Já deve ter acontecido com você. Você vai a uma livraria à procura de um livro e não encontra. Vai à outra e nada. Acaba desistindo, sem entender como logo aquela obra-prima da literatura não se encontra nas prateleiras das lojas. Resiste à tentação de levar para casa um best-seller; afinal, se tiver sorte achará o que procura em um sebo, virando e revirando uma bagunçada montanha de livros. Bem, mas se for um livro de poesia, então, sua jornada está quase sempre fadada ao fracasso.
Cansado de garimpar nas livrarias e sebos, o cearense Soares Feitosa, que mora em Salvador desde 1994, recorreu à Internet para ler as obras de seus autores favoritos.Não adiantou. Confiante de que, na rede mundial de computadores, não teria dificuldades para achá-las, tomou um susto quando soube da escassez de obras de poetas em língua brasileira.
Mas isso já faz algum tempo e esse problema não mais existe. Hoje ele é o responsável pelo maior site (home-page) exclusivamente sobre literatura do mundo - o Jornal de Poesia . De acordo com Soares Feitosa, se levarmos em consideração o fato de que o site tem um único tema - a poesia em língua portuguesa -, o Jornal de Poesia é, sem dúvida, um dos maiores endereços eletrônicos do mundo - tarefa que levou pouco mais de oito meses para concretizar. ``Ele é como o Rio Amazonas, tudo que se falar sobre ele será pouco'', diz orgulhoso do filho pródigo. Não é nenhuma história de pescador, gabando-se do seu feito. São mais de 20 mil páginas de informação.
``Fazemos a elegia ao desconhecido'', diz Feitosa, que se recusou a implantar um sofisticado programa de busca no jornal. ``O importante é procurar, aí você se sente convidado a conhecer os autores que jamais chegaria a ler se não fosse o jornal'', explica. Entre os ilustres desconhecidos, pode-se encontrar, inclusive diversos cordelistas nordestinos.
E o armazém de poesia não pára de crescer. O Jornal de Poesia recebe de 20 a 40 mensagens por dia, dos quatro cantos do mundo, nas quais estão sobrando elogios. Poeta, escritor e crítico literário da importância de Jorge Amado,Ferreira Gullart, Wilson Martins,Millôr Fernandes e Roberto Pompeu de Toledo, já demonstraram admiração pelo o trabalho, que ocupa todo o tempo livre Soares Feitosa.
Atualizado diariamente desde sua criação, em 13 de junho de 1996, o Jornal de Poesia é a soma de muito esforço com amor à arte. Soares Feitosa, nunca ganhou nenhum tostão pelo que faz. O canadense Mr. Richard (cujo sobrenome Feitosa diz desconhecer) é o dono do provedor de acesso à Internet e não lhe cobra absolutamente nada. ``Ele é um mecenas. O custo mensal de um provedor seria de 2 mil reais. ``Fico emocionado. Até em Teresina, com aquele sol de rachar, você pode ler o Navio Negreiro, de Castro Alves, novinho'', brinca.
Além da publicação de poesia, há um grupo de discussão sobre o tema, a home-page da Academia Cearense de Letras, em fase de construção, e duas seções destinadas à poesia infantil, de autores até 12 anos, a primeira, e entre 12 e 17 anos, a outra.
Na seção de autores até 12 anos, Feitosa destaca a poeta Maria Fernanda Mendonça Costa, de 8 anos. A garotinha, de Dois Córregos, São Paulo,chegou a ser comparada a Fernando Pessoa. Um dono de uma usina de cana-de-açúcar e também poeta, daquela cidade, criou a Usina dos Sonhos, contratou 70 professores e incentivou o ensino da poesia. ``É um projeto assombroso. Os poetas nascem da terra. Quem é que garante que esta menina não é o próximo Castro Alves'', diz, entusiasmado com as potencialidades da Internet e do computador para a produção literária das novas gerações: `Meu orgulho vai ser ouvir, daqui a 20 ou 30 anos, alguém me dizer: minha primeira poesia foi publicada no Jornal de Poesia`.
Mas quanto ao futuro do livro, Feitosa é categórico: `O jornal não é para concorrer com o livro. O livro é um prazer, ninguém pode tirá-lo; o livro você pode tocar... O Jornal de Poesia só dá a primeira informação, o impacto, desperta o interesse. Se você não gostar da tela, imprima, risque, rabisque, mas leia. O objetivo do jornal é ressuscitar certos poetas que padecem em obras com edições domésticas, de pequena circulação, que ninguém mais encontra depois de algum tempo`.
Taí outra vantagem: um edição por menor que seja não sai por menos de 4 mil reais, segundo Feitosa. ``E o que o autor ganha no lançamento, gasta no coquetel'',. De uns tempos pra cá, os escritores têm encotrado, em home-pages particulares, uma alternativa para fugir destas edições domésticas ou independentes e do mercado editorial precário no que diz repeito à poesia.
É o caso da home-page Livro Livre , coordenada por Gustavo Arruda, que oferece livros de graça. Há a home-page do Grupo Cultural Pórtico , da Bahia, destinada à divulgação de novos autores; o Jornal de Contos, organizado por Hélio Pólvora, e o jornal Blocos , editado por Leila Míccolis, que recentemente chegou à Internet, após vários anos de publicações mimeografadas e xerocadas.
Para alguns, a experiência tem dado muito certo. A home-page funciona como trampolim para edições impressas.`O que falta à poesia é divulgação, não leitores`, conclui Feitosa.