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Alvarenga Peixoto
Liras
(A Bárbara
Heleodora, sua esposa, remetidas
do cárcere da Ilha
das Cobras)
Bárbara bela,
Do norte estrela,
Que o meu destino
Sabes guiar,
De ti ausente,
Triste, somente
As horas passo
A suspirar.
Por entre as penhas
De incultas brenhas,
Cansa-me a vista
De te buscar;
Porém não vejo
Mais que o desejo
Sem esperança
De te encontrar.
Eu bem queria
A noite e o dia
Sempre contigo
Poder passar;
Mas orgulhosa
Sorte invejosa
Desta fortuna
Me quer privar.
Tu, entre os braços,
Ternos abraços
Da filha amada
Podes gozar;
Priva-me a estrela
De ti e dela,
Busca dois modos
De me matar!
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A Maria
Ifigênia
Em 1786, quando
completava sete anos.
Amada filha, é já chegado o dia,
Em que a luz da razão, qual tocha acesa,
Vem conduzir a simples natureza:
— É hoje que teu mundo principia.
A mão que te gerou, teus passos guia;
Despreza ofertas de uma vã beleza,
E sacrifica as honras e a riqueza
Às santas leis do Filho de Maria.
Estampa na tu' alma a Caridade,
Que amar a Deus, amar aos semelhantes,
São eternos preceitos de verdade;
Tudo o mais são idéias delirantes;
Procura ser feliz na Eternidade,
Que o mundo são brevíssimos instantes.
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A lástima
Na masmorra da Ilha das
Cobras,
lembrando-se da família
Eu não lastimo o próximo
perigo,
Nem a escura prisão
estreita e forte;
Lastimo os caros filhos e
a consorte,
A perda irreparável de um
amigo.
A prisão não lastimo, outra vez digo,
Nem o ver iminente o duro
corte;
É ventura também achar a
morte
Quando a vida só serve de
castigo.
Ah! quão depressa então
acabar vira
Este sonho, este enredo,
esta quimera,
Que passa por verdade e é
mentira.
Se filhos e consorte não
tivera,
E do amigo as virtudes
possuíra,
Só de vida um momento não
quisera.
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Estela e Nise
Eu vi a linda Estela, e namorado
Fiz logo eterno voto de querê-la;
Mas vi depois a Nise, e é tão bela,
Que merece igualmente o meu cuidado.
A qual escolherei, se neste estado
Não posso distinguir Nise d'Estela?
Se Nise vir aqui, morro por ela;
Se Estela agora vir, fico abrasado.
Mas, ah! que aquela me despreza amante,
Pois sabe que estou preso em outros
braços,
E esta não me quer por inconstante.
Vem, Cupido, soltar-me destes laços,
Ou faz de dois semblantes um semblante,
Ou divide o meu peito em
dois pedaços.
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