Endereço
postal, expediente
e
equipe
Escreva-nos
|
Antônio
Houaiss |
Retardando numa recuperação de
saúde que me está sendo uma verdadeira ressurreição,
recuperando-me de dupla catarata recém operada, quero
agradecer-lhe Psi, a Penúltima, que já me intrigou e instigou o
bastante para gastar-lhe tempo de lê-lo com vagar.
Veja
o original
Esta é a segunda reação ao seu
Psi, a Penúltima, que está sendo justamente recebido com
entusiasmo, conforme estampado nas orelhas do livro. Estou certo
de que as confissões autobiográficas tiveram um poder de
peso ponderal à reação dos leitores, que, como eu, sentem
que os poemas dizem nos limites de sua vida mais do que os limites
permitem — o que é o forte de sua obra. Sinto com relação aos
poemas de versos curtos, às vezes curtíssimos, que o fundo ou o
lastro poemático lhes falta, o que será dado pela sua própria
alocação — no que você associa bem os poemas escritos
aos poemas falados, a sua literatura de oratória: você
acabará editando alguns discos (CD) com os últimos.
Reavivo-lhe
meu agradecimento e espero que prossiga na sua trajetória.
Seu Salomão, pré-edição,
confirma-o como poeta em prosa e verso. No verso, acompanho os
louvores que lhe foram feitos pelo Psi, a Penúltima. Na prosa,
prosaverso, você é destemido, corajoso e positivo, porque
humanitário. Lamento que minhas letras se enuviem quando quero
louvar. Perdoe-me, mas louvo-o.
|
Ariadne
Quintella
|
Palavras,
vazios, sinais. Signos e simbolismos. Idéias. Estes
elementos estão presente na poesia de Soares Feitosa, que
em diferentes momentos desloca-se no espaço e se aproxima
do romanceiro, que moldou a expressão poética ocidental.
Foi
aos 50 anos que esse autor despertou para a literatura,
através da poesia. Nela, o cruzamento de imagens que após
passar por um demorado processo de maceração, brotaram de
repente sem que o autor se apercebesse.
Não
importa buscar qualificacões para a composição poética
de Soares Feitosa, ou ter preocupação de encaixá-lo entre
os poetas concretistas. Oportuno mesmo é descobrir o que se
esconde lá dentro, numa miscigenação de idéias quase
sempre carregada de simbolismo e que revela os seus valores.
O
corpo da Mãe Terra, como diria Millie Uydert, está vivo e
foi construído segundo o mesmo padrão cósmico do homem
que ela carrega no colo. E foi justamente essa energia telúrica,
capaz de criar os verdadeiros artistas, que impregnou o espírito
de Soares Feitosa, fazendo-o retroceder, em determinados
momentos, ao seu pé-de-serra, escondido no mapa do Ceará.
Importam
as distâncias se a vida é a mesma em toda parte?
Daí
ele fazer o contraponto entre o sertão onde nasceu e a Grécia
para onde é levado pela mesma estrada. Os deuses do Olimpo
ocupam seu imaginário ao lado da raposa, esquálida, cinza,
fulva, até do sibite que é nosso compadre e tem filhos
para criar.
O
autor nos conduz por ravinas, malocas e locas, tocas, ocas e
precipícios, onde é comum a presença de espinhos,
garranchos e pedregulhos. Numa linguagem rica em metáforas,
a poesia de Soares Feitosa também é uma denúncia, embora
aquele jogo de palavras seja, aos olhos do leigo, ilógico.
Na figura dos engodos e das esperanças, do sofrimento e da
resistência, das desigualdades sociais do urso panda e da
raposa, o primeiro alimentado a pires de leite e nectarinas
e a outra, vítima de perseguição no Maciço do Baturité
onde a água, quando aparece, é sempre música e a comida
é pouca para dividir com os bichos.
Apesar
da adversidade, sobrevive a resistência do homem nordestino
nos versos soltos de Soares Feitosa, porque fugir não é
destino. É fugaz alternativa do ficar e lutar.
Depois,
quem pode escapar do estigma de ser nordestino, baiano ou
paraíba ? A resistência do autor foi forjada muito cedo e
alimentada pela luz do sol que ofusca de brilho esta região.
