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Weydson Barros Leal


 


Fortuna crítica: Marco Lucchesi
 


Os Ritmos do Fogo, de Weydson Barros Leal




 

Weydson Barros Leal é um dos melhores poetas de minha geração. E a sua cultura é igualmente notável, como que um sopro de unidade a renovasse de modo incessante, para bem de seus leitores e de sua poesia - o Ponto ômega.

Há nele o sentido superior do poeta de águas claras e límpidas, chiare, fresche e dolci acque. Vejam o caso deste admirável Os Ritmos do Fogo, um livro de inegável saber poético, cujos versos bem urdidos e tramados, dão prova cabal da engenharia, de quem sabe o rigor dos pés e da enorme dificuldade exigida por versos brancos.

A poesia espanhola e a poesia alemã sentiram o drama e o fascínio da noite de maneira indelével. Uma das razões mais fortes parece derivar da influência neoplatônica, de Plotino ao Pseudo-Dionísio, de Proclo a Marsilio Ficino, de Escoto Eriúgena a Nicolau de Cusa, de que emerge a metafísica do inefável, a via negationis, o intangível, como podemos acompanhar na Enéada (1,6), na Teologia mística, ou, mais recentemente, no estudo de Jean-Luc Marion, L’idole et la Distance, ao abordar o Pseudo-Dionísio e a tradição meta-ôntica. E o legado desta filosofia da negação conheceu dois endereços prioritários.

De um lado, o Uno, além do Ser, que se confunde com a noite, ilimitada, impredicável, atemporal, como a poesia de Novalis, que mal consegue pronunciar a palavra secreta (Geheimnis Wort), ou de Rilke, buscando o segredo da noite (nas Elegias de Duíno).

De outro lado, a conversão do Uno plotiniano ao Deus cristão, que ainda conserva radicalmente a trama e o fulgor da teologia negativa, da qual desponta, solitária e dramática, a figura altíssima de João da Cruz (da Noche obscura, do Cantico Espiritual), ou, menos tocado pelo mistério noturno, mas ainda sofrendo o impacto da noite, que se tornou serena, a obra de Fray Luis de León, ambos, atormentadíssimos por Deus. Como que praticassem uma busca erótica de Deus.

Weydson Barros Leal não ignora o legado a que nos referimos, nem tampouco a tradição inglesa e francesa dessa noturnidade, e, principalmente a brasileira, sem a qual não se poderia pronunciar a diferença de outras e mais variadas noites.

Gosto deste livro porque sinto que o autor manteve-se firme numa tensão de ampla unidade poética, celebrando antes de mais nada a superfície da noite, o acontecimento da noite, a mecânica da noite, em suas amplas e sutis conseqüências metafísicas, que brotam espontaneamente desta alta poesia logopaica.

Eis o que nos diz Weydson Barros Leal , além da simultaneidade e da coalescência, que emergem deste livro luminoso.

 



Marco Lucchesi
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