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Alvarenga Peixoto

1742-1792

Alessandro Allori, 1535-1607, Vênus e Cupido
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


 

 

Crítica, ensaio e comentário:

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Fortuna:


 

Uma notícia do poeta: 

Nascido no Rio de Janeiro, Inácio José de Alvarenga Peixoto estudou com os jesuítas, provavelmente em Braga, Portugal. Em 1760 ingressou na Universidade de Coimbra, onde se formou, com louvor, em 1768. Ocupou o cargo de juiz de fora da vila de Sintra e, em 1775 foi nomeado ouvidor de Rio das Mortes (MG). Em 1781, casou-se com Bárbara Heleodora, também poeta. Deixando a magistratura, ficou em Minas Gerais, ocupando-se da lavoura e da mineração. Em companhia de seu parente Tomás Antônio Gonzaga, foi implicado na Inconfidência Mineira e conduzido ao presídio da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro. Chegou a ter a sentença de morte declarada, mas sua pena foi comutada para o degredo em Angola, onde morreu, no presídio de Ambaca, em 1792. Sua obra, diminuta, foi recolhida por Rodrigues Lapa e apresenta alguns dos sonetos mais bem acabados do Arcadismo brasileiro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão

 

Culpa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

The Gates of Dawn, Herbert Draper, UK, 1863-1920

 

 

 

 

 

Alvarenga Peixoto

 


 

 

Liras

 

(A Bárbara Heleodora, sua esposa, remetidas

do cárcere da Ilha das Cobras)


 

Bárbara bela,

Do norte estrela,

Que o meu destino

Sabes guiar,

De ti ausente,

Triste, somente

As horas passo

A suspirar.

 

Por entre as penhas

De incultas brenhas,

Cansa-me a vista

De te buscar;

Porém não vejo

Mais que o desejo

Sem esperança

De te encontrar.

 

Eu bem queria

A noite e o dia

Sempre contigo

Poder passar;

Mas orgulhosa

Sorte invejosa

Desta fortuna

Me quer privar.

 

Tu, entre os braços,

Ternos abraços

Da filha amada

Podes gozar;

Priva-me a estrela

De ti e dela,

Busca dois modos

De me matar!



A Maria Ifigênia

 

Em 1786, quando completava sete anos.


 

Amada filha, é já chegado o dia,

Em que a luz da razão, qual tocha acesa,

Vem conduzir a simples natureza:

— É hoje que teu mundo principia.

 

A mão que te gerou, teus passos guia;

 Despreza ofertas de uma vã beleza,

E sacrifica as honras e a riqueza

Às santas leis do Filho de Maria.

 

Estampa na tu' alma a Caridade,

Que amar a Deus, amar aos semelhantes,

São eternos preceitos de verdade;

 

Tudo o mais são idéias delirantes;

Procura ser feliz na Eternidade,

Que o mundo são brevíssimos instantes.

 

 

A lástima


 

Na masmorra da Ilha das Cobras,

lembrando-se da família

 

 

Eu não lastimo o próximo perigo,

Nem a escura prisão estreita e forte;

Lastimo os caros filhos e a consorte,

A perda irreparável de um amigo.


A prisão não lastimo, outra vez digo,

Nem o ver iminente o duro corte;

É ventura também achar a morte

Quando a vida só serve de castigo.

 

Ah! quão depressa então acabar vira

Este sonho, este enredo, esta quimera,

Que passa por verdade e é mentira.

 

Se filhos e consorte não tivera,

E do amigo as virtudes possuíra,

Só de vida um momento não quisera.

 

 

 

Estela e Nise

 

 

Eu vi a linda Estela, e namorado

Fiz logo eterno voto de querê-la;

Mas vi depois a Nise, e é tão bela,

Que merece igualmente o meu cuidado.

 

A qual escolherei, se neste estado

 Não posso distinguir Nise d'Estela?

Se Nise vir aqui, morro por ela;

Se Estela agora vir, fico abrasado.

 

Mas, ah! que aquela me despreza amante,

Pois sabe que estou preso em outros braços,

E esta não me quer por inconstante.

 

Vem, Cupido, soltar-me destes laços,

Ou faz de dois semblantes um semblante,

Ou divide o meu peito em dois pedaços.