Por conta disso, ele não despreza as papas de farinha de
trigo que comeu, a carne de bode, a coalhada e os cheiros e
sons da infância. A lagartinha removeu lentamente as dunas
e fez desmoronar tudo, mas Almofala é a cidade ressuscitada
pela mesma lagarta que habita o imaginário do poeta. Ali
hibernam as primeiras inquietações da adolescência num
universo de sortilégios e onde a inspiração vagueia do
tema lírico ao filosófico, para fazer valer a força da
palavra que desabrochou em verso.
Mas,
como diz o próprio poeta, nada é último, só Ele quando
voltar, resta ao leitor aguardar e ver que esta edição não
seja definitiva.
|
|
|
Luiz
Bello
|
Penúltimo
Canto
Penúltimo Canto — onde há perigo, há
medo. O medo produz a angústia. A angústia inspira os poetas. E
desencadeia poemas como Penúltimo Canto, rajetória entre uma pergunta
inquieta e a revelação final do perigo de saber... Como no Gênesis, no
princípio era o Nada. Depois veio Sócratas, o primeiro a perguntar:
"Que é a verdade?" Platão tentou responder a pergunta ao
mestre: A verdade é apenas um ponto de proporções infinitesimais e
consistência imaginária, mas valorizado, ou supervalorizado, pelo fato
de se encontrar precisamente na metade do caminho entre duas dúvidas ou
duas certezas possíveis. Um poema que flui, baila e galopa ao longo de
marcos miliários distribuídos por Pound, Sócrates, pensadores bíblicos
e até o anônimo redator de um sábio manuscrito do Mar Morto, tem
alpiste suficiente para alimentar todo um viveiro de pássaros
intimidados.
E substância bastante para aspergir,
sobre o meio em que brotou, a água benta amigável de uma mensagem
decodificada. Cal, virgem, quando ferve na água e no verso de um artista
sensível, convida à reflexão Perguntas sem respostas provocam erudição.
Malherbe ensinou a dizer "Et les fruits passeront la promesse des
fleurs" O Penúltimo Canto exibe, mesmo a Primavera de uma geração
de poetas como Soares Feitosa, com suas flores literárias cultivadas
entre perguntas e temores de uma promessa concreta de respostas musiciais,
delicadas, envolventes e instrutivas.
Psi,
a penúltima
Vulpes ad poetam: no ensaio "O Castelo de Axel", Edmund Wilson,
um dos mais atentos críticos literários do seu tempo, identificou e
classificou duas correntes no movimento simbolista dos anos trinta. A uma
dessas correntes, Edmund Wilson deu o nome de "sério-estética"
e descreveu como voltada para a expressão refinada dos sentimentos, a
musicalidade e a abstração das idéias. À outra corrente, Edmund Wilson
deu o nome de "coloquial irônica" descrevendo-a como tendente a
unir o humor risonho ao amargo em estilo convencional.
Psi, a Penúltima, um poema que
provavelmente todos apontarão como a obra-prima de Soares Feitosa,
ajuta-se muito bem à segunda corrente descrita por Wilson, o
"coloquial irônico". Vincula-se com naturalidade ao gênero do
humor e da crítica bem humorada e smiultaneamente, ou eventualmente, também
exerce a crítica amarga.
"Psi" incorpora o diálogo
entre uma raposa nordestina, flagelada pela seca e marcada para morrer —
e um poeta quixotesco empenhado em verberar a prepotência implícita numa
campanha oficial de extermínio aos transmissores da hidrofobia. Ao longo
desse diálogo, o poema percorre diversos itinerários da ficção poética,
para ser, gradativamente, solene ou grave, sublieme ou patético, dramático
ou cômico. Para qualquer crítico, de qualquer escola ou tendência literária,
esse poema dá o que pensar, porque une um passado remoto — Esopo, Fedro,
La Fontaine que é precisamente o traço de união entre todas as raposas
da literatura milenar e a intimidada "Comadre”, destinada a
acrescentar ao perfil de Vulpes um novo traço: o da fúria atemorizante,
gerada pelo desespero. O poeta é evidentemente um estudioso, erudito,
mesmo, demonstrando, no seu papo coloquial-irônico com a Comadre, que a
nossa mente não é uma estante de biblioteca, onde se acumulam como
depósitos de conhecimentos. Nossa mente é uma central de comunicação
com toda a humanidade, e um poema — um grande poema, como "Psi",
— deve ser precisamente, um dispositivo de comunicação entre as mentes
capazes de sentir a poesia. Em face de poemas assim, nosso cérebro
costuma atuar como um aluno atento, disposto a reagir e valor cada excitação.
