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Remisson Aniceto
Eram os olhos, de Soares Feitosa
Lindo! Lindo! Lindo, Soares! “[Por todo ano o ano inteiro], [Éramos bem jovens],
Separe o de-comer/Separe o de-beber”. E o que teria pra comer e pra beber, que
pudesse ser separado? Li, reli e essa meia gota d'água – esse pingo de ouro que
secou antes de cair... ou foi desviado, pra onde? Pra outro sertão ainda mais
sedento e faminto? E o cão sem vestígios no chão... As aliterações, as
alegorias, tudo na tua poesia reverbera para além do tempo e do espaço, da
imensidão espacial que ela ocupa em nossa mente. Lembrei da casa de barro,
bambu e sapé, onde nasci lá em Minas, e da lata enferrujada com a banha de
porco, a branca e endurecida banha que escondia uns poucos pedaços de carne
dura, ou de ossos sujos de carne... Isso quando ainda havia carne e ainda
havia ossos.
Parabéns, meu amigo!
Adolescíamos, de Soares Feitosa
POÉTICA me surpreende, como dizem quando nada deixamos escapar, "de cabo a rabo"
ou "de fio a pavio". Até mesmo porque após ler "Adolescíamos", creio na
impossibilidade de o leitor que tem fome e sede da palavra lapidada e servida
com a nobreza que ela merece, não continuar a pedir e a degustar todas as
outras porções do livro. Os textos de POÉTICA revelam pra muita gente um
poeta que mistura com a sutileza de um gênio a prosa com a poesia, revelando
um escritor que não só flerta com a literatura, mas que com ela nasceu casado,
vive, convive e a compreende e a respeita. Neste apanhado de textos, Soares
Feitosa diz o que sabe e sabe o que diz -- e diz como poucos saberiam dizer
sobre a arte da sedução através da poesia, da crônica, da escrita e da leitura
na sua melhor tradução. Eu devo admitir que fiquei sim bastante emocionado com
a leitura, só não fiquei mais porque já sabia da competência do autor, por tudo
que já li dele há muitos e muitos anos, no saudoso JP, jornal com aquela
característica faixa vermelha vertical no canto da página. Ah! também preciso
dizer da máquina Singer, que me reportou a uma antiga fazenda e a uma pessoa
lá nos cafundós de Minas. A fazenda já morreu, nem destroços há onde ela
ficava, mas permanece muito real, vivíssima na minha lembrança, por conta
da pessoa que, apesar das dezenas de anos passados, permanece a mesma criatura
encantadora, jovem e linda, viva e me fazendo continuar vivo. Um abraço,
Feitosa. (Face, 01.07.2023)
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