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Benedicto Ferri de Barros 

São José do Barreiro, SP, 09/09/1920 - São Paulo, SP, 12/09/2008

Da Vinci, La Scapigliata, detail

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia :


Ensaio, resenha, crítica & comentário:


Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

 

 

 

John William Godward (British, 1861-1922),  A Classical Beauty

 

 

 

 

 

 

Thomas Colle,  The Return, 1837

Benedicto Ferri de Barros



Biografia:

 

Nascido em São José do Barreiro (SP), bacharel e licenciado pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP) em Ciências Sociais, com estágios de especialização em finanças e mercado de capitais em várias instituições norte-americanas, o escritor era membro da Academia Internacional de Direito e Economia.

Na imprensa, manteve coluna semanal no jornal O Estado de São Paulo e no Jornal da Tarde e compareceu em seus suplementos literários por mais de 50 anos, publicando mais de 1,5 mil trabalhos relacionados à Literatura, Antropologia, Sociologia, Economia e Política.

Barros também se especializou em história e cultura japonesa e, em virtude de publicações nessa área, foi correspondente cultural para o Brasil da The Japan Foundation, em 1987, expositor no Simpósio sobre "Tradução e Edição de Obras Japonesas no Brasil", São Paulo (1989) e integrante de outros simpósios sobre cultura japonesa. Assim, recebeu, em 1988, um Prêmio de Jornalismo concedido pela Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e visitou o Japão a convite do governo do país.

O jornalista foi, ainda, fundador da revista Essência, que publicava poesias, com Geraldo Vidigal, Betty Vidigal, Nogueira Moutinho e Eros Roberto Grau (1983). Além disso, possui 15 obras inéditas de histórias infantis, poesia, contos, novelas, ensaios de antropologia, política e economia.


 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Morte de César, detalhe

Benedicto Ferri de Barros



Dedicatória
 

 

Leões passeiam sua juba imponente
à frente de teu esquálido esqueleto.
És um pedinte que tem fome,
sarnento fraldiqueiro, um cão sem nome?
Serás um homem? Um caniço pensante?
Um bípede sem penas, ou um rinoceronte apenas?
Sofres de angústia existencial ou medo, simplesmente?
És um obreiro do transcendental
ou só um inocente?
 

 

Culpa

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Nei Duclós

 

 

 

 

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Antigona,detail

Benedicto Ferri de Barros


 

Provação

 


Já não tens pai, patrão, nem rei, herói, guru ou deus.
Ninguém de fora ou dentro que te dê certeza
e te ordene ou diga o que fazer.
Perdeste o útero materno, o lar, a taba, a igreja
e a nação, urbi et orbe, no universo,
não há lugar em que te possas abrigar - ou esconder.


Nem uma corda ou prancha, cabide ou salva-vidas
resta: nenhuma fé, rumo, ou cruzada
a que te possas agarrar para sobreviver.
Solto no espaço, rolando pelo tempo
é esta agora a humana condição:
és livre e só, sem opção.


Então, não tens escolha:
tens de encontrar teu próprio jeito de viver ou encontrar
a corda e o poste a que te possas suspender.
 

 

Um esboço de Da Vinci

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Luiz Bello

 

 

 

 

 

John William Godward (British, 1861-1922), Belleza Pompeiana, detail

Benedicto Ferri de Barros



Em louvor de Geia
 

 

O amor é um paradigma.
Nossa cabana, a Terra.


Lá fora no infinito
o Céu está povoado de demônios e dragões;
faminta, a Entropia, velha Górgone, caça
e ejeta como gelo cada pingo de calor;
na treva universal, Buracos Negros
pastam estrelas aumentando a escuridão;
o Caos transforma os astros em poeira
que de sujeira contamina o espaço;
na fuga das galáxias que se esgarçam
o Vácuo amplia indefinidamente a solidão;
corpos celestes em órbitas erráticas
como projéteis lançam confusão...
Trevas e frio, silêncio e solidão
          progridem entre escombros e destroços
      da guerra cósmica sem tréguas:
   o verdadeiro Inferno encontra-se nos Céus.
 


         O amor é o paradigma.
Nossa cabana, a Terra.
         Aqui se faz a Criação.
 

 

Mary Wollstonecraft, by John Opie, 1797

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Erorci Santana

 

 

 

 

 

Titian, Three Ages

Benedicto Ferri de Barros



Carta a Gerontion

 

 
—Veja bem: agora já não há tempo
de você se aborrecer. Outrora
ignoravas que cada dia ou hora
podia terminar ou não acontecer.
Não por viveres na eternidade
mas na fugacidade mesma de teu ser.
Ignoravas como as algas teus limites
e como os fractais, as formas fixas.
Como partícula de vida desferida
no caos do universo, não tinhas coordenadas
nem história, tempo ou conteúdo.
Pura energia, ignoravas tudo.


Entraste em expansão após o big-bang do teu nascimento
e assimilando luz violavas sem saber a entropia.
Foste o cantor de um hino à alegria
o construtor da ilha da utopia,
a Civitas Humana onde a felicidade se renovava a cada dia
ignorando a morte, a sorte, toda a coorte da anarquia universal.
Até que um dia, como Atlas, te deste conta do reverso:
que carregavas nos teus ombros o universo
que construías às custas de teu ser.
Que transformando a luz em carne e ossos
e a carne e os ossos em sonhos fractais
ingressaras no tempo, na história, no destino
dos que se tornam devedores da usura da entropia
que cobra sonhos ao preço de destroços.
Já não és moço mais entre os mortais.