Hoje, como sempre, um grande poema pode
surgir, ou ser criado como um relâmpago de inspiração que nos ilumina e
engrandece. Mas o ofício do poeta continuar a exigir tempo para sentir,
tempo para contemplar, tempo para acender e transmitir a centelha, o
ensinamento límpido e contagioso que traz consigo as sementes do
conhecimento estético. A erudição aplicada em "Psi",
inclusive com a adoção de notas explicativas, enriquece o poema e o
fortalece para lutar — e vencer — a difícil luta da verbalização.
A poesia legítima penetra, mergulha nas
profundidades do espírito, vai até onde repousam nossas aptidões
inconscientes e pode despertá-las com súbita e magnífica energia.
Tucídides comprovou sua genialidade de
historiados, depois de absorver uma obra de Heródoto. Sófocles descobriu
o próprio dom de filosofar, durante a leitura dos manuscritos de Demócrito.
La Fontaine só acreditou na sua vocação poética, depois de ler uma ode
de Malherbe. E só depois de estudar minuciosamente as fábulas de Esopo,
Fedro e La Fontaine, Soares Feitosa — o autor de "Psi, a Penúltima"
— ousou divulgar seu maior poema, mensagem aliciante, de leitura
indispensável para quem ama a poesia.
Quem lê "Psi, a Penúltima",
desvenda Soares Feitosa.
Ele esculpiu sua fisionomia poética
sobre contrastes e assimilações. Se por ventura ainda lê muito os
autores de sua época, com certeza os submete ao crivo de sua mentalidade
clássica. Pois a mentalidade clássica revela-se como o impulso
construtivo de poemas maiores como "Psi". Em contraste, Soares
Feitosa usa o conhecimento dos antigos com mentalidade moderna, por isto
mesmo renovadora.
Para os poetas assim dedicados à
constante valorização dos próprios conhecimentos, a poesia não é mero
passatempo, mas um poderoso aliado nas indagações do pensamento.
Saboreando poemas como "Psi, a Penúltima",
compreende-se, com alegria que o Jornal de Poesia já principiou a cumprir
sua gloriosa predestinação que é a de revelar e apresentar ao mundo lusófono
os talentos que emergem da obscuridade para o pleno usufruto da admiração
que merecem.
On
line:
Kant afirmou, certa vez, que não saberia
ensinar a ninguém o que era Filosofia, mas saberia ensinar a filosofar.
Ninguém me ensinou a fazer Poesia, mas eu encontrei uma definição:
Poesia é tudo aquilo que me emociona! Há duzentos anos, quando eu vim
parar no Piauí, achava engraçado o povo dizer que um céu chuvoso estava
"bonito". Foi a minha primeira lição de poesia-adquirida,
porque, com o tempo, eu mesmo olhei para um céu de aguaceiro e achei que
estava bonito. Fiquei emocionado. E aprendi. Nada a ver com o belo-horrível.
A expressão "bonito pra chover", tão comum aqui e tão
estranha para o ser que eu fui, de fora, encerra uma beleza que está nos
prognósticos implícitos e uma sabedoria que os meteorologistas não
dominam, mas poetas sim.
Seu verso despretensioso "gotejava o
inverno" identificou-me com sua inspiração, revelou-me a
naturalidade do seu estro e afirmou-se (só para mim) como algo ainda mais
instrutivo — e certamente mais sentimental — do que as mãos, a noite
e o teclado de que você fala como quem ainda não sabe que talvez seja
capaz de ensinar alguém a fazer, com a Poesia, o que Kant não se atrevia
a fazer com a Filosofia. Como todo poeta legítimo, você, SF, tem um
destino: emocionar e ensinar.
|
Luiz
Cláudio de Castro |
A
poesia de Soares Feitosa
Infelizmente, não sou crítico
literário nem tenho pretensão de criticar o ensaio Os Poemas da
Besta. Digo apenas o que senti. Vi um novo Apocalipse dentro de um
escrínio de ouro. Li e me embriaguei de beleza e de verdade.
Maravilha o simbolismo entre o estábulo do Menino-Deus e as
maternidades que fizeram holocaustos de criancinhas ao
Anti-Cristo, já nascido, acho eu, e andando por aí. Não há
mais tempo, mesmo!
Thiago:
conheci Thiago quando, ainda jovens, trabalhávamos no gabinete do
cearense Parsifal Barroso, Ministro do Trabalho, de então. O
Secretário do Ministro era o meu colega de Seminário, Hesídio
Facó, o mesmo Hesíodo de quem falo em O dia da Ira, e
homenageio, em memória, em Gogó de Sola. Voltemos ao Thiago.
