A
poesia de Soares Feitosa
Infelizmente, não sou crítico
literário nem tenho pretensão de criticar o ensaio Os Poemas da
Besta. Digo apenas o que senti. Vi um novo Apocalipse dentro de um
escrínio de ouro. Li e me embriaguei de beleza e de verdade.
Maravilha o simbolismo entre o estábulo do Menino-Deus e as
maternidades que fizeram holocaustos de criancinhas ao
Anti-Cristo, já nascido, acho eu, e andando por aí. Não há
mais tempo, mesmo!
Thiago:
conheci Thiago quando, ainda jovens, trabalhávamos no gabinete do
cearense Parsifal Barroso, Ministro do Trabalho, de então. O
Secretário do Ministro era o meu colega de Seminário, Hesídio
Facó, o mesmo Hesíodo de quem falo em O dia da Ira, e
homenageio, em memória, em Gogó de Sola. Voltemos ao Thiago.
Quando anos depois, em perigrinação, passei pelo ninho antigo,
procurei Thiago. "Fugiu para o coração da mata, para
produzir poesia"— foi o que me contaram. Barreirinha é um
nome que sempre andou de bubuia na minha lembrança. Foi onde tia
Belinha viveu com o marido dela, Farias, ainda na minha infância.
Fazendo o quê? Francamente, não sei. O nome entra, em curta
referência, no romance que estou escrevendo e será, salvo melhor
escolha, Covão dos Sonhos.
De
novo, os grandes Poemetos. O conteúdo de Thiago, que você me
assinalou ao telefone, e lhe sou gratíssimo, mastiguei suave e
gostosamente. E ainda volto a ele com o mesmo apetite. Afinidade,
o cheiro da terra, eis a questão. Antes, contei-lhe os
constrastes vividos no nosso Siarah, para bem destacar o sabor
encontrado ao ler Thiago. Meus olhos se assombraram quando
li:
"Comuns
de nós
a
ancestralidade das águas desejadas,
minhas,
escassas,
sofridas, minh’águas;
enquanto
as tuas, Thiago,
são
as águas dos silêncios,
talvez
reparações de alguma
reforma
inconclusa
do
dilúvio primevo".
Daí
pra frente, Feitosa, foi aquele banho de cascata, como o que
tomou, num verdadeiro Eden, o seminarista de O Dia da Ira. Quando
cantas:
"...que
as águas dos teus rios, maiores que sejam,
jamais
encharcariam estas terras secas,
terras
que foram feitas para se irrigarem
—
tão somente quando daqui fugimos —
...
nos
olhos
das
que
ficaram.
Lembrei-me
da mulher e dos filhos do João (Gogó de Sola), deixados por ele
no sertão. E me emocionei profundamente. Para depois rir comigo
mesmo dos "gritos plangentes dos macacos-pregos". Sabe
por quê? Parecei doideira, mas não é. Veja bem: eu criança no
castanhal da Tia Joana, impressionado com os gritos dos macacos,
perguntei ao caboclo Cecílio o porquê.
E
ele: — Os macacos quebram os ouriços de castanha, enganchados
no galho da árvore. Vez em quando acertam no preguinho deles.
Para concluir, conterrâneo Feitosa, até na "vastidão terçã",
fugindo e voltando, como aqueles pés que emigram e povoam (Demócrito
Rocha) encontrei paralelos sinais dos meus personagens in Gogó de
Sola. A febre terçã maligna da borracha, no Desengano, onde você
também, Feitosa, deve ter peregrinado agora.