A escritora e professora da Universidade de
Fortaleza Aíla Sampaio lança hoje "Os Fantásticos
Mistérios de Lygia", no Ideal Clube.
O fantástico é uma das marcas da literatura de Lygia
Fagundes Telles. Nele, a escritora paulistana se
envolveu sobretudo em "Mistérios", coletânea de
contos de 1981. Quinze anos depois, a então
estudante Aíla Sampaio se debruçou sobre estas
narrativas para compor "Tradição e modernidade nos
contos fantásticos de Lygia Fagundes Telles", sua
dissertação na Universidade Federal do Ceará.
Hoje professora de Língua Portuguesa e Literatura
Brasileira da Unifor, Aíla a publica em forma de
ensaio como "Os Fantásticos Mistérios de Lygia".
"Esperei o crivo do tempo. Enxuguei, tirei o ranço
do trabalho acadêmico, atualizei a ortografia, e
agora a pesquisa é socializada com todos
interessados pela obra de Lygia e pelos insondáveis
mistérios da existência. Temas como o duplo, a
ressurreição e a morte são analisados dentro do
texto literário da escritora", apresenta.
Com "Mistérios", acrescenta a pesquisadora, Lygia
mostra sua versatilidade na criação ficcional. "Ela
tanto escreve romances intimistas com propensão
psicológica como contos vazados de temas
transversais como ética, amor, cumplicidade, como
constrói ainda universos enigmáticos", aponta.
Depois, ela constata a presença de narrativas
fantásticas nas obras: "A Noite Escura e Mais Eu",
no conto "Anão de Jardim", e "Invenção e Memória",
em "A Chave na Porta", cuja construção do
fantástico, segundo Aíla, é "perfeita". A
pesquisadora cearense atribui esse fascínio pelo
fantástico, em parte, ao fato de Lygia desde pequena
se sentir "fascinada por esse universo de seres
insólitos", provavelmente estimulada pelas histórias
de Trancoso ouvidas de sua pagem na infância.
Posteriormente, as leituras de autores como E.T. A
Hoffman, Alan Poe e Machado de Assis contribuíram
para incrementar sua admiração pelo gênero, talvez
estimulada ainda pelo amizade com pelo menos uma
escritora, a amiga Hilda Hilst (1930-2004). "Meu
primeiro contato com Lygia foi com o ´Ciranda de
Pedra´, seu romance de estréia, que traz uma
abordagem psicológica dos personagens. Depois foi
que entrei em contato com as narrativas curtas, e
´Mistérios´ me chamou especial atenção. Como havia
estudado o gênero fantástico, interessou-me aplicar
sua teoria a estes contos. Foi aí que percebi que
todo fantástico é um mistério, mas nem todo mistério
é fantástico. Por exemplo, os contos ´A caçada´,
´Noturno Amarelo´, ´O Encontro´ e ´As Formigas´, de
´Mistérios´, são contos fantásticos porque
transgridem as leis da razão de forma inexplicável.
Já os contos ´Venha ver o pôr-do-sol´, ´Jardim
Selvagem´ e ´O Noivo´ apenas encenam um evento
macabro ou estranho".
Seu ensaio tem como objeto de análise os contos de
Lygia Fagundes Telles, mostrando a configuração do
gênero Fantástico nos contos da escritora e
comparando-os a narrativas de Machado de Assis,
Edgar Allan Poe, E. T. A Hoffman, Teophile Gautier,
escritores do século XIX, e ainda Julio Cortázar,
Jorge Luís Borges, Murilo Rubião e J.J. Veiga, do
século XX.
O fantástico
"Mostro que a configuração do Fantástico depende dos
procedimentos narrativos de cada autor. O
sobrenatural ou extra-natural, nos contos, em geral,
não dependem mais da aparição de fantasmas, de seres
incomuns. Uma simples máquina, um cachecol ou outros
objetos comuns podem desencadear um evento que
transponha as leis do real. O romance ´Os Verdes
Abutres da Colina´, de José Alcides Pinto, é um
romance fantástico porque ele transgride as leis
naturais de forma inexplicável", exemplifica.
LIVRO
"Os fantásticos mistérios de Lygia"
Aíla Sampaio
R$20,00
188 páginas
2009
EXPRESSÃO GRÁFICA
Lançamento hoje, 24.9.2009, às 20h, no Ideal Clube. A
abertura do evento será feita pelo poeta José Telles
e, a obra, apresentada pelo professor doutor Teoberto Landim
HENRIQUE NUNES
REPÓRTER