- Vê bem: já não tens tempo mais
de te aborreceres. Dobraste teu destino ao teu querer:
de luz apenas construíste um homem.
E essa luz que te alimenta e te consome
o bom, o belo e o verdadeiro
muito além de estrelas que cintilam e se extinguem
cria o Kosmos, que jamais termina. Jamais.
 

 

John William Godward (British, 1861-1922), Belleza Pompeiana

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J. Romero Antonialli

 

 

 

 

 

Jean L�on G�r�me (French, 1824-1904), The Picador

Benedicto Ferri de Barros



Palimpsesto baseado em Maria
(Fragmentos de portulano para o terceiro milênio.)
 

 

Redigo o que
de mil maneiras já foi dito.
Raspada a crosta e o limo do macróbio
encontra-se o infante que sorria,
a cria, o criador e o incriado.
A aurora se repete a cada dia.


I


Dela, Maria, parti.
Não era nosso lar então
mais que uma cabana
na boca do sertão mégalo-metropolitano.
À porta nossos filhos dançavam de alegria
pela franquia que ganhavam do complexo edipiano.
Alguns usavam tangas e outros batucavam num piano
anti-diluviano a algaravia de um rock americano.


De anos-luz medidos em parsecs de distância
pelo meu rádio-portátil celular
me vinham de outra kalpa seus vagidos.
(ou seriam gemidos de um orgasmo?)
Ocultos no oceano Internético
hackers frenéticos arrasavam com ruídos
os meus ouvidos meramente humanos
obstruídos por coisas sem sentido.


II


O patrimônio cresceu no anonimato.
Perdeu-se o nome do inventor da roda
de quem fundiu o ferro e do primeiro tecelão.
Trocaram-se por mitos a marca do artesão.
Que importa o autor de dons se são gratuitos?
Onde andará o hausto do primeiro artista
que inoculou sua alma no caniço
e a transformou em música perpétua?
Que benefício acresce o nome à secreta alegria
do poeta que para a eternidade
gravou as renas nas paredes das cavernas?
A que ou quem, proveita a fama de modernidade?


III


Não vejo o chão juncado de cadáveres.
Todo o estrume dos homens que viveram
e o adubo dos homens que morreram
viraram húmus. E o sangue e os esqueletos
inumados, mesclados à luz tratada pelas plantas
pelas aletas de borboletas circulados
a Terra fecundaram. Criaram a seiva
do edênico jardim em que habitamos.
- Inda duvida? Toma uma rosa entre tuas mãos e olha.


IV

Que Éden do passado subsiste
que oblitere a memória da fome, da miséria
do fratricídio a que chamou-se glória?
O Éden é simplesmente o amuleto, o farnel,
o passaporte da mente na árdua caminhada pela história
que leva o peregrino do presente ao porto de chegada.


V


A enxurrada de utopias levou todos os ídolos
cuspidos em agonias como escarro.
Passou um novo dia.
Reconciliadas a cultura e a zoologia
primevas criaturas, animais e plantas
agora vivem do acalanto humano.
Deixou de ser perpétua a morte, o exílio, o esquecimento
guardados indeléveis na memória humana.


VI


Nel mezzo del camin ... - chegando quase ao fim
da caminhada, assobiando pela escura selva
da tragédia humana me deparou a eterna sombra
iluminada que estranhamente seguia sempre à nossa frente na jornada.
E quando a interpelei, chamando-a de
- Mestre,
me respondeu:
Eu sou o teu espelho, simplesmente o Homem,
primo do macaco, parido por mulher e destinado à morte,
alvo da sorte e sem nenhum poder divino ou sobrenatural
exceto distinguir o bem do mal, o certo do errado,
o belo e o feio - e assim criar - a deus ou a mim mesmo.
Surpreso me atrevi a interpelá-la novamente:
- Serás um novo deus?
- Não, respondeu, o demiurgo apenas de teu eu - o Homem,
a quem chamaste alguma vez de Prometeu
ora de Orfeu, candeia humílima, que apenas ilumina ao se queimar.


VI


E ao me ver contrito e assoberbado pela missão
de ter de iluminar o mundo com tão escassa luz,
me advertiu: - Não sou um novo mito, sequer um evangelho.
Não necessito de apóstolos nem discípulos, meu velho.
Não há missão. Sequer obrigação. A árvore reside na semente
e a semente ignora o tempo: após milênios pode germinar.
Cada mente só dá o que puder e, como a mulher,
supera a pena e os trabalhos de parir pela alegria de criar.


VII


É necessário dar o derradeiro salto
chegar à derradeira negação
reconhecer o caos e aceitar o acaso
a fim de continuar-se a construção
que dê abrigo e sentido
ao que não tem.
Nenhum.


VIII


Do argonauta navegante ao aeronauta, o astronauta e o internauta
passou um só instante.
amor levanta um monumento que se alteia
além de toda onipotência.
Por alquimia se funda o reino unido
do bom, do belo e o verdadeiro.
No universo atroz, glacial, vazio e sem sentido
vai-se criando o canto da poesia:
imortalize a transiente rosa em tuas mãos:
diz simplesmente - é bela a rosa


9 de Setembro de 1998.
 

 

William Blake (British, 1757-1827), The Ancient of Days

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Ricardo Alfaya

 

 

 

 

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