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Amadeu Baptista

 

kefiah@hotmail.com

Alessandro Allori, 1535-1607, Vênus e Cupido
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


 

Crítica, ensaio e comentário:


 

Fortuna:


Uma notícia do poeta: 

  • Bibliografia

  • Amadeu Batista vence Prêmio Nacional de Poesia Natércia Freire

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão

 

Culpa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

The Gates of Dawn, Herbert Draper, UK, 1863-1920

 

 

 

 

 

Amadeu Baptista

 


 

BIBLIOGRAFIA

 

Amadeu Baptista nasceu no Porto, a 6 de Maio de 1953.

É membro da Associação Portuguesa de Escritores e do Pen Clube Português.

 

Obras publicadas, poesia:

As Passagens Secretas, Coimbra, 1982

Green Man & French Horn (in A Jovem Poesia Portuguesa/2, em col.), Porto, 1985

Maçã [Prémio José Silvério de Andrade – Foz Côa Cultural, 1985], prefácio de Maria da Glória Padrão, Porto, 1986

Kefiah, prefácio de Floriano Martins, Viana do Castelo, 1988

O Sossego da Luz, posfácio de Vergílio Alberto Vieira), Porto, 1989

Desenho de Luzes (edição galaico-portuguesa), Corunha, Galiza, Espanha, 1997

Arte do Regresso (pelo primeiro capítulo deste livro, Cúmplices, recebeu o Prémio Pedro Mir, na categoria de Língua Portuguesa, promovido pela revista Plural, da Cidade do México, em 1993), Porto, 1999

As Tentações, Santarém, 1999

A Sombra Iluminada (in Douro: Um Percurso de Segredos, em col.), Peso da Régua, 2000

A Noite Ismaelita, Guimarães, 2000

A Construção de Nínive, Porto, 2001

Paixão (Prémio Vítor Matos e Sá, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2001 e Prémio Teixeira de Pascoaes, 2004), Porto, 2003

Sal Negro (in Sal Negro Sal Branco com 25 fotografias de Rosa Reis) Almada, 2003

O Som do Vermelho – tríptico poético sobre pintura de Rogério Ribeiro, prefácio de Ana Isabel Ribeiro, Porto, 2003

O Claro Interior [Prémio de Poesia e Ficção de Almada – 2000 / poesia], prefácio de Emília Ferreira, Almada, 2004

Salmo (com a reprodução de um desenho de Rogério Ribeiro), Porto, 2004

Negrume (com desenhos de Ana Biscaia), Lisboa, 2006

Antecedentes Criminais (Antologia Pessoal 1982-2007), Vila Nova de Famalicão, 2007

O Bosque Cintilante [Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama, 2007, Vila Nova de Azeitão, 2007
 

A publicar:

Estrela de Bizâncio – [Prémio de Poesia e Ficção de Almada – 2000 / prosa]

Poemas de Caravaggio – [Prémio Nacional de Poesia Natércia Freire, 2007]

Outros Domínios – [Prémio Literário Florbela Espanca, 2007]
 

Organização de antologias:

Quanta Terra!!! - Poesia e Prosa Brasileira Contemporânea, 2001;

Álbum de Acenos – Antologia de Poesia e Fotografia, 2001.

Poesia Digital – 7 poetas dos anos 80, em col. Com José-Emílio Nelson, prefácio de Luís Adriano Carlos, Porto, 2003
 

Colaboração dispersa em jornais, revistas, livros colectivos e antologias nos seguintes países: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, E.U. A., Espanha, França, Grã-Bretanha, Itália, México, Portugal, Roménia e Uruguai.

Poemas seus foram traduzidos para alemão, castelhano, catalão, francês, hebraico, italiano, inglês e romeno.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

The Gates of Dawn, Herbert Draper, UK, 1863-1920

 

 

 

 

 

Amadeu Baptista

 


 

A NOITE DE PAVESE

 

Raras vezes me franquearam a porta
e me deixaram entrar. A febre
sitia-me a alma e quem me vê
assusta-se do aspecto do meu rosto,
esta barba por fazer onde um rouxinol
se esconde. E mais ainda assusta
a minha altura, este lugar de vertigem
e palavras poderosas, a presença
de ilimitados segredos que ninguém quer conhecer,
o estremecimento que corre nos meus ombros.
Embora nada peça, sabem que sou um pedinte.
E quando entro nas casas os meus gestos
afeiçoam-se a alguma coisa enigmática
que contorna o pavor e o entrega
por não se saber que espécie de vida ou de morte
vem comigo. Obviamente, eu abençôo
quem me deixa entrar, dou a entender
que alguma coisa brilha nas minhas mãos
e posso matar a fome com uma ou outra palavra
próxima do amor, um dedo nos cabelos
de quem me recebe. Subi as escadas que vão dar a esta casa
em silêncio e em silêncio aceitei que me aguardassem
com as inefáveis sombras que vejo nos outros
e tento decifrar para meu contentamento.
Mandaram-me sentar e deram-me de beber.
Esse álcool reconfortou-me a alma.
E a minha gratidão expressa-se deste modo, limpo
e nítido, observando a mulher nesse sem fim
das coisas, onde todos os mistérios avançam
para uma explicação que a qualquer momento
pode irromper do espírito como uma explosão.
Olho-te nos olhos e recebo as duas moedas
que me ofereces, o teu rosto é-me familiar
se recuar à infância e subitamente perceber
que também pertenci ao exercício desta árvore
que nesta sala se levanta. Em frente,
na fotografia que o meu olhar alcança
porque me alcança o olhar que dela se desprende,
inscreve-se o enigma que me fez aqui chegar,
mais que um rumor ou um fio tênue
com o nome de todas as coisas inesperadas
que me aconteceram na vida, sempre
que me franquearam a porta e me deixaram entrar.
Agora, com a memória de ter estado em tua casa
e ter recebido a graça de alguma atenção,
eu, que sou pedinte embora nada peça,
entrego-te este sulco da desordem
sobre a página em branco e agradeço-te
com o conhecimento de um outro mundo
ainda mais inexplicável.
Não tendo havido despedida, sabe que permaneço
e na encruzilhada das dores que me couberam viver
não esquecerei o teu nome no dia em que também tiver partido
e mais nenhuma luz houver além daquela
que ilumina o teu rosto na solidão da noite.
Os anjos esperam-me. Não me é possível demorar.
Que me seja a alba a tua tolerância.

 

 

 

 

 

 

 

 

08.01.2008