Elizabeth Lorenzotti
Santa Tereza
Tareja nada esconde que não se veja
Às três da tarde de terça
um homem toca saxofone na porta do bar
ao lado de outro que conserta inutilidade.
E outros homens bebem
o buraco aumenta cada vez mais.
Líricas de dia de Cosme e Damião
já se desenrolaram sexta: doces, algaravia, meninos.
E neste sábado, o que seus olhos procuram?
Escapar da dor? Eu me rio, meu caro vizinho.
(e a saparia em coro noturno a gargalhar)
Algo aqui prende as solas das sandálias
ao chão de pedras, aos mesmos caminhos
diariamente. Vão e voltam e tornam a voltar
Em clima de suave compadrio
Os repetidos rituais cotidianos:
os dedos tapam ouvidos quando relincha o bonde
o cego abre caminho à força da bengala branca
o grande e velhíssimo caderno marca Deve e Haver
O homem que me despe com os olhos neste domingo é uma mulher
ao lado de outra e de um cão cinzento. Senhor, essa estranehza
deixa passar
Que somos todos infinitamente estranhos, tal disse Orides
Essa fumaça de tantos cigarros e a garganta a arder, a arder, a
arder/
As Musas me visitam de madrugada
enquanto escrevo a letra de "You do something to me"
you do something to me
something that simply mistifies me
tell me what should it be
you have the power to hipnotize me
let me live with your spell
do do that voodoo that you do so well
for you do something to me
that nobody else can do
that nobody else can do
Eldorado de São Paulo
Imediatamente, como fosse eu a DJ, uma voz feminina canta para mim a
música no rádio
Lembro de escaravelhos e do velho mestre, não por acaso
Não arde o sol costumeiro, ainda é primavera
ainda é Rio de Janeiro, ainda somos
Evoé!
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