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Murilo Araújo 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Morte de César, detalhe

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia :


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William Blake (British, 1757-1827), Christ in the Sepulchre, Guarded by Angels

 

William Blake (British, 1757-1827), The Ancient of Days

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova, detail

Murilo Araújo


 

Toada do negro do banzo


Negro —
quando cava, quando cansa,
quando pula, quando tomba,
quando grita, quando dança,
quando brinca, quando zomba
sente gana de chorá...


Negro —
quando nasce, quando cresce,
quando luta, quando corre,
quando sobe, quando desce,
quando véve, quando morre
negro pena sem pará...


Negro, aponta o ponto —
ai Umbanda!
ginga tonto, tonto —
ai Umbanda!
Negro aponta: Oôu!


Negra nua, nua —
ai Umbanda!
toma a bença à lua —
ai Umbanda!
samba nua... Oôu!


Xangô!
Meu céu s'ecureceu.
Exú me despachou...
Calunga me prendeu...


Xangô! Xangô! Xangô!
Meu rancho se acabou...
Meu reino — mar levou...
Meu bem morêu... morreu.


Negro —
negro chora, negro samba
na macumba do quilombo,
com malafo pra moamba
dando bumba no ribombo!
do urucungo e do ganzá!


Negro —
cae no congo, cae no congo,
dos mirongas ao muganga,
todo o bando nesse jongo...
roda, negro — roda a tanga
chora banzo no gongá.


Negro aponta o ponto —
ai Umbanda!
ginga tonto, tonto —
ai Umbanda!
Negro aponta: Oôu!


Se Xangô chegasse...
ai Umbanda!
E me carregasse —
ai Umbanda!
Coisa boa... Oôu!
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova, detail

Murilo Araújo


 

Canção da lua que lava

 

Canzone della luna lavandaia

Lua, que lavas teus linhos,
sempre a lavar
numa lixívia de nuvens,
branca, branquinha de espuma,
e escorres tudo lá no alto
para secar;


lua que lavas teus linhos
pelos valados maninhos,
na serra onde vai nevar;


oh lua alagando o mundo
nesta espuma de cegar!


lua que lavas teus linhos
e que os enxáguas
e os pões em qualquer lugar —
nos terraços lageados,
nos velhos muros caiados,
nos laranjais do pomar
ou nos campos orvalhados
onde estão a gotejar —


lua que lavas teus linhos
até nas praias do mar —


vem, lua, e lava minha alma!


Oh lava minha alma em lágrimas,
para que Deus, sol das almas,
venha a enxugar.

 

O luna che fai il bucato,
luna, luna lavandaia
in una schiuma di nuvole
candida come liscivia
e stendi i panni là in cima
a candeggiare...


O luna che fai il bucato
pei fòssi incolti, pei monti
su cui sta per nevicare...


Luna che schizzi sul mondo
saponata da accecare...


O luna che fai il bucato
e lo risciacqui,
lo sciorini dappertutto,
su terrazzi lastricati,
vecchi muri intonacati,
aranceti, campi intrisi
di rugiada, a gocciolare...


O luna che fai il bucato
sin sulle spiagge del mare...


Luna, lava la mia anima!


Vieni, lavala di lagrime,
perchè Dio, sole dell'anime,
poi la venga ad asciugare.
 
Tradução Anton Angelo Chiocchio  
   

 

Tiziano, Mulher ao espelho

 

 

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Herodias by Paul Delaroche (French, 1797 - 1856)