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Ary Albuquerque

Alessandro Allori, 1535-1607, Vênus e Cupido
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão

 

Culpa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Allan R. Banks (USA) - Hanna

 

 

 

 

 

 

Caio Porfírio Carneiro

 

Diário do Nordeste, Fortaleza, Ceará, Brasil

28.1.2008

 


 


Os vôos líricos de Ary Albuquerque
 

Ary Albuquerque é um poeta de permanentes surpresas. Via-se bem isto em “Tríade Poética”, seu livro anterior. E assim se mantém em “Momentos Divididos” (Topbooks, Editora, Rio, 2007). Ambos definem a linha estética do autor, que vai dos seus sentimentos íntimos à visão do mundo que o cerca, embora em “Momentos Divididos” isto se amplie e melhor se universalize.

As surpresas não se exsurgem de achados poéticos inesperados. Ao revés, vêm a relevo através de aparentes disfarces do seu como dizer poético. Ou seja: os poemas, quase sempre curtos, e as crônicas poéticas, também sucintas, trazem ao vivo uma enganosa despretensão que se transmuda em poesia da melhor qualidade no corpo inteiro de cada poema.

Eis porque, à primeira vista (sempre a aparência), as criações tomam a linha do descritivo, tal como na prosa, em versos de levitação coloquial, com ressonância poética pulsante e subjacente, quase diríamos submersa, que surpreende o leitor. É um poeta de lirismo ameno, suave, ricamente impressionista, e transfere, muitas vezes, as visões e sentimentos poéticos para o campo filosófico. Essa filosofia que amplia as inquietações interiores e pinta, com nitidez, o mundo exterior.

Fazer citações que, embora palidamente, comprovem isto, seria apenas eleição pessoal, visto que toda a sua poesia traz em si este tom e este tônus que lhe dão uma particularíssima leveza, de uma envolvência inconsútil. Vão apenas lapsos de amostragens, que sinalizam o que antes ficou dito: “O tempo é o tempo/e triste vejo/a hora esconder-se no infinito” in “Vida”. Ou: “Praia deserta./Mar revolto./Alma contrita”, in “Marinas”. O mar está muito presente na sua poesia, embora ela seja diversificada e andeja, que o poeta vale-se dela, ou a ela se volta, nas suas várias viagens.

O toque descritivo marca nitidamente a linha de solidão do poeta. Não a solidão banal dos solitários. A outra, ilocalizável, presente na paisagem espiritual, em unção com a natureza. E prevalece outro ponto curioso e notável: o poeta se põe quase sempre, para além da transfiguração poética, de observador e contra-espelho do que sente e do que mostra.

Vê-se, ainda, que Ary Albuquerque guarda alguns timbres, não em ritmo ou rimas, mas em certos andamentos dos poemas, da eterna aura parnasiana, que lhe qualificam ainda mais as criações.

Os seus vôos são bem da escala dos meios-tons, que nobilitam os bons autores da arte poética. Cria ele, através dos poemas e prosas poéticas, uma empatia imediata com o leitor, porque é liberto de metáforas enganosas, humano e essencial. Tal como afirma em “Destino”: “Não sou posteridade/nem epitáfio./Serei saudade e eternidade/no amanhã distante”.

 

CAIO PORFÍRIO CARNEIRO
Escritor e crítico literário