Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

Eduardo Nascimento

eduardo.nascimento@clix.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A menina afegã, de Steve McCurry

 

Da Vinci, Cabeça de mulher, estudo

 

 

 

 

 

 

 

Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

 

 

 

 

 

Eduardo Nascimento


 

Parte da ida


As imagens lúcidas tornam-se estímulos para a partida
Percorrem todo o corpo beijando a nossa água. Percorrem
todo o nosso ciclo em ápice de luva. No veludo espesso
da ruga na solidão.

Cada um. Ou quase, tem um gémeo preso
nas teias do encontro
Ama a vida do cais. Parte em muitos barcos. E sente
música nos passageiros mudando

O sono invade a paisagem desfeita de dia
Sinto a noite e é dia
O coral assombra porque é claro. Isso não que
as cores serem ausência mesmo cores.
Trapos coloridos que não se vêm. Só o preto e branco
da instabilidade

Fulcro mecânico do cinzento jorrando o óleo - E a falta
A FALTA DO COMEÇO DO POEMA E A PARTIDA
O avanço infantil da Partida. A inconsciência hipnotizada da partida
O choro certo de alegria na Partida
A falta de adeus certíssimo na Partida

a Partida
a partida...
a Parti...
a Par..
a P...
A ... ...



do livro "Pedaços do meu Tempo"
Prémio de poesia Cidade de Ourense - Espanha

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão

 

 

 

 

 

Eduardo Nascimento


 

Onde estão os tempos


em que tudo era simples
por não ser nacessário outra coisa
senão um abrigo frágil de luar?
Onde estão os violinos dentro das gotas
As montanhas ainda sem cimento corpos e confusão?

Onde estão os amigos de infância
que olhavam o Tejo
das gaivotas e rostos sadios?

Onde estão nesta tempestade?

Quem perdeu as asas dentro da cidade?
Que espíritos são estes adormecidos em tédio,
que despem todos os dias a pele nas ruas
e trazem nos olhos a dureza
da morte adiada?

Quem bebeu a última vaga de esperança
e ficou com a apatia na fundo das veias
a ser naufrágio?

Onde estão oa animais que lambiam
as mãos das crianças?

Onde estão as aves
que viram no tempo claro
a última sensação de alegria?

Quem sabe da última folha beijada
pelo potro na planície?

Onde estão os caminhos desta cascata congelada?

Outono de maré cheia
Gravidez esquecida
de muitos silêncios num só corpo

Voo até ao infinito
desta necessidade de fuga como um raio
que nada toca pela ausência

Arvore esquecida no pântano
perto de um piano de cristal em melodia

Mundo autêntico que existe
além deste fastio de horas
sem nexo!



do livro "Pedaços do meu Tempo"
Prémio de poesia Cidade de Ourense - Espanha

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Eduardo Nascimento


 


Sobre enormes espaços de luz...


Sobre enormes espaços de luz
naufragava Neruda

Naufragava...

Sobre o vinho e o mel dos segredos
Sobre a órbita do coração do povo!




do livro "Pedaços do meu Tempo"
Prémio de poesia Cidade de Ourense - Espanha

 

 

 

 

 

24/10/2006