Nos últimos anos, o poeta
Maurício de Macedo decidiu
romper com a tradição dos
barulhentos coquetéis de
lançamento. Seu ritual agora
é silencioso e simples:
depois do livro pronto,
envia exemplares para amigos
e escritores como Ferreira
Gullar e Affonso Romano de
Sant´Ana. Gente que ele tem
certeza que irá ler os
versos saídos da sua mente
compulsiva pelo ato de
fabricar poesia.
É como se não conseguisse
respirar direito sem o
contato diário e direto com
as palavras e suas infinitas
possibilidades de criação.
Uma espécie de dispnéia
crônica. E “Dispnéia” é
justamente o título do seu
18º livro de poesia, que já
está pronto. A estréia
oficial foi em 1996, com
“Cinzel da Língua”. É uma
média de quase duas
publicações por ano.
“A poesia esteve presente ou
foi responsável por todos os
momentos dialéticos da minha
vida. É uma questão de
sobrevivência, eu escrevo
para continuar vivendo”,
confessa Maurício, enquanto
dá uma pausa na leitura da
biografia do poeta
norte-americano Walt Whitman
(1819 – 1892).
Até pouco tempo atrás, essa
intensa produção vinha
somente da história (Escorial
do Açúcar) e da cultura
popular de Alagoas (As
Aventuras da Negra Fulô).
Mas, com “Fragmento”,
publicado esse ano, a poesia
de Maurício de Macedo fica
mais intimista,
autobiográfica. Em
“Dispnéia” esse movimento se
aprofunda e externa a
infância, os dramas
familiares e existenciais do
poeta.
“O autor não consegue fugir
dele mesmo já que o tempo da
poesia não é histórico. A
memória é autônoma e dita os
temas, quase sempre
dolorosos. Mas a dor é mola
da arte, e o artista não
pode escapar dessa sina”.
Dinheiro e crítica
Único financiador dos
próprios livros, o médico de
profissão diz que é movido
pela certeza do leitor
anônimo. Não lhe traz
incômodo não ter ganho
nenhum dinheiro com sua
poesia. “O essencial é tirar
as palavras da gaveta e
deixá-las ao alcance de quem
quiser”.
Também não está interessado
no que dizem dos seus livros
no blindado circuito
acadêmico. Ele garante que
não quer competir, ser
aceito ou ter qualquer outro
reconhecimento se não dos
leitores.
Para Maurício, a crítica
isenta e sóbria há muito
deixou de ser praticada
pelos mestres e doutores da
Universidade Federal de
Alagoas. “Existe, na
verdade, um provincianismo
maldoso com poder
inquisitório no qual impera
a cumplicidade da mentira.
Eles elegem algumas
celebridades e começam a
delirar ao redor delas. Não
quero me tornar refém desse
jogo”.
E sentencia o próprio
destino: “Prefiro ficar
quieto no meu canto, lendo,
escrevendo, escrevendo e
lendo…”