Quando anos depois, em perigrinação, passei pelo ninho antigo,
procurei Thiago. "Fugiu para o coração da mata, para
produzir poesia"— foi o que me contaram. Barreirinha é um
nome que sempre andou de bubuia na minha lembrança. Foi onde tia
Belinha viveu com o marido dela, Farias, ainda na minha infância.
Fazendo o quê? Francamente, não sei. O nome entra, em curta
referência, no romance que estou escrevendo e será, salvo melhor
escolha, Covão dos Sonhos.
De
novo, os grandes Poemetos. O conteúdo de Thiago, que você me
assinalou ao telefone, e lhe sou gratíssimo, mastiguei suave e
gostosamente. E ainda volto a ele com o mesmo apetite. Afinidade,
o cheiro da terra, eis a questão. Antes, contei-lhe os
constrastes vividos no nosso Siarah, para bem destacar o sabor
encontrado ao ler Thiago. Meus olhos se assombraram quando
li:
"Comuns
de nós
a
ancestralidade das águas desejadas,
minhas,
escassas,
sofridas, minh’águas;
enquanto
as tuas, Thiago,
são
as águas dos silêncios,
talvez
reparações de alguma
reforma
inconclusa
do
dilúvio primevo".
Daí
pra frente, Feitosa, foi aquele banho de cascata, como o que
tomou, num verdadeiro Eden, o seminarista de O Dia da Ira. Quando
cantas:
"...que
as águas dos teus rios, maiores que sejam,
jamais
encharcariam estas terras secas,
terras
que foram feitas para se irrigarem
—
tão somente quando daqui fugimos —
...
nos
olhos
das
que
ficaram.
Lembrei-me
da mulher e dos filhos do João (Gogó de Sola), deixados por ele
no sertão. E me emocionei profundamente. Para depois rir comigo
mesmo dos "gritos plangentes dos macacos-pregos". Sabe
por quê? Parecei doideira, mas não é. Veja bem: eu criança no
castanhal da Tia Joana, impressionado com os gritos dos macacos,
perguntei ao caboclo Cecílio o porquê.
E
ele: — Os macacos quebram os ouriços de castanha, enganchados
no galho da árvore. Vez em quando acertam no preguinho deles.
Para concluir, conterrâneo Feitosa, até na "vastidão terçã",
fugindo e voltando, como aqueles pés que emigram e povoam (Demócrito
Rocha) encontrei paralelos sinais dos meus personagens in Gogó de
Sola. A febre terçã maligna da borracha, no Desengano, onde você
também, Feitosa, deve ter peregrinado agora.
|
Beatriz
Escórcio Chacon |
Soares
Recebo
seus poemas — óleo, incenso, sensibilidade em mim derramados. Do meu
viveiro mando mudas feito abraço, que semente me vieram num sopro. Guardo
cá entre folhas pra toda estação e caminho.
Obrigado,
Poetamigo,
Inspiração,
sempre!
|
Bráulio
Leite Jr
|
O Nogueira, meu com e ilustre amigo, dr. Luiz Nogueira Barros, trouxe-me
de presente o livro Psi, a Penúltima" - Edições Papel
em Branco, do poeta Soares Feitosa. Um para mim e outro para o nosso amigo
Arnoldo Jambo, que tanta fez às Alagoas durante um périplo
de quase 30 anos.
Confesso que não conhecia nada desse iluminado cearense. Ou melhor,
quase nada. Tinha ouvido alguma referência, sim, do próprio
Nogueira, quando me falou que o conhecera na Internet. Apenas uma menção
não fixada, mas que aflorou tão logo o recebi o livro, senti
o perfume das sementes de imburana, encabulei com o título e li
alguns trechos em voz alta, num sábado de descanso aqui no Sítio
Velho. Os presentes aplaudiram, quiseram saber, comentaram, cheiraram,
abriram e reabriram o livro, entre muitas diversas opiniões. Depois
que todos saíram, levei "Psi" para o meu quarto. Lá pelas
tantas, madrugada alta, costume, acordei para ler. E o livro ali estava
como se esperasse por mim.
