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Luiz Cláudio de Castro

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Sophie Anderson, Portrait Of Young Girl

 

Da Vinci, Cabeça de mulher, estudo

 

 

 

 

 

Luiz Cláudio de Castro


A poesia de Soares Feitosa

Infelizmente, não sou crítico literário nem tenho pretensão de criticar o ensaio Os Poemas da Besta. Digo apenas o que senti. Vi um novo Apocalipse dentro de um escrínio de ouro. Li e me embriaguei de beleza e de verdade. Maravilha o simbolismo entre o estábulo do Menino-Deus e as maternidades que fizeram holocaustos de criancinhas ao Anti-Cristo, já nascido, acho eu, e andando por aí. Não há mais tempo, mesmo!

Thiago: conheci Thiago quando, ainda jovens, trabalhávamos no gabinete do cearense Parsifal Barroso, Ministro do Trabalho, de então. O Secretário do Ministro era o meu colega de Seminário, Hesídio Facó, o mesmo Hesíodo de quem falo em O dia da Ira,  e homenageio, em memória, em Gogó de Sola. Voltemos ao Thiago. Quando anos depois, em perigrinação, passei pelo ninho antigo, procurei Thiago. "Fugiu para o coração da mata, para produzir poesia"— foi o que me contaram. Barreirinha é um nome que sempre andou de bubuia na minha lembrança. Foi onde tia Belinha viveu com o marido dela, Farias, ainda na minha infância. Fazendo o quê? Francamente, não sei. O nome entra, em curta referência, no romance que estou escrevendo e será, salvo melhor escolha, Covão dos Sonhos.

De novo, os grandes Poemetos. O conteúdo de Thiago, que você me assinalou ao telefone, e lhe sou gratíssimo, mastiguei suave e gostosamente. E ainda volto a ele com o mesmo apetite. Afinidade, o cheiro da terra, eis a questão. Antes, contei-lhe os constrastes vividos no nosso Siarah, para bem destacar o sabor encontrado ao ler Thiago. Meus olhos se assombraram quando li:
 

"Comuns de nós

a ancestralidade das águas desejadas,

minhas,

escassas, sofridas, minh’águas;

enquanto as tuas, Thiago,

são as águas dos silêncios,

talvez reparações de alguma

reforma inconclusa

do dilúvio primevo".

 

Daí pra frente, Feitosa, foi aquele banho de cascata, como o que tomou, num verdadeiro Eden, o seminarista de O Dia da Ira. Quando cantas:
 

"...que as águas dos teus rios, maiores que sejam,

jamais encharcariam estas terras secas,

terras que foram feitas para se irrigarem 

— tão somente quando daqui fugimos —

...

nos

olhos 

das que 

ficaram.

 

Lembrei-me da mulher e dos filhos do João (Gogó de Sola), deixados por ele no sertão. E me emocionei profundamente. Para depois rir comigo mesmo dos "gritos plangentes dos macacos-pregos". Sabe por quê? Parecei doideira, mas não é. Veja bem: eu criança no castanhal da Tia Joana, impressionado com os gritos dos macacos, perguntei ao caboclo Cecílio o porquê. 

E ele: — Os macacos quebram os ouriços de castanha, enganchados no galho da árvore. Vez em quando acertam no preguinho deles.
Para concluir, conterrâneo Feitosa, até na "vastidão terçã", fugindo e voltando, como aqueles pés que emigram e povoam (Demócrito Rocha) encontrei paralelos sinais dos meus personagens in Gogó de Sola. A febre terçã maligna da borracha, no Desengano, onde você também, Feitosa, deve ter peregrinado agora.

 

 

 

 

 

 

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