, / que é perto, / também/ se/ não chove/ até/ o / 19/ de / março/ Amém”. Quem diria melhor? Dorme, menino! E a glória do pião que é só até “quando se espatifa o giro”.  O que digo entre as Flores?: “... botar a melhor veste nos caminhos?”. 

Psi, a Penúltima: Belíssimo! O psi, em sendo miúscula, é candelabro/ fogo, luz, glória!/ Em sendo minúscula, é mandacaru, / sofrimento, resistência”. Canto I: “água aqui é sempre música”,  canto épico, picado de epopéia, dramático-telúrico, poético-ecológico, Canto-alto, Canto-chão! Cantar lírico-romântico do Nordestino, tão entre coronéis-raposas / e os cabras de Lampião... / um canto de infindas léguas / que se perde na amplidão!...  

O PSI de psis sugere o sertão de mãos ao alto — o candelabro do Sol, da seca o mandacaru, — rendido pela Tragédia: esse Homem Nordestino com o Nó no destino... Só que o r antes de destino é do verbo rasgar: rompe o nó... um profeta, o Conselheiro a pregrar às solidões, Padim Cirço abençoando a alma ingênua dos fanáticos? O Beato Lourenço, o Beato Severino — Caldeirão, Pau de Colher... na direita o crucifixo, e na sinistra o pau-de-fogo... Talvez Gregório Bezerra avisando a tio Sa(ta)n: Êpa, tem dono, o Brasil?... um Brasil de mãos ossudas soprando a brasa da fome... 

Psi, a pena última, é canto do povo, para compensar, no todo, qualquer conto-coroné. é Canto-Macunaíma, é Ponto-Candomblé, Embolada de Coqueiro, Coco pisado no pé. É samba, é frevo, ciranda, festa de Terreiro de Umbanda, Romaria em Canindé. 

Raul Bopp com Cobra Norato, Mário de Andrade com Macunaima, Jorge de Lima com Invenção de Orfeu, Graciliano Ramos com Vidas Secas, Guimarães Rosa com Grande Sertão: Veredas, Jorge Amado com Terras do Sem Fim, Euclides da Cunha com Os Sertões, João Cabral de Melo Neto com Morte e Vida Severina, Ariano Suassuna com O Romance da Pedra do Reino, Paulo Dantas com Sertão do Boi Santo — entre outros marcantes poetas e prosadores do Brasil, têm agora ao seu lado feitorando essas áreas (árias) das letras belas, esse Bardo, esse Vate, esse Rapsodo, esse Fazedor de Poesia, Soares Feitosa com o seu magnífico Psi, a Penúltima, agitando os arraiais líricos e épicos deste País-Poeta. 

Poesia que arrepia a gente, farta de achado, carregada de imagética, explorando todos os ritmos, a lembrar no particular e no universal um Canto General, de Pablo Neruda ou até mesmo um Walt Whitman, de Folhas de Relva, esse Psi, a Penúltima de Soares Feitosa é algo de insólito e novo, abrindo outros caminhos à arte poética neste final de século e milênio. 

 

Marta Gonçalves

Foi alegria receber seu telefone falando do nosso Cartão Poético “Alegoria”, Ed. Minas. É dura a luta literária, faz anos estamos tentando deixar algo. Algo que fique na retina, que alcance o infinito. Nem sempre o que escrevemos tem a marca, o valor necessário à perenidade. Soares Feitosa tem pouco tempo de poeta, menos de dois anos, porém notamos uma explosão de alma, de vida interior, no poeta.

Chegou Réquiem em Sol da Tarde. Que título poético. O valor começa na feitura do livro, feito pelo autor que ama o computador. Um encanto a arte gráfica no andar do livro.

A porosidade do homem está no texto. Na leitura de sua poesia me lembrei de Manoel de Barros. O mesmo cheiro de terra, renovação da palavra, outra forma criativa na poesia. Um cromatismo domina os poemas. Percebe-se claramente o interior, a infância crescendo no universal. 

O Ceará ganhou nova voz, que juntamente com Francisco Carvalho, Dimas Macedo, Jorge Pieiro e outros enriquecem a poesia do Brasil.

Foi bom conviver com a boa estrutura de seu texto e com um livro feito pelo autor.

 

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