Comecei a leitura, fui tomar café com ele debaixo do braço
e outra coisa não fiz durante todo o dia. A poesia de Soares Feitosa
me fascina, fazia refluir meu sentimento de menino nordestino, revivendo
paisagens, ruídos e cheiros perdidos nas andanças de tantos
anos... Uma cancela batendo no mourão, o rangir da rede no terraço
da casa de meu pai, o mugir da vaca parida atraindo o bezerrinho de pernas
inseguras, o correr das águas despencando nas pedras ou vale separando
serras e montes, exibindo touceiras de capim "sempre verde" e de flores
do campo. Mulher vestida de chita nas festas de São João,
as advinhas, o dizer e os anseios do povo da "oropa, frança e bahia",
o cheiro gostoso das frutas maduras e das comidas do interior.... A saudade
dorida dos que foram e dormem profundamente... Lendo, percebia um universo
múltiplo, popular e erudito, versejado e comentado em idioma próprio,
particular e universal, como só os poetas sabem criar e oferecer.
Ao mesmo tempo, vale prevenir, dificilmente alguém não se
surpreenderá com a arte de Soares Feitosa, principalmente um neófito
como eu, se não ler e reler com atenção o que ela
contém, "no seu estuário poético, fragmentário
e composto ao mesmo tempo, com suas vozes numerosas movendo-se entre os
horizontes de vários passados e o espaço experimental de
vários presentes", como analisa o nosso poeta Lêdo Ivo. Ou
então, como diz Jorge Amado: "Seu livro é como uma dessas
arcas de antigamente, onde eram recolhidas coisas diversas, cada uma delas
com sua importância e significação."
A verdade é que no outro dia já, manhã clareando,
eu relia Réquiem em Sol da Tarde, surpreendido por Edna, que me
observava, livro nas mãos. faces molhadas, emoção
arrebentando o peito. Pediu-me para e lemos juntos:
Sim,
a porteira do caminho do rio
ainda era a mesma.
A direção do rio também;
presumo não tenham mudado o rio.
O benjamim,
disseram, morrera na Seca do 93;
arrancaram-no pelo tronco.
Não replantaram sombra,
nem pássaro.
O banco de aroeira,
racharam-no em lenha de fogo.
O curral das vacas,
também.
O chiqueiro das ovelhas,
à esquerda da casa
e o dos bodes,
à esquerda do das ovelhas,
sumiram todos.
O batente da
porta-da-frente,
e abaixo dele, outro batente,
onde uma pedra,
com um caneco d'água
lavei os pés,
ainda estão lá,
os batentes;
e nos batentes também estavam
meus rastros em riscos de fogo,
que continuam.
Os canários amarelos,
os mofumbos florados,
não os vi;
nem Flor...
que também não vi.
Os armadores da rede,
na sala-da-frente, sim,
estavam no logar,
parecem outra vez prontos para rangir.
E daquelas pessoas,
quando perguntei por elas,
fizeram-me um gesto distante.
Perguntei por mim;
ningúem sabia quem era.
Eu disse:
é um conhecido meu que gostava muito
daqui.
Perguntaram-me quem eu era.
Um amigo, disse,
e fiz um gesto
ao tempo.
Ficaram sentidos por não saberem
nem de mim, nem do "outro".
Um menino pequeno começou a
gritar,
lá dentro.
A mãe correu
para acudir.
Despedi-me
sem dizer palavra.
É isso aí. Bonito, não acham. (Gazeta de
Alagoas, 14.05.97)
|
Luiz
Augusto Cassas
|
Soares
Feitosa
Você
conseguiu tornar amplo o paradoxo da criação: universalisar.
Sua
poética lembra Gerardo Mello Mourão e Manoel de Barros, mas
no que eles têm de telúrico, já que você é árvore ímpar
platado no chão adubado da poesia. Um caso raro de
provincialidade não provinciana. E isso é tão raro, caro e
perigoso - parabéns!
|
Ascendino
Leite
|
Meu
caro Soares Feitosa
Que
poeta você é! Basta para comprová-lo esse admirável Femina
que assinaria lavado de emoção e de alegria.
Ascendino
|
José
Santiago Naud
|
Caro
Poeta Soares Feitosa
Fico
muito feliz, companheiro, de que as melhores vozes
nacionais, viradas para a Poesia, reconheceram e
proclamaram sua energia lírica, quantas vezes de ressonância
épica.
E,
sobretudo, sua afeição à terra, tão originalmente
expressa na singularidade desse envelope peregrino com
cheiro de imburana, numa prova de que a Natureza e Vida
lhe garantem a seiva na forma da palavra!
|
Continua
|
Anterior
|
Página
inicial do Jornal de Poesia